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Sua personalidade determina como você interage consigo, com os outros e com o que está à sua volta. Entre todos os conceitos relacionados a esse tema, o psiquiatra Carl Jung (1875-1961) descobriu que cada indivíduo pode ser caracterizado como sendo primeiramente orientado para seu interior ou para o exterior e criou terminologias.

Para Jung, um introvertido é um sujeito acostumado a canalizar sua dimensão e seus interesses para si mesmo. Ele se sente confortável sozinho, absorto em suas reflexões e sentimentos, ou com um círculo de pessoas mais íntimas e em lugares familiares, tendendo à introspecção. São mais reservados, menos sociáveis e preferem atividades como ler, escrever ou pintar.

Em contrapartida, no outro extremo, existe o extrovertido, sujeito que direciona sua dimensão para fora de si, para acontecimentos, interações sociais, ações prestativas e novas amizades. É mais consciente, no sentindo de não divagar tão fácil como o introvertido, mas pode acabar sendo persuadido por ideias alheias, ao invés de meditar e desenvolver suas próprias opiniões.

Jung catalogou as diferentes características do introvertido e do extrovertido em sua famosa obra “Tipos Psicológicos” (1921). Mas descobriu que não existem sujeitos introvertidos ou extrovertidos puros, ou seja, cada um de nós demonstra comportamentos em algum ponto da escala entre os extremos, estando alguns mais próximos de uma ponta e outros de outra.

Quanto aos que estão exatamente na zona intermediária, que não se identificam com nenhum dos lados, são chamados de ambivertidos. “São sujeitos cuja personalidade pode tirar proveito dos pontos fortes de ambos os lados, conforme pede a situação e o contexto”, explica Eduardo Perin, psiquiatra e psicoterapeuta pela Unifesp.

Os ambivertidos conseguem se identificar e se comunicar tanto com os introvertidos quanto com os extrovertidos, acrescenta Perin. Em síntese, não se enquadram em uma categoria específica, mas têm a capacidade de se adaptar e conectar com qualquer um com facilidade, adquirindo uma gama diversificada de habilidades, benefícios e até equilíbrio psicoemocional.

Vantagens de ser ambivertido

Na psicologia, o primeiro a usar o termo ambivertido foi o psicólogo americano Edmund S. Conklin, em 1923. Desde então, esses indivíduos são comparados a bilíngues, no sentido de dominarem em duas versões aspectos psicológicos e emocionais, destacando-se por terem:

Versatilidade social: capacidade de se adaptar a diferentes círculos sociais. Eles podem ser extrovertidos e se posicionarem quando necessário, participando ativamente de conversas e eventos. Por outro lado, também podem recuar e desfrutar de momentos mais introspectivos.

Empatia: “A combinação de características introvertidas e extrovertidas permite que os ambivertidos compreendam melhor os outros. São bons em dar opiniões ou como ouvintes, conseguindo se colocar no lugar dos outros, o que fortalece seus relacionamentos”, explica José Maria Santiago, psiquiatra e professor da Afya Educação Médica, de Fortaleza.

Flexibilidade no trabalho: no ambiente profissional, os ambivertidos são capazes de se adaptar a diferentes papéis. Eles podem liderar equipes com entusiasmo e participação (como extrovertidos) ou trabalhar de forma independente e bastante focados (como introvertidos).

Equilíbrio: os ambivertidos não sofrem tanto com o esgotamento social quanto os extrovertidos extremos. Eles sabem quando recarregar suas energias sozinhos e quando buscar interações sociais para se revitalizar.

Criatividade: a capacidade de alternar entre diferentes estados mentais permite que os ambivertidos explorem ideias criativas de maneira mais ampla. Eles podem encontrar inspiração tanto na solidão quanto nas interações sociais.

Adaptação a mudanças: os ambivertidos são mais flexíveis diante das mudanças na vida. Não ficam presos a uma única maneira de ser e conseguem se ajustar conforme as circunstâncias evoluem.

Incompreendidos e estigmatizados?

Ser ambivertido possui vantagens, mas não significa ser alguém superior, continua o psiquiatra José Maria Santiago. Como qualquer pessoa, eles também podem passar por más situações, a exemplo de terem de enfrentar dificuldades ao escolher entre momentos sociais ou de solidão (podem se sentir muito indecisos entre essas necessidades), ou se estiverem alternando constantemente entre interações sociais e momentos de reclusão.

Porém, o ponto negativo que mais se sobressai é a incompreensão por parte de algumas pessoas, que podem não tolerar bem ou se adaptar à natureza flexível dos ambivertidos e esperar que eles se comportem de maneira consistente como introvertidos ou extrovertidos. Há ainda quem, por conta disso, os considere erradamente como bipolares ou sem identidade.

“Mas não tem nada a ver. O transtorno bipolar e o transtorno dissociativo de identidade são condições médicas complexas e que merecem tratamento. Em contraste, os ambivertidos não têm mudanças extremas de humor nem múltiplas personalidades”, esclarece Yuri Busin, psicólogo pós-graduado pela PUC-RS.

Eles simplesmente retratam a complexidade humana e de comportamentos que podemos expressar e explorar, portanto não existe um processo formal para “diagnosticar” alguém como ambivertido. Na dúvida, se você está interessado em entender mais sobre sua própria personalidade, uma abordagem eficaz pode ser a autorreflexão e o autoconhecimento.

*Com informações de Uol