Papa Francisco reza para fiéis em telão na cidade de Roma (Foto: Alberto Pizolli / AFP)

Vaticano estuda participação remota no evento; esta seria a primeira vez de um papa em uma cúpula climática da ONU

O papa Francisco cancelou a ida à COP28, conferência do clima da ONU, que começa nesta quinta-feira (30) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A decisão foi divulgada hoje (28), em comunicado pelo Vaticano. A Santa Sé afirma que o pontífice está com quadro de gripe e inflamação no pulmão.

Esta seria a primeira vez que um papa participaria da cúpula climática. O pontífice, de 86 anos, faria um discurso na plenária do evento no sábado (2). Ao todo, a viagem duraria três dias.

O papa apresentou um quadro gripal no último fim de semana e passou por exames. Ontem (27), fontes do Vaticano afirmavam, porém, que ele já estava com um estado de saúde “bom e estável” e que manteria a viagem.

“Embora a condição clínica geral do Santo Padre tenha melhorado em relação à gripe e inflamação do trato respiratório, os médicos pediram ao papa que não faça a viagem planejada para os próximos dias a Dubai”, disse o Vaticano nesta terça-feira.

O papa concordou em não viajar “com grande pesar”, segundo a nota. Possibilidades de participação à distância na COP28 estão sendo estudadas, afirmou também o Vaticano.

Além do discurso previsto para o próximo sábado, o papa faria reuniões bilaterais com cerca de 30 pessoas, incluindo aproximadamente 20 chefes de Estado.

Hoje, no Vaticano, Francisco se reuniu com bispos espanhóis que estão em uma visita.
No último sábado (25), a agenda do papa foi cancelada em razão da gripe, e ele foi a um hospital de Roma para fazer exames. Uma tomografia computadorizada excluiu o diagnóstico de pneumonia, mas detectou inflamação no pulmão, o que causa dificuldades respiratórias. Ele está recebendo antibióticos por via intravenosa, conforme o Vaticano.

No domingo (26), o papa recitou a oração do Angelus em Santa Marta, a sua residência no Vaticano, com transmissão em telão para fiéis na praça de São Pedro. O argentino costuma utilizar para o Angelus uma janela do palácio com vista para a praça.

Francisco tem feito da proteção ambiental um dos pilares do seu pontificado. Em textos e discursos, tem denunciado a inação dos países desenvolvidos contra a crise do clima e pedido que reduzam drasticamente a emissão de gases causadores do efeito estufa.

Em um documento publicado em 4 de outubro, o pontífice fez um apelo aos negacionistas da mudança climática e a políticos relutantes sobre a questão para que mudem de opinião.

Um fracasso em Dubai, disse Francisco no texto, “será uma grande decepção e colocará em risco tudo de bom que foi alcançado até agora”.

No documento, ele afirma que as causas humanas do aquecimento global não podem ser ignoradas nem a ciência ridicularizada enquanto o planeta “pode estar chegando ao ponto de ruptura”.

“Se houver um interesse sincero em tornar a COP28 histórica (…) cabe esperar apenas formas vinculantes de transição energética que tenham três características: que sejam eficientes, que sejam obrigatórias e que possam ser facilmente monitoradas”, destaca também no texto.

O documento, conhecido como Exortação Apostólica e intitulado “Laudate Deum” (louvado seja Deus), foi uma continuação da encíclica de 2015 de Francisco sobre o meio ambiente “Laudato Si” (louvado seja), que precedeu a conferência climática na qual foi assinado o Acordo de Paris.

Problemas de saúde

A saúde de Francisco deteriorou-se nos últimos anos, forçando-o a viajar em uma cadeira de rodas, enquanto continuam as especulações sobre a sua possível renúncia do cargo. Em 2021, o chefe da Igreja Católica foi submetido a uma cirurgia no cólon e, em 2023, foi hospitalizado duas vezes, uma delas para uma operação no abdômen.

A cirurgia foi para reparar uma laparocele, tipo de hérnia que se forma pela falha da cicatrização de uma operação anterior. No caso do papa, um procedimento para tratar de diverticulite, feito em 2021, é apontado como o provável fator que levou ao quadro.

Em março deste ano, o papa recebeu o diagnóstico de bronquite e ficou cinco dias internado —o pontífice é mais suscetível a doenças respiratórias por ter retirado parte de um dos pulmões quando tinha por volta de 20 anos.

Com informações da Folha de S.Paulo