Testagem e vacinas evitaram tragédia maior

Em 11 de março de 2020, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarava que o mundo vivia uma nova pandemia —quando uma doença atinge nível global afetando grande número de pessoas.

Um século após a tragédia da gripe espanhola, o novo coronavírus já matou mais de 6 milhões de pessoas —sem contar mortes subnotificadas— e passou por mutações que o tornaram mais contagioso.

A falta de cobertura vacinal em nível global e uma taxa alta de transmissão no mundo, segundo a OMS, são fatores que mantêm o status de pandemia e não permitem estimar quando ela chegará ao fim.

Em meio a incontáveis incertezas, há motivos para esperança.

“A gente pode estar a caminho de um fim próximo no sentido de redução de casos e controle da doença, mas é difícil de bater o martelo a respeito porque a gente não controla o que vem pela frente, que são as próximas variantes e como que a nossa imunidade vai interagir com elas”, diz Átila Iamarino.

“Um sinal muito bom e claro de que a gente pode esperar dias mais tranquilos é a efetividade das vacinas: elas continuam funcionando contra a hospitalização e óbitos, mesmo com as variantes”, completa o microbiologista e divulgador científico.

Especialistas em saúde alertam, contudo, que é equivocado assumir um clima de “fim de pandemia” —embalado pela desobrigação de máscaras em capitais brasileiras e festejos de Carnaval.

A vacinação mudou o curso da doença, mas a desigualdade no acesso ao imunizante no mundo amplia as chances de novas variantes do vírus.

Sob críticas quanto à condução do combate à doença pelo governo federal, o Brasil já registrou mais de 654 mil óbitos em decorrência da covid-19 —segundo país com mais mortes no mundo, atrás, apenas, dos Estados Unidos.

A queda da letalidade gera hoje um debate de que a pandemia estaria prestes a se tornar uma endemia, quando uma doença é recorrente, mas não há aumento significativo de casos e a população convive com ela.

A questão, portanto, tem a ver com uma possível estabilidade nas estatísticas. Quando os números de uma doença fogem do controle, a situação evolui para uma epidemia (se a enfermidade for localizada em uma região) ou para uma pandemia (caso a crise se alastre por continentes).

Pandemia no fim? OMS não vê isso
A OMS diz que é prematuro falar que a pandemia está perto do fim. “É muito cedo para cantar vitória. Ainda há muitos países com baixa cobertura vacinal e alta transmissão”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Mas o que levaria a OMS a declarar o fim da pandemia?

Especialistas dizem que não há uma fórmula ou indicadores exatos que determinem quando o mundo deixará o status pandêmico. A decisão é colegiada e depende da avaliação de países e seus representantes na OMS.

Dois anos depois, a receita para debelar a pandemia segue a mesma: amplo acesso à vacinação e a redução cada vez maior da transmissão do coronavírus.

Paulo Petry, epidemiologista e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), explica que a doença ainda abrange o mundo inteiro. E que, com o controle da transmissão e menos hospitalizações, ela pode se tornar endêmica. No entanto, há incertezas de quando isso deve ocorrer.

“O caráter de pandemia é decretado em função da alta mortalidade e de abranger todos os continentes —nenhum país se livrou da covid. Na medida em que os países vão controlando, há menos internações e passa a ser uma doença endêmica. Ou seja: ela não vai mais desaparecer, mas vai ser controlada por vacinas.”

Para o cientista Miguel Nicolelis, os dados ainda não dão segurança para que o fim da pandemia seja decretado, uma vez que muitos países continuam com números altos de casos e de mortes.

“A pandemia envolve ondas nos países, com picos e vales —depois se invertem. Estamos entrando agora em vale aqui [no Brasil], depois de um número brutal de casos. Não vejo sinal de endemia, nem aqui, nem no mundo”, diz.

E se virar endemia?

Passado o pico da variante ômicron em janeiro e fevereiro, o Brasil observa queda de casos e de mortes. Na última semana, o recuo ou estabilidade nos números abrange todos os estados, com exceção do Amapá.

A média diária de óbitos no país foi de 505 na quarta-feira (9) —redução de 57% ante a média de 880 mortes registradas há um mês.

O cenário alavancou o debate sobre o status de pandemia dar lugar ao de endemia —inclusive o Ministério da Saúde fala isso.

Mesmo que vire uma endemia —sem aumento significativo de casos—, a infectologista Vera Magalhães defende a manutenção de ações e cuidados.

“Temos doenças endêmicas aqui como tuberculose e gripe, por exemplo, que com seus surtos epidêmicos levam a óbito muitas pessoas por ano”, compara a professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Ela se mostra preocupada com ações de governos, como do Rio e de São Paulo, que retiraram a obrigatoriedade de máscaras. A especialista pontua que a imunidade gerada pelas vacinas atuais previne formas graves da doença, mas não a infecção. “A circulação viral continua a existir.”

“A faixa etária abaixo dos cinco anos não dispõe de vacina e a dose de reforço só foi aplicada em 30% da população. Ou seja, ainda não podemos prescindir das máscaras.”

Com informações do Uol