O projeto foi selecionado entre 144 experiências da Região das Américas, submetidas ao laboratório da OPAS

O projeto “Direito a Cidade e a Saúde de Populações Indígenas”, derivado do Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, foi premiado como uma das 31 iniciativas promissoras em participação comunitária escolhidas pelo Laboratório de Inovação Latino-Americano de Práticas de Participação Social em Saúde, da Organização Panamericana de Saúde (OPAS).

O projeto foi selecionado entre 144 experiências da Região das Américas, submetidas ao laboratório.

A iniciativa da OPAS/OMS no Brasil e do Conselho Nacional de Saúde conta com a parceria do Centro de Educação e Assessoramento Popular (CEAP). Além do Amazonas, foram premiados projetos desenvolvidos nos estados do Amapá, Espírito Santo, Santa Catarina, Bahia, São Paulo e Distrito Federal. A iniciativa também contemplou experiências do Chile, Peru, México, Argentina, Bolívia e Panamá.

Coordenador do Projeto Manaós, o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias, comemorou a premiação como um reconhecimento ao trabalho que demonstrou a experiência de empoderamento comunitário e autonomia da Associação de Indígenas e Moradores do Parque das Tribos (Aimpat), associada à pesquisa participativa de autoria da egressa do Mestrado em Condições de Vida e Situação de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), Raniele Alana Alves, com o apoio da mestranda também do PPGVIDA Mayra Farias. O trabalho comporá um dos capítulos do livro com as experiências exitosas a ser editado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e OPAS. “Compartilhamos o prêmio com a equipe que fez parte desse processo e, sobretudo minhas mestrandas e a cacica Lutana Kokama, liderança indígena do Parque das Tribos, que escreveu conosco a experiência”, ressaltouTobias.

O objetivo do LIS CNS Internacional é identificar, sistematizar e reconhecer experiências exitosas de participação e engajamento social em políticas públicas e práticas em saúde, voltadas ao aprimoramento dos serviços e ações de saúde, gerando trocas e aprendizados entre os atores sociais envolvidos que potencializam sua ação local, regional, nacional e internacional. “Maravilha poder compartilhar o resultado construído a muitas mãos e mentes. Muitas vezes, subestimam a capacidade de pessoas que estão na ponta de se organizarem e mobilizarem outras pessoas para conseguirem uma efetiva participação social na saúde e outras áreas; Todos os projetos estão de parabéns, porque entregaram novidades e permitiram a integração de experiências nacionais e internacionais”, destacou o oficial especialista em Sistemas de Saúde da OPAS/OMS no Brasil, Fernando Leles, parabenizando os autores e co-autores das experiências premiadas.

Sobre o projeto Manaós

O Projeto Manaós é desenvolvido há dois anos no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus e maior conglomerado urbano de etnias indígenas do Brasil.

O projeto foi aprovado na Chamada Pública 001/2021 do Edital Inova Fiocruz, com foco no apoio a propostas que dialogam com os objetivos, princípios e pressupostos do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Na primeira fase, o projeto realizou o mapeamento dos perfis socioeconômico e da saúde da população que vive na comunidade, identificando os processos de organização sociocultural e política, no acesso aos serviços de saúde.

Na segunda etapa, o projeto busca desenvolver linhas específicas de ação voltadas ao empoderamento comunitário, a formação de agentes indígenas de saúde e à investigação de fatores de risco cardiovasculares dos indígenas que vivem em área urbana. Essa investigação, de acordo com Rodrigo Tobias, inaugura no Brasil uma linha de pesquisa específica com indígenas não-aldeados que vivem em contextos urbanos e periféricos das grandes cidades.

Raniele Alves, autora da dissertação intitulada “Redes Vivas na Amazônia Indígena Urbana: cartografia do acesso aos serviços de saúde e produção do cuidado em Manaus/AM“, explica que a pesquisa ocorreu de forma colaborativa e com a participação ativa da comunidade do Parque das Tribos. “É importante ressaltar isso pois nossa intenção ao escrever sobre nossa experiência para a OPAS foi justamente abrir e visibilizar uma temática tão atual na academia, de que não se faz pesquisa sozinho e muito menos de forma neutra, estamos rodeados de questões políticas e sociais, principalmente em nosso contexto Amazônico”, salienta Raniele.

Invisibilidade

A autora ressalta ainda que o trabalho foi escrito a quatro mãos: “Uma mulher indígena Kokoma, liderança da Comunidade Parque das Tribos, e uma mulher afroamazônica que tem suas raízes ancoradas em uma ancestralidade quilombola e indígena”, descreve. “O que escrevemos foi, sobretudo, resultado do que aconteceu no caminhar e na feitura da pesquisa. Como uma boa anfitriã, a cacica Lutana Kokama abriu as portas da sua casa e da Comunidade para juntos realizarmos uma pesquisa-ação sobre a questão da invisibilidade indígena no contexto urbano, principalmente em relação ao acesso aos serviços de saúde”, disse.

Para Raniele, o reconhecimento pela OPAS reverbera de forma significativa. “Nossa intenção é cada vez mais viabilizar e possibilitar que as vozes indígenas sejam reconhecidas nesses espaços e principalmente, no que tange a pesquisa com Povos Indígenas, precisamos assumir uma postura enquanto academia de utilizar metodologias que decolonizem a academia, da escrita e principalmente do modo de ‘reescrever’ principalmente quando voltado para as populações Indígenas”, salientou, acrescentando que “a luta pela saúde indígena em contexto urbano segue firme com a transformação dos estigmas identitários em protagonismo, autonomia e empoderamento”.

Com informações da Fiocruz Amazônia