Bahia foi o estado que mais desmatou, segundo o Inpe. (FOTO: Edilson Dantas/O Globo)

O desmatamento na Amazônia já atingiu quase 8 mil km² até agosto deste ano, de acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia ( Imazon ). Com isso, mesmo ainda longe de terminar o ano, 2022 já superou os números de desmatamento do ano passado inteiro e já acumula a maior devastação registrada nos últimos 15 anos.

Só no mês passado, 1.415 km² de floresta foram perdidos, o que equivale a uma área quatro vezes maior do que a cidade de Belo Horizonte (MG).

Desde 2018, os números do desmatamento não param de crescer. De 1.865 km² de floresta derrubada em 2017, o número pulou para 3.914 km² no ano seguinte. Em 2019, foram 4.234 km² destruídos. Em 2020, 5.190 km². Em 2021, a área desmatada alcançou 7.715 km². Agora, no acumulado apenas até agosto, o ano de 2022 já chega a 7.943 km².

De acordo com a pesquisa, a degradação florestal, processo que costuma preceder o desmatamento, acontece a partir da extração de madeira e as queimadas, que cresceram 54 vezes na região em relação ao mesmo mês do ano passado. A área degradada passou de 18 km² em agosto de 2021 para 976 km² em agosto de 2022, uma alta de 5.322%.

Os pesquisadores ressaltam que , além de ameaçar diretamente a vida de povos e comunidades tradicionais e causar perdas na biodiversidade, esse aumento na destruição também afeta a camada de ozônio e contribui para o aquecimento global em um momento de emergência climática. Nesta sexta-feira (16), é celebrado o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU).

“Já passamos da metade do ano e o que vem acontecendo são recorrentes recordes negativos de devastação da Amazônia, com o aumento no desmatamento e na degradação florestal. E infelizmente temos visto ações insuficientes para combater esse problema”, comenta a pesquisadora Bianca Santos, do Imazon.
Antecipar é possível

O instituto explica que classifica como desmatamento quando a vegetação foi totalmente removida, o chamado “corte raso”, e como degradação florestal quando parte da mata foi retirada por causa da extração de madeira ou afetada pelo fogo. Por isso, é comum que uma área classificada como degradada seja posteriormente desmatada.

“Em muitos casos de áreas que sofrem degradação florestal por exploração madeireira, após a retirada total das espécies de valor comercial, é feita a remoção completa das árvores para destinar aquela área a outros tipos de uso, como por exemplo a agropecuária ou até para a especulação imobiliária, no caso da grilagem”, acrescenta Bianca.

“Se os órgãos ambientais agirem para proteger as áreas degradadas recentemente, podem evitar que elas sejam desmatadas nos meses seguintes.”
Pará lidera desmatamento

Apesar da área destruída na Amazônia em agosto deste ano ter sido 12% menor do que no mesmo mês de 2021, quando foram desmatados 1.606 km², a pesquisadora pondera que ainda não há motivos para comemorar. Isso porque a devastação de 2022 foi a terceira pior para o mês de agosto desde 2008, quando o instituto implantou seu Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). O segundo pior ano foi 2020, quando 1.499 km² de floresta foram postos abaixo.

“Nesses três estados, assim como nos outros que compõem a região, estamos identificando o avanço do desmatamento nas florestas públicas não destinadas. São áreas pertencentes aos governos dos estados ou federal que ainda não tiveram um uso definido, cuja prioridade estabelecida em lei é para a criação de novas áreas protegidas, como terras indígenas ou quilombolas e unidades de conservação. Porém, por essa falta de destinação, essas terras acabam sendo as preferidas dos grileiros, que as invadem com a expectativa de obter a posse”, conclui.

Já o estado que teve a maior área de floresta degradada em agosto foi Mato Grosso (657 km²), o que representa 67% do registrado em toda a Amazônia. Pará (240 km²) e Acre (28 km²) ficaram em segundo e em terceiro, com respectivamente 25% e 3% das áreas degradadas na região.