O guitarrista Lanny Gordin é considerado um dos melhores do Brasil (Foto: Marcelo Ximenes / Folhapress)

Alexander Gordin, conhecido como Lanny Gordin, considerado um dos mais influentes guitarristas brasileiros, morreu hoje (28), aos 72 anos, após um mês de internação devido a uma pneumonia. A morte foi confirmada pela esposa do artista, Cristina Zucchi

Gordin morreu no dia em que faria aniversário. Inspirado no lendário guitarrista Jimi Hendrix, Lanny foi um participante imprescindível do tropicalismo e, em 1969, participou dos álbuns de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa, além do “Brazilian Octopus”, com Hermeto Pascoal.

Filho de um russo com uma polonesa, Gordin nasceu em Xangai, na China, e mudou-se com a família para o Brasil aos seis anos.

Em 1968, o garoto gafo e magro tinha apenas 16 anos. “Gil é muito inteligente. Ele dizia umas coisas sobre como viver bem, a concepção dele sobre Deus. Um lance espiritual. A nossa convivência foi perfeita”, disse Lanny a este jornal, em entrevista com o jornalista Claudio Leal, em 2021.

No álbum branco de Caetano Veloso, lançado em 1969, Gordin recebeu “carta-branca” do maestro Rogério Duprat para compor, após receber uma fita apenas com a voz-guia. “Fique à vontade, Lanny. Faça como quiser.”

Com Gal Costa, participou dos álbuns “Tropicália ou Panis et Circencis”, de 1968, “Gal”, de 1969, “Legal” em 1070 e de uma gravação ao vivo, “Fa-Tal”.

“A presença da guitarra do Lanny era fundamental, importantíssima. Ele era um grande guitarrista, maravilhoso”, chegou a dizer Gal Costa, que citou Gordin entre suas admirações em “Meu Nome é Gal”.

A partir daquele momento, Gordin passou a colecionar marcos em sua discoreografia. Foi o responsável pela guitarra de Build Up”, de Rita Lee, em 1970, e “Carlos, Erasmo”, de 1971, além dos reencontros com Caetano em “Araçá Azul” e Gil em “Expresso 2222”, em 1972 —mesmo ano em que também participou do clássico “Jards Macalé”. Com Tim Maia, o guitarrista fez o hit “Chocolate”.

“Como eu não tenho consciência política, me preocupo mais com a música. Não tenho cultura pra entender o movimento tropicalista ou qualquer tipo de movimento”, disse, ainda em entrevista para a Folha.

Foi na década de 1960 que Gordin experimentou LSD para mergulhar na psicodelia. Depois do sétimo ácido, porém, precisou procurar ajuda psiquiátrica. Foi diagnosticado com esquizofrenia e se internou no sanatório Bela Vista.

Nas décadas seguintes, Gordin não ficou mais sob os holofotes do mundo da música, mas também não deixou de tocar. Participou da Banda Performática do pintor José Roberto Aguilar e, na década de 1990, gravou o disco “Aos Vivos” do Chico César.

“Sabe aquele disco que o Lanny toca?/ Qual?/ Aquele do Caetano?/ Não/ Aquele do Gil?/ Não/ Aquele da Gal?/ Não/ Aquele do Macalé?/ É/ Sabe aquele Lanny?”, diz a letra de “Lanny Qual?”, música composta por Vange Milliet e cantada por Chico César.

Em 2001, lançou o álbum “Lanny Gordin”, com 11 faixas. Em 2002, se reuniu com jovens músicos, entre eles Guilherme Held, e fundou a banda Projeto Alfa.

Em 2017, o guitarrista mítico foi para a frente das câmeras falar sobre sua trajetória, no documentário “Inaudito”, dirigido por Gregório Gananian, que mais parece um poema visual sobre o “Hendrix do Brasil”, como já foi venerado.

Nos últimos anos, o guitarrista enfrentou o tratamento contra a síndrome de Guillain-Barré e uma espondilite anquilosante, inflamação nas articulações da coluna que o deixou de cama. Foi quando disse, ao repórter Claudio Leal, que não tinha preocupações.

“Tenho muita fé em Deus. Então, eu acho que Deus é tão maravilhoso que ele criou o homem para ser exatamente o que ele é. Deus, para mim, está além do bem e do mal. Está além de tudo. Ele está além do amor. Ele está além da vida e da morte, além do tudo e do nada. E ele está além de mim mesmo.”

Com informações da Folha de S.Paulo