Depois de quatro anos de espera, Chico Buarque, recebe o prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa (Foto: Rodrigo Antunes / Reuters)

A entrega da honraria foi das mais concorridas, com a presença de políticos, ministros e ex-ministros, acadêmicos, artista e escritores, como o moçambicano Mia Couto

Depois de quatro anos do anúncio da condecoração, o cantor, compositor e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda recebeu hoje (24), o Prêmio Camões, um dos mais importantes do mundo. A demora se deveu à recusa do então presidente Jair Bolsonaro de assinar o documento que garantia a honraria. Brasil e Portugal são responsáveis pela premiação, de 100 mil euros (R$ 560 mil). A cerimônia de condecoração ocorreu no suntuoso Palácio Nacional de Queluz, onde nasceu e morreu o imperador Dom Pedro I.

Chico, como a maioria dos artistas, era visto como inimigo pelo governo passado, além de ser apoiador de primeira hora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante as últimas eleições, ele gravou vídeos em que dizia que era importante eleger o petista como forma de garantir a democracia do Brasil, combater a onda de ódio e eliminar a pobreza. “Mesmo quem não gosta do Lula deve votar nele, pois Bolsonaro é muito pior”, afirmou à época.

A entrega da honraria foi das mais concorridas, com a presença de políticos, ministros e ex-ministros, acadêmicos, artista e escritores, como o moçambicano Mia Couto. Tudo foi acertado pessoalmente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em viagem a Portugal, e o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.

Presente na cerimônia, a cantora Fafá de Belém foi enfática: “Eu acho que (o prêmio dado a Chico) é um ato simbólico, finalmente o resgate de democracia e do respeito às artes como fundamentais para o desenvolvimento de um país”.

Justiça foi feita

“Conforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu prêmio Camões, deixando espaço para a assinatura do nosso presidente Lula”, afirmou o cantor.

“Recebo esse prêmio menos como honraria pessoal e mais como desagravo a tantos autores e artistas humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.”

Em seu discurso, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, comparou o artista brasileiro a Bob Dylan, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2016. Segundo ele, Dylan é celebrado, mas sua obra é principalmente musical. Já Chico Buarque, além da música, também fez obras elogiadas na literatura e no teatro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também discursou. “Hoje, para mim, é uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos. Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi. Todos nós sabemos por quê”, declarou Lula.

Chico lançou seu primeiro livro de ficção, “Fazenda Modelo”, em 1974. Três anos mais tarde, publicou o livro infantil “Chapeuzinho Amarelo”. O primeiro romance, “Estorvo”, foi lançado em 1991. Ele também escreveu “Benjamin”, em 1995. Nos anos 2000, o artista lançou “Budapeste” (2003) e “Leite derramado” (2009). Seu último romance foi “Irmão Alemão”, de 2014.

Para o teatro, Chico escreveu as peças “Roda Viva” (1968); “Calabar” (1972); “Gota D’Água” (1974), e “Ópera do Malandro” (1978).

Prêmio Camões

O prêmio Camões é uma parceria entre os governos de Portugal e do Brasil, criado em 1988. A premiação é considerada a mais importante da língua portuguesa. Entre os brasileiros que já foram laureados, estão Raduan Nassar (2016), Ferreira Gullar (2010), Lygia Fagundes Telles (2005) e Jorge Amado (1994).

O escritor homenageado recebe 100 mil euros (R$ 555 mil), sendo metade desse valor subsidiado pela Fundação Biblioteca Nacional, entidade vinculada ao Ministério da Cultura, e a outra metade é paga pelo governo português.

Além de Chico Buarque, ainda devem receber o prêmio o escritor português Vitor Manuel de Aguiar e Silva (escolhido em 2020), a moçambicana Paulina Chiziane (2021) e o brasileiro Silviano Santiago (2022).

Com informações do Correio Braziliense e g1