Conceição Evaristo é uma das mais influentes escritoras da atualidade, é doutora em Literatura e pretende inovar compondo um rap para Emicida (Foto: Conexão Planeta)

Primeira escritora negra premiada como ‘intelectual do ano’, Conceição Evaristo, uma das mais influentes vozes da cultura brasileira da atualidade rompeu as páginas dos livros e está compondo o ‘Rap da Resistência’ que deve ser gravado por Emicida. Ela contou na Flip que vários rappers já pediram que ela não se limite a apenas uma composição.

Na 21ª edição, da Festa Literária Internacional de Paraty, um dos principais encontros de literatura do Brasil, ninguém atraiu mais as atenções hoje (25) do que a escritora mineira Conceição Evaristo. Minutos antes de começar um evento com a presença dela, uma fila de cerca de 300 metros se formava pelas ruas de pedra sabão.

Ao se dar conta da quantidade de gente à espera da apresentação da romancista de 76 anos, um leitor desistiu e comentou que a fila estava maior que as dos shows da cantora americana Taylor Swift no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O salão onde Conceição estava foi insuficiente para o público. Assim, as pessoas ocuparam os demais cômodos da casa, onde foram instaladas caixas de som –se seria inviável vê-la, era possível ao menos ouvir as histórias da autora.

A rua também ficou tomada por admiradores de Conceição, que esticavam o pescoço para acompanhá-la através das janelas. “Ela deveria falar para o público em um lugar mais amplo”, disse a professora aposentada Maria Antonia Freitas da Silva, de 77 anos, que foi de Salvador para Paraty principalmente para acompanhar Conceição.

Rap, sim

A julgar pelos aplausos recorrentes, a espera valeu a pena. O público reagiu com entusiasmo quando Conceição disse que estava preparando um rap. “Alguns rappers demonstraram interesse em gravar, Emicida foi um deles”, disse ela à Folha logo depois da palestra. “Vai se chamar ‘Rap da Experiência”.

Durante a fala, fez pontes entre o passado e o presente da cultura negra no Brasil. “Emicida rompe a tradição ao dizer ‘é nóis’, o que é visto como erro pela norma culta. Ele incomoda os puristas, assim como Carolina de Jesus, que havia criado neologismos em seus livros. Por que Guimarães Rosa podia e Carolina não?”, questionou.

Conceição também comentou o recém-conquistado prêmio Juca Pato de intelectual do ano. “Não posso ser uma exceção. No ano que vem, os intelectuais brancos vão ficar quietinhos no lugar que eles têm e premiarão novamente uma negra ou um negro”, desafiou.

Autora de romances, como “Ponciá Vicêncio” (2003) e “Canção para Ninar Menino Grande” (2022), e volumes de contos, como “Olhos d’Água” (2014), Conceição falou sobre a presença da morte na sua literatura. “Tenho fama de ser assassina, muitos personagens meus se encontram na morte. Mas é uma morte que está clamando pela vida. A vida continua”, disse. “Precisamos ter uma outra compreensão da morte.”

Com informações da Folha de S.Paulo