O espetáculo ‘Eu Conto’ integrou a campanha dos ‘21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres e Meninas’ em Manaus (Foto: Hamyle Nobre / UNFPA Brasil)

Programação oficial teve encerramento nesta semana, no Teatro Gebes Medeiros

Mais de mil pessoas assistiram ao espetáculo “Eu Conto”, que faz parte da campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres e Meninas em Manaus. O circuito de apresentações aconteceu entre os dias 24 de novembro e 6 de dezembro, em diferentes bairros da capital amazonense.

A campanha é promovida pelos escritórios de Manaus do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Organização Internacional para as Migrações (OIM) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pela Aldeias Infantis SOS, Secretarias de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Amazonas (Sejusc) e Cultura e Economia Criativa, e Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania de Manaus (Semasc). Em 2023, o tema da campanha foi “Una-se pelo Fim da Violência contra as Mulheres e Meninas”, com a missão de mobilizar parcerias para investir em prevenção para erradicar a violência de gênero.

“Alcançamos o objetivo de trabalhar nesta campanha em conjunto com o estado e município, engajar a comunidade, os serviços públicos destinados ao acolhimento de sobreviventes e também chegar em diferentes públicos, entre eles migrantes, idosos, mulheres, homens e adolescentes”, afirma Débora Rodrigues, chefe de Escritório do UNFPA em Manaus.

Débora Rodrigues destaca que o impacto das atividades propostas foi duplo, pelo conteúdo, no caso a questão da violência, e pelo contato da população com o teatro de forma acessível e gratuita.

“Utilizar a arte para educar e promover direitos é efetivo, porque consegue chegar em espaços que são difíceis de se tocar. Conseguimos compartilhar informações e sensibilizar as pessoas de uma forma muito produtiva a partir de vivências de mulheres amazônidas”, comenta a chefe de Escritório do UNFPA em Manaus.

Para a subsecretária de Políticas Afirmativas para Mulheres e Direitos Humanos da Semasc, Graça Prola, neste ano, foi possível trabalhar segmentos que passam invisíveis no cotidiano.

“Multiplicamos as informações sobre o fim da violência contra as mulheres, temos um saldo positivo quando uma parte da educação em espaços informais trabalha também a temática pelo fim da violência. Estamos nos desdobrando para que todas as mulheres tenham vida digna para viver sem violência”, avalia Graça Prola.

A peça “Eu Conto” circulou em espaços do município, como a Quadra Poliesportiva da Colônia Antônio Aleixo, os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), Centro de Convivência da Família e do Idoso Prefeito José Fernandes e em espaços comunitários, como a Maloca dos Povos Indígenas no Parque das Tribos, no Tarumã.

Histórias reais

A dramaturga Priscila Conserva conta que a circulação do espetáculo pelos bairros foi interessante, uma vez que as histórias de Sônia, Fátima, Rita, Jéssica, Cátia e Marta encontram o público e tem resposta das pessoas, tanto das mulheres mais jovens quanto das mais idosas.

“Percebemos que essas histórias fazem sentido porque as pessoas estão se identificando com elas. Fora que são histórias de pessoas que já conhecemos, como a nossa vizinha, avós, então essa reverberação do público é importante também para construir a peça, porque a peça nunca está pronta, vamos reconstruindo a partir do que essas mulheres vão nos trazendo, para continuar o processo de dramaturgia”, explica a escritora. “A história da Marta, personagem da mulher cansada e justiceira, chegou em muitas mulheres que se identificaram com ela, que, apesar disso, luta pelos seus direitos e direitos de outras mulheres”.

A reflexão sobre a vida da Marta também impactou a jornalista Haryadna Ramalho. Ela justifica que a personagem lembrou a mãe dela. “Quando ela falou que a Marta era linguaruda e que gritava mesmo, que metia a colher e as panelas quando percebia uma situação de violência, aquilo me impactou porque a minha mãe é a Marta. A minha mãe sempre se meteu mesmo se o casal ia voltar ou não. Ela falava sim e a pessoa poderia fazer o que ela quisesse, mas minha mãe fazia a parte dela”, lembra a jornalista.

Haryadna Ramalho destaca que o espetáculo tem uma linguagem acessível a todas idades, com informações que servem de alerta para mulheres sobre relacionamentos abusivos. “Esse espetáculo devia rodar em todas as escolas da cidade, porque ele é muito útil e traz uma mensagem que podemos ser o que quisermos, independente das coisas que já passamos na vida, que a nossa mãe ou nossas avós passaram tempos atrás e que, pela infelicidade da sociedade, continuam até hoje, no caso a violência contra a mulher, ainda presente”, comenta.

A psicóloga Vanessa Duarte, que atua no Serviço de Apoio Emergencial à Mulher (Sapem) da Sejusc, destaca a importância da campanha para identificar os tipos de violência. “A peça trata todos os tipos de violência e isso faz com que essas mulheres se identifiquem, porque, muitas vezes, elas não se enxergam quando é violência psicológica. Elas não se veem como violados seus direitos, porque elas acham que a violência de fato só é a física, quando deixa marcas. Fora isso, elas não se enxergam”, explica. “Então é importante que as mulheres se identifiquem, comecem a denunciar e procurem ajuda”.

Sobre a peça

O espetáculo, em formato de monólogo, fomenta reflexões sobre práticas e comportamentos que geram violência contra mulheres e meninas e sobre estratégias para enfrentar situações no cotidiano.

A ficha técnica é composta somente por mulheres e traz Priscila Conserva na dramaturgia, Karol Medeiros na direção, Viviane Palandi como provocadora cênica, Isabela Catão no elenco, Kelly Vanessa na produção, Laury Gitana e Karol Medeiros na cenografia, Cigride Aguiar, Isabela Catão e Karol Medeiros no figurino e Lu Maya na iluminação.

Sobre a campanha

A campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres e Meninas acontece mundialmente desde 1991 e teve início com 23 mulheres ativistas do Instituto de Liderança Global das Mulheres.

Com informações da assessoria