Harrison Ford, de 80 anos, não aguentou a emoção após a exibição de Indiana Jones e A Relíquia do Destino no Festival de Cannes, ontem (18). O filme foi ovacionado de pé por cinco minutos pelo público, e o astro, que tem fama de durão, não segurou o choro, surpreendendo os fãs. Ele também recebeu, sem esperar, uma Palma de Ouro honorária pela carreira no cinema.
“Estou feliz com a idade. Poderia estar morto, mas estou trabalhando. Tudo que eu quero é contar boas histórias. Eu só quero trabalhar. E tive muita sorte”, comentou o astro Harrison Ford ao ser questionado se gostaria de voltar a ter a idade que tinha quando estreou na franquia de Indiana Jones, nos anos 1980, durante a coletiva de imprensa de “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”.
Quinto e último filme que ele estrela como o arqueólogo mais célebre do cinema, o longa teve sua première mundial na noite de quinta, com uma homenagem ao ator e a entrega de uma Palma de Ouro por sua carreira.
Aos 80 anos, Ford oscilou tanto durante a homenagem quanto na entrevista entre a emoção e o riso. Por várias vezes quase chorou e deixou a plateia de jornalistas em silêncio. Mas também riu e fez rir quando questionado sobre o que faz para manter a forma e ouvir que ainda é muito atraente.
Não sei o que dizer. Eu fui abençoado com este corpo
Ford também disse que está se aposentando da franquia que o tornou uma lenda do cinema por motivos óbvios. “É preciso mesmo explicar porque estou parando com o Indiana? De toda forma, estou em outros projetos. Não vou parar de trabalhar.”
Quem discorda que o ator não teria mais condições de viver o personagem e protagonizar cenas de ação foi Mads Mikkelsen, que vive o grande vilão deste novo filme da franquia. No longa, ele interpreta um nazista em busca da tal relíquia do título, a Antikythera, criada pelo matemático, físico e inventor Arquimedes, capaz de, por meio da ciência (e não da magia) abrir fissuras no espaço e no tempo e permitir a viagem para o passado e o futuro.
Sobre o quanto de “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” pende para a aventura mais fantástica, inovando um pouco na tradição da franquia sempre apostar na aventura histórica, tanto Ford quanto o diretor James Mangold foram categóricos ao afirmar que o novo longa é um equilíbrio delicado entre magia e trabalho duro.
“Você não quer separar o mito e a mágica. Mas há sempre um plano e esta gente, os personagens, se torna real com o elenco. Então a gente quer o suporte de todos estes elementos da história. É preciso muita matemática, muito cálculo, mas também muita mágica”, comentou Mangold.
Já Ford, que vê a mágica acontecer desde que Steven Spielberg dirigiu os “Caçadores da Arca Perdida” (este, aliás, é o primeiro a não ter Spielberg na direção), observou: “Os personagens apoiam a história e a história apoia os personagens. É uma rede. É mágica, quando funciona. E quando não funciona é um pesadelo. Então, há mágica aqui. E vem elaboração , da ambição de muita gente que trabalha duro para que o projeto aconteça.”
Passagem por Cannes em clima de despedida
Ainda que Ford continue atuando em outros projetos, como a série “1923”, que deve ganhar nova temporada, sua passagem por Cannes tem clima de despedida e as questões sobre passado, presente e arrependimentos são inevitáveis. “Não me arrependo de nenhum papel que recusei. Se é para acontecer, vai acontecer. E não acontece, é por alguma razão”, comentou o ator.
Mads Mikkelsen, o outro veterano da trupe, ainda que bem mais jovem, concordou. “As coisas que dão errado ou não vão bem são degraus para que a gente alcance coisas melhores que eventualmente virão”, afirmou o ator dinamarquês.
Mikkelsen discordou com humor da aposentadoria do protagonista. “Gostaria de dizer algo sobre a aposentadoria de Ford. A primeira diária que filmamos, terminamos de trabalhar às cinco da manhã e estávamos todos mortos de cansaço. E ele, em vez de ir descansar, pegou a bicicleta e foi pedalar 50 quilômetros. Fala sério, Harry, o que a gente deveria fazer diante disso”, brincou.
Apesar do clima de reverência à trajetória de Harrison Ford, a crítica está dividida sobre o filme. Parte celebra o fim do ciclo e o novo filme, enquanto outra parte vê um lançamento movido essencialmente pela nostalgia.
Pensado milimetricamente para quem é fã da franquia, “Indiana Jones e a Relíquia do Tempo” tem todos os elementos que fizeram da saga uma das mais bem-sucedidas da história do cinema. Sequência inicial longa de ação, misturada com humor e sacadas inteligentes (principalmente da personagem Helena, vivida por Phoebe Waller-Bridge, afilhada e grande companheira de aventura desta nova história) e muita aventura.
Resta esperar a estreia do filme, em junho, para que o público dê a palavra final e Indiana, assim como Top Gun o fez em 2022, seja capaz de levar multidões às salas, tão abaladas atualmente no mundo pós-pandêmico em que os streamings crescem cada vez mais.
Com informações da coluna de Flávia Guerra / Uol