Wally Salomão transitou pela música e literatura com uma poesia inquieta que marcou a história da cultura brasileira

Em plena década de 1970, durante a ditadura militar no Brasil, a poesia marginal deu voz a artistas inquietos e contestadores em folhetos simples, mimeografados. Entre tantos nomes revelados pelo movimento, passando por Ana Cristina César, Torquato Neto e Paulo Leminski, um baiano parecia encarnar melhor a estética rebelde. Seu nome era Waly Salomão.

Nascido em Jequié, na Bahia, em 1943, Waly Dias Salomão foi poeta, diretor artístico e famoso letrista da canção popular. Atuou na gestão pública, como presidente da Fundação Gregório de Matos, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), responsável pelo desenvolvimento de políticas culturais na cidade de Salvador (BA). Foi ainda coordenador do Carnaval da capital baiana e secretário nacional do Livro e Leitura no ministério da Cultura a convite do amigo e então ministro Gilberto Gil. Uma de suas propostas na secretaria era incluir um livro, mensalmente, na cesta básica do brasileiro.

São deles os versos, por exemplo, da canção “Vapor Barato”, sucesso nas versões de Gal Costa e da banda O Rappa. Waly morreu em 2004, após complicações causadas por um câncer no fígado. Ele deixou esposa e dois filhos, além de quatro décadas de contribuições à cultura nacional.

Prisão no Carandiru virou livro

Em 1971, Waly foi preso pela Ditadura Militar, segundo as suas próprias palavras, por “portar uma bagana de fumo”. Dentro duma pequena cela do Pavilhão 2, no Presídio do Carandiru, o poeta arrumou inspiração para imaginar o futuro da contracultura.

As suas reflexões foram o combustível necessário para o nascimento do seu livro mais célebre, escrito no cárcere: “Me Segura Qu’eu Vou Dar um Troço”. A obra, lançada um ano depois, quando ele conseguiu liberdade, não se limita à poesia e mostra também a qualidade do autor em produzir ensaios.

Tropicalista pero no mucho

Uma década antes da sua prisão, Waly Salomão já fazia história. Próximo de Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé e Torquato Neto, o artista foi importante no movimento tropicalista, ainda que não se visse exatamente como parte do grupo.

“Eu não gosto da moldura de poeta tropicalista, eu não me sinto assim. Eu tangenciei com a Tropicália, por muitas razões”, disse ele em entrevista para a revista Cult. Na ocasião, ele citou a sua maior ligação com o movimento: a admiração pelo trabalho de Hélio Oiticica, autor de uma obra de arte que deu nome ao grupo, a quem dedicou um livro “Hélio Oiticica: qual é o parangolé?”.

Profissão: compositor

Por sua proximidade com os artistas baianos célebres da sua geração, Waly Salomão foi o diretor artístico do show ‘FA-TAL – Gal a Todo Vapor’, que gerou o disco ao vivo de mesmo nome de Gal Costa, lançado em 1971.

O álbum conta com a já citada ‘Vapor Barato’, composição mais famosa de Salomão. Outros hits importantes de Salomão: ‘Talismã’, ‘Memória de Pele’ e ‘Mel’, de Maria Bethânia, ‘Assaltaram a Gramática’, dos Paralamas do Sucesso, ‘Cobra Coral’, de Caetano Veloso.

Waly Salomão, poeta e letrista

A parceria mais marcante de Waly Salomão foi mesmo com Jards Macalé. Além de ‘Vapor Barato’, eles compuseram juntos ‘Rua Real Grandeza’, ‘Mal Secreto’, também presente no show ‘FA-TAL’, de Gal Costa, e ouvida ainda na voz de Luiz Melodia, e ‘Pontos de Luz’, também regravada por Gal.

Com informações do Uol