O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, confirmou em coletiva na tarde desta quinta-feira (16) que o governo federal decidiu suspender a recomendação de vacinar irrestritamente adolescentes entre 12 e 17 anos. Agora, a orientação do Ministério é que só sejam vacinadas pessoas nessa faixa etária com deficiências permanentes, comorbidades ou privadas de liberdade.
Em 2 de setembro, o Ministério havia publicado uma nota informativa recomendando a vacinação de todo esse público. Durante a coletiva, Queiroga afirmou que “de forma intempestiva” quase 3,5 milhões de crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos receberam a vacina. Desse total, 1,5 mil apresentaram eventos adversos.
A crítica do chefe da pasta é que os estados iniciaram as aplicações antes da data prevista na nota técnica anterior. Secretários de Saúde demonstraram surpresa pela suspensão da imunização de crianças e adolescentes sem uma deliberação tripartite. “Quem fica surpreso sou eu. Porque a vacinação deveria iniciar no dia 15 [de setembro] e, inclusive, foram feitas imunizações com vacinas fora das recomendações da Anvisa.”
O ministro explicou que a mudança foi feita “por conta dos eventos adversos e porque o próprio Reino Unido retirou […]. A evidência científica não é sólida”. Questionado pelo R7 sobre o motivo de ter recomendado a aplicação em toda a faixa etária anteriormente, mesmo sem as mencionadas evidências científicas, Queiroga justificou: “a decisão pode ser baseada em especialistas. A medicina e a ciência são dinâmicas e a posição das autoridades regulatórias sanitárias pode mudar”, disse, exemplificando com a suspensão anterior da vacina AstraZeneca no caso das gestantes.
Queiroga afirmou, ainda, que aqueles adolescentes que já tomaram a primeira dose não devem completar o esquema vacinal, exceto se fizerem parte dos grupos prioritários. A nova orientação vale “até que se tenha mais evidências para seguir adiante.”
Os adolescentes com comorbidades que receberam a primeira dose da vacina que não a da Pfizer também terão o esquema vacinal interrompido, segundo a recomendação do Ministério. “Não vou autorizar intercambialidade de doses nessa faixa etária”, disse Queiroga.
Governos locais
Depois da nova recomendação, que foi divulgada pela imprensa na manhã de hoje, Natal e Salvador já anunciaram a suspensão.
No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou ao R7 está suspenso o início da vacinação contra a Covid-19 para adolescentes a partir de 13 anos. O recuo veio minutos depois do anúncio da ampliação da campanha para essa faixa etária nesta sexta-feira (17). Ele confirmou a informação via Twitter:
Segundo Ibaneis, está prevista para esta sexta-feira (17) uma reunião com o Ministério da Saúde, que deve orientar sobre o prosseguimento da imunização para esse público. O chefe do Executivo assegurou que adolescentes de 14 e 15 anos continuarão a ser imunizados na capital federal.
No Estado de São Paulo, a vacinação de adolescentes continua. O governador João Doria fez o anúncio via Twitter:
A Prefeitura de Goiânia anunciou que vai manter a vacinação para adolescentes a partir dos 17 anos. De acordo com o governo da cidade, a decisão de manter a campanha é embasada na reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) realizada na manhã desta quinta-feira.
A Prefeitura de Belo Horizonte (MG), por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou que segue as orientações do Programa Nacional de Operacionalização da Covid-19, que revisou a recomendação para imunização contra a Covid-19 em adolescentes de 12 a 17 anos. Até o momento, a cidade vacinou apenas os adolescentes com comorbidades e deficiência permanente e vai seguir a determinação do Ministério da Saúde.
Nova recomendação
O documento com a nova orientação, que consta no Sistema Eletrônico de Informação (SEI), diz que a “Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, na Nota Técnica nº 40/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/MS, revisou a recomendação para imunização contra COVID-19 em adolescentes de 12 a 17 anos, restringindo o seu emprego somente aos adolescentes de 12 a 17 anos que apresentem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade, apesar da autorização pela Anvisa do uso da Vacina Cominarty (Pfizer/Biontech).”
Entre as justificativam que constam no documento para a não imunização do grupo estão: a Organização Mundial de Saúde não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades; a maioria dos adolescentes sem comorbidades acometidos pela Covid-19 apresentam evolução benigna, apresentando-se assintomáticos ou oligossintomáticos; somente um imunizante foi avaliado em ECR; os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos.
O documento tem assinatura de Rosana Leite de Melo, secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, e foi assinado eletronicamente em 15 de setembro, às 21h30.