O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursa durante o Debate Geral da Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2025 - Foto: Angela Weiss / Getty Images

Em discurso na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que o tom desta edição da cúpula deve girar em torno da presença dos EUA no Caribe e no Pacífico — onde o governo Trump tem atacado barcos com o discurso de combate ao narcotráfico.

“Experimentamos situações de retrocesso. A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora, do que para si própria”, avaliou o presidente. “A intolerância ganha força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar à mesma mesa.”

O encontro, que acontece em Santa Marta, na Colômbia, reúne líderes dos 27 países da União Europeia e das 33 nações da Celac, visando a retomada do diálogo birregional e das negociações do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

Lula enfatizou que os territórios em destaque voltaram a viver com as ameças do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. “Projetos pessoais de apego ao poder, muitas vezes solapam a democracia. Estamos deixando de cultivar nossa vocação de cooperação e permitindo que conflitos e disputas ideológicas se imponham. Como resultado, vivemos de reunião em reunião repletas de ideias e iniciativas que muitas vezes não saem do papel.”

O presidente ressaltou a ausência de diversas lideranças no evento: “Nossas cúpulas se tornaram um ritual vazio, dos quais se ausentam os principais líderes regionais.”

Ao lembrar da guerra na Europa, ele também avaliou que “as ameças e uso da força militar”, hoje, também fazem parte do cotidiano da América e do Caribe. No entanto, lembrou: “Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional. A democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvazia os espaços públicos, destrói famílias e desestrutura negócios.”

“Não existe solução mágica para acabar com a criminalidade”, destacou. “É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando o seu financiamento, rastreando e eliminando o tráfico de armas. O alcance transnacional do crime coloca à prova nossa capacidade de cooperação. Nenhum país pode enfrentar esse desafio isoladamente”, disse Lula, fazendo apelo a ações coordenadas, intercâmbio de informações e operações conjuntas entre países.

“Na próxima Cúpula do Mercosul, em dezembro, espero que os dois blocos possam finalmente dizer sim para o comércio internacional baseado em regras como resposta ao unilateralismo”, projetou o presidente. “Precisamos enviar ao mundo um sinal de que duas regiões estratégicas como América Latina e Caribe e a Europa estão comprometidas com uma agenda promissora. Uma agenda de paz, cooperação, ampliação do comércio e dos investimentos, geração de empregos e crescimento sustentável. Fatores essenciais para construir um futuro inclusivo e repleto de oportunidades.”

A quarta cúpula entre a Celac e a UE termina nesta segunda-feira, 10. No entanto, Lula retorna ainda hoje a Belém, capital do Pará, para a abertura da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), também marcada para amanhã.

*Com informações de Terra