Margareth Menezes será a próxima ministra da Cultura no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que prometia desde a campanha alçar a atual secretaria ao status de ministério mais uma vez. A cantora confirmou a informação durante entrevista coletiva no Centro Cultural Banco do Brasil, sede da transição, na manhã de hoje (13).
Seu nome ganhou tração para o cargo com o apoio de Rosângela Silva, a Janja, logo antes de o presidente eleito começar a divulgar seus futuros ministros.
Desde o começo do governo de transição, a artista também fez parte do grupo de cultura ao lado da atriz Lucélia Santos, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, o secretário nacional de Cultura do PT, Márcio Tavares, o músico e poeta Antônio Marinho e a deputada federal Áurea Carolina.
Ela também se apresentará no festival ao lado de mais de 30 artistas como Pabllo Vittar, Chico Cesar, Jards Macalé, Marinho da Vila, Valesca Popozuda e Paulinho da Viola organizado para a posse de Lula, em 1º de janeiro do ano que vem.
Margareth, nascida em Salvador, começou a carreira como atriz nos anos 1980. Ela se apresentou em peças como “Máscaras”, de Menotti del Picchia, e “Inspetor Geral”, de Nikolai Gogol.
Foi na música, porém, que a baiana despontou. No fim dos anos 1980, a cantora foi a voz da música “Faraó (Divindade do Egito)”, um clássico do Carnaval no país. Desde então, ela se tornou uma das grandes intérpretes do samba-reggae, o ritmo surgido nos blocos afro baianos —como Olodum e Ilê Ayê—, que depois veio ser a base da axé music.
A cantora se consolidou nos anos seguintes, fazendo pontes entre a música negra baiana e a jamaicana, gravando com Jimmy Cliff, e absorvendo temas de religiões de matriz africana em sua estética. Desde o começo da década de 1990, Margareth tem uma carreira fora do Brasil, tendo feito shows de abertura e cantado na banda de David Byrne, ex-vocalista do Talking Heads, além de ter sido indicada ao Grammy, nos Estados Unidos, e se destacado no nicho da world music.
Na companhia de gigantes
Margareth chegou a se apresentar com gigantes da música mundial, como os guitarristas Jimmy Page, do Led Zeppelin, e Ron Wood, dos Rolling Stones, além das frequentes parcerias com os conterrâneos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre muitos outros.
Nos anos 2000, Margareth firmou o conceito de afro-pop brasileiro, gravando um de seus maiores sucessos até hoje, “Dandalunda”, de Carlinhos Brown. Entre os grandes nomes do axé e do samba-reggae que saíram da Bahia, a artista é uma das pioneiras, além de ser a mais reconhecida no exterior e quem mais tem ligações com a música e a cultura negra.
Na sexta-feira, mesmo dia em que foi convidada para assumir o novo Ministério da Cultura, a artista lançou “Macaco Sessions com Margareth Menezes”, projeto audiovisual gravado numa festa embalada por sucessos de sua carreira.
Margareth ocupa a pasta numa tentativa da gestão petista de repetir a fórmula de Gilberto Gil, que comandou o ministério entre 2003 e 2008 —embora o cantor já tivesse uma vivência na política institucional quando assumiu a pasta.
Antes de se aliar ao PT, nos anos 1990, a cantora era mais próxima da direita, na Bahia, tendo apoiado os governos do grupo político de Antonio Carlos Magalhães, do PFL. Ela já se referiu a ACM como “um dos motivos de maior orgulho da Bahia”. Ela passou a apoiar o PT depois da vitória do governador Jaques Wagner, em 2006.
Embaixadora da Unesco
Em 2004, Margareth criou a Associação Fábrica de Cultura, organização cultural voltada aos moradores da Ribeira e expandiu o trabalho com quatro sedes na península de Itapagipe, em Salvador. Ela também é a embaixadora brasileira da Unesco, órgão das Nações Unidas que visa preservar e promover a produção cultural no país.
Depois de o convite de Lula a Margareth vazar, o presidente ouviu ponderações de interlocutores sobre as dificuldades para recriar a pasta e as vantagens de um quadro mais técnico.
A artista não foi a primeira opção de Lula. Antes de a convidar para seu governo, o petista fez a proposta à atriz Marieta Severo e ao rapper Emicida, mas nenhum deles aceitou o convite. A nomeação da cantora dividiu opiniões na classe artística.
O fotógrafo e produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, por exemplo, criticou a escolha do presidente. Ele disse a este jornal que o ministério deve ser chefiado por um “gestor que conheça bem as entranhas de Brasília”, não um artista.
“Como diz a Fernanda Montenegro, quando ela foi convidada por Sarney para ser ministra da Cultura —eu a fui sondar—, o lugar de artista é na trincheira da criatividade, não é nos gabinetes das repartições públicas, oficiais”, disse Barreto, acrescentando que preferia ver o retorno de Juca Ferreira, que chefiou a pasta nos governos de Lula e Dilma.
Algumas alas do PT também se opuseram à escolha e defendiam, por exemplo, que a deputada federal Jandira Feghali fosse indiada para o cargo.
Já o músico Caetano Veloso celebrou a nomeação de Margareth. “Acho ela muito boa. Se ela foi convidada, então tem que ser mantido o convite”, afirmou ele a este jornal.
A cantora Maria Gadú também comemorou. “Margareth vem como um respiro e um símbolo. Mulher, preta, baiana. Passou por teatro, atuou internacionalmente como movimentador cultural. Fez turnê com David Byrne. Não é só esse lance de ser artista. Ela circula há tantos anos colocando o Brasil em outro panorama. Chegou a hora de o Brasil recolocar Margareth no panorama.”
Na sexta-feira passada, Margareth jantou, em Salvador, com amigos da área cultural. Apesar de confirmar que será a próxima ministra da Cultura do país, a cantora ainda não se pronunciou sobre os planos para o setor.
Com informações da Folha de S.Paulo