Foto: Divulgação / Disney

Desde o apogeu de “Vingadores: Ultimato”, que faturou US$ 2,7 bilhões (R$ 13,28 bilhões*) nos cinemas em 2019, a bilheteria da Marvel Studios vem diminuindo.

O estúdio divide suas produções em segmentos, chamados de fases. A última, a quarta, fechou em 2022 com um faturamento médio de US$ 888,50 milhões (R$ 4,37 bilhões) por lançamento, uma redução de 28% em relação à Fase 3 (que ocorreu entre 2016 e 2019).

O número não leva em conta “Viúva Negra”, que estreou simultaneamente no Disney+, ainda que a pandemia tenha afetado os outros resultados.

Já a Fase 5, iniciada neste ano, abriu com “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” com uma receita de apenas US$ 475,30 milhões (R$ 2,33 bilhões), uma queda de 30% quando comparado com o longa-metragem anterior desses mesmos heróis.

Com um orçamento estimado de US$ 200 milhões (R$ 984 milhões), dentro da média do estúdio, a produção deu do casal de heróis prejuízo na tela grande. De acordo com uma estimativa desta coluna, a arrecadação teria que ser algo a partir dos US$ 600 milhões (R$ 2,95 bilhões) para cobrir seus custos, incluindo publicidade.

O dado não conta a posterior exploração no Disney+, canais de TV, atrações de parques, produtos licenciados e muitos mais. Também não considera eventuais despesas com residuais e participações (quando empresas e indivíduos, incluindo atores e atrizes, têm uma participação em parte da receita).

O mesmo vem se repetindo na aceitação do público e da crítica. Se antes a aprovação média no Rotten Tomatoes, site que compila as opiniões da imprensa, ficava sempre na casa dos 80% (com o ápice de 88,2% na terceira fase), caiu para 78,8% na Fase 3 e 64,5% na Fase 4.

O CinemaScore, que reflete a opinião dos fãs que compareceram na estreia, também representa um tombo parecido. Essa aceitação impacta no boca a boca e na boa vontade dos espectadores – o que, por sua vez, influencia na bilheteria.

Despedida amarga

“Guardiões da Galáxia Vol. 3”, que estreou nos cinemas no último fim de semana, continua com essa trajetória.

De acordo com The Hollywood Reporter, o novo longa alcançou nos EUA uma arrecadação de US$ 114 milhões (R$ 560,59 milhões) em seu primeiro fim de semana – menor do que as projeções iniciais, de US$ 130 milhões (R$ 639,27 milhões). O número, ainda que não seja desprezível nestes tempos de fim de pandemia, é menor que os US$ 146,20 milhões (R$ 718,93 milhões) que “Guardiões da Galáxia Vol. 2” alcançou em 2017.

Mesmo que esteja longe de ser um fracasso, o resultado é frustrante para a despedida de personagens queridos pelo público.

Mesmo “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, que teve uma recepção mais morna dos fãs e da crítica, faturou US$ 187 milhões (R$ 919,57 milhões) em seus primeiros dias, de acordo com Box Office Mojo. As estreias foram exatamente na mesma época, ainda que em anos diferentes.

Azar no faturamento, mas sorte na crítica? Nem tanto: “Guardiões da Galáxia Vol. 3” está com 82% de aprovação no Rotten Tomatoes – ainda que seja boa, é a pior marca da trilogia. O mesmo acontece no Metacritic, com uma pontuação de 65.

Novo prejuízo para a Disney?

O novo “Guardiões da Galáxia” não deve ficar no vermelho. Com orçamento de US$ 250 milhões (R$ 1,22 bilhão), de acordo com o site The Numbers, o longa precisará faturar algo entre US$ 750 a 825 milhões (entre R$ 3,68 bilhões e R$ 4,05 bilhões) para “empatar” seus custos.

Com US$ 400,3 milhões (R$ 1,96 bilhão) já em caixa, considerando a receita em todo o mundo (incluindo o Brasil) até o fechamento deste texto, o volume 3 deve bater a marca – ainda que por pouco. Porém, a queda e outras questões trazem dúvidas sobre a continuidade do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, da sigla em inglês) – ao menos da forma como conhecemos hoje.

O fato é que o grande trunfo, que é a cronologia interligada e coesa, pode ter virado um peso.

Hoje, para se aproveitar de forma completa uma nova história da Casa das Ideias, se faz necessário ter assistido a 32 filmes, isso sem falar das séries – as mais recentes, do Disney+, impactam diretamente no que vemos nos longas.

Um exemplo é “As Marvels”, que chega à tela grande em novembro e trará o encontro de três heroínas: Capitã Marvel, vista no filme homônimo e nos dois últimos “Os Vingadores”; Kamala Khan, a Miss Marvel do streaming; e Monica Rambeau, que surgiu em outra série, “WandaVision”.

Isso pode estar diminuindo o apelo desse universo para o público em geral, que vai aos cinemas eventualmente, mantendo o MCU apenas como o interesse de um nicho.

É habitualmente a plateia mais aberta que constrói um sucesso bilionário e justifica um orçamento enorme – ainda que, no caso da Marvel, esse nicho que sobra é grande e com apetite ao consumo.

Fica agora o impasse: abrir mão da linha do tempo interligada para ampliar as bilheterias, ou diminuir o dinheiro gasto para se adaptar à menor audiência?

Mudanças e crises nos bastidores

Com “Guardiões da Galáxia Vol. 3”, o diretor James Gunn se despede da Marvel Studios. Ele, que tornou personagens pouco conhecidos em um fenômeno global, assumiu o cargo de co-CEO da concorrente DC Studios – de Superman, Batman, Mulher-Maravilha e companhia.

O mesmo acontece com boa parte dos personagens do filme, que foram as importantes bandeiras do sucesso da Marvel nos cinemas antes do apogeu em “Vingadores: Ultimato”. O único garantido em futuras produções, por enquanto, é o Senhor das Estrelas de Chris Pratt.

Há outras preocupações. Victoria Alonso, que era o braço direito do presidente do estúdio, Kevin Feige, foi demitida pela Disney. Oficialmente foi por conta do envolvimento dela no longa-metragem “Argentina, 1985” – o que seria vedado por contrato. Mas há mais do que isso.

Victoria chefiava a área de pós-produção, setor que vem sendo bastante criticado pela forma que lida com os prestadores de serviço responsáveis pela computação gráfica. Os fãs também andam insatisfeitos, apontando que os efeitos especiais estão ruins.

Outra dor de cabeça é Jonathan Majors. O ator foi escalado como Kang, o grande vilão da chamada “Saga do Multiverso” (que compreende as Fases 4, 5 e 6). O personagem já foi utilizado na série “Loki” e no filme “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, em um arco que culminará em 2025 e 2026 com “Avengers: Kang Dynasty” e “Avengers: Secret Wars” (ainda sem títulos em português).

Em março, Majors foi preso após ser acusado de agressão doméstica – o que desencadeou o surgimento de outras denúncias contra o ator. Por consequência, a agência responsável pela carreira do astro cancelou o contrato, assim como a empresa que cuida de suas relações públicas.

Tanto a Marvel quanto a Disney ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o assunto ou sobre o futuro do seu grande vilão. Devem estar esperando o remédio para a enxaqueca fazer efeito.

*Com informações de Uol