Combinação de vacina experimental da Moderna com o medicamento Keytruda, da Merck, reduziu risco de morte ou recorrência de melanoma em pacientes de alto risco (Foto: Adobe Stock)

As empresas farmacêuticas Moderna e Merck se preparam para lançar o primeiro teste de fase três de uma vacina de RNA mensageiro contra o câncer depois que um estudo sugeriu que ela poderia ser usada para tratar um tipo agressivo de câncer de pele.

Dados divulgados pela Moderna nesta semana, mostraram que uma combinação da vacina experimental da empresa contra o câncer e o medicamento de imunoterapia Keytruda da Merck reduziu em 44% o risco de morte ou recorrência de melanoma em pacientes de alto risco, em comparação com o tratamento que usou apenas Keytruda.

O estudo randomizado de fase dois recrutou 157 pacientes que já haviam se submetido a cirurgia relacionada ao melanoma e os acompanhou durante um ano. Alguns participantes receberam nove doses da vacina contra o câncer, de codinome mRNA-4157/V940, juntamente com o Keytruda. Outros receberam apenas Keytruda, que é o tratamento padrão para melanoma de alto risco.

Stéphane Bancel, executivo-chefe da Moderna, disse que os resultados encorajaram a Merck e a Moderna a embarcar num estudo maior de fase três que os reguladores tendem a exigir antes de aprovar um novo tratamento.

A grande maioria dos medicamentos que tiveram sucesso nos estudos de fase dois falharam no estágio de testes seguinte.

As empresas também testariam a combinação em outros tipos de câncer. “Acreditamos que isso deve funcionar em muitos tipos de tumor, não apenas no melanoma”, disse Bancel em entrevista.

As ações da Moderna subiram até 25%, para US$ 207,37 (cerca de R$ 1 mil), no início do pregão após a divulgação dos resultados, enquanto as ações da Merck subiram quase 1%.

Os cientistas há muito estudam o potencial de usar a tecnologia de mRNA —que é mais conhecida por ter sido utilizada com sucesso em imunizantes contra a Covid— para fornecer uma vacina que ensina o sistema imunológico do corpo a atingir tumores cancerígenos.

Jeffrey Weber, investigador principal do estudo e vice-diretor do Centro de Câncer Perlmutter na Universidade de Nova York Langone, disse que as descobertas forneceram a primeira evidência aleatória de que uma abordagem de vacina personalizada com neoantígenos poderia ser benéfica em casos de melanoma. Weber é consultor pago da Merck e da Moderna.

No entanto, alguns analistas pediram cautela, observando que a Moderna havia divulgado apenas uma pequena quantidade de dados de testes e os resultados ainda não tinham sido revisados por cientistas independentes.

Daina Graybosch, analista da SVB Securities, disse que os resultados da fase dois foram impressionantes, mas seria necessário, uma leitura detalhada dos resultados para aumentar a confiança de que poderão se repetir em um teste maior.

Julie Bauman, diretora do centro de câncer da Universidade George Washington, disse que as vacinas de mRNA contra o câncer foram especificamente adaptadas para atingir o câncer de cada indivíduo.

“Você retira o tecido de um tumor, sequencia-o e, num período de seis semanas, fabrica uma vacina que corresponde às 10 a 20 principais mutações”, disse ela.

Bauman disse que a vacina estimula o sistema imunológico da pessoa para atingir seletivamente essas células cancerígenas.

O ensaio clínico faz parte de uma colaboração de seis anos entre a Merck e a Moderna no campo do desenvolvimento de vacinas personalizadas contra o câncer. Em outubro, a Merck concordou em pagar à Moderna US$ 250 milhões para exercer uma opção de desenvolver e comercializar em conjunto o mRNA-4157/V940.

Segundo Dean Li, presidente da Merck Research Laboratories, os resultados positivos do teste representam um marco importante na colaboração da empresa com a Moderna.

“Estamos ansiosos para avançar este programa para a próxima fase de desenvolvimento”, disse ele.

Com informações da Folha de S.Paulo