Movimentação na fila dos fãs para o 2 dia de show da cantora Taylor Swift - Foto: Pedro Kirilos / Estadão

O primeiro show da turnê “The Eras Tour” da cantora Taylor Swift no Brasil ocorreu no Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, 17 – dia em que a cidade registrou sensação térmica recorde de quase 60°C. Com um público de cerca de 60 mil pessoas, o evento foi marcado pelo forte calor, com pessoas passando mal, não conseguindo água e desmaiando. O show estava marcado para 19h30, mas boa parte da plateia chegou durante o dia e passou horas nas filas antes de entrar, enfrentando as altas temperaturas. Uma fã que estava no estádio, Ana Clara Benevides, de 23 anos, passou mal e morreu no início do show.

O Estadão consultou médicos para entender o que acontece com o nosso corpo em temperaturas muito altas e como é possível se prevenir nessas situações.

Por que passamos mal no calor?

Segundo Marcelo Ferraz Sampaio, médico cardiologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, há uma série de possíveis impactos para o corpo humano quando ele está sob calor extremo. Ele explica que, nessas situações, o corpo, para manter a temperatura interna estável, desvia o fluxo sanguíneo para a região da pele e aumenta a produção de suor, tentando se resfriar. “Se a pessoa não estiver com um nível de hidratação apropriado, só com essa situação já vai haver redução da pressão arterial, podendo causar mal estar e desmaios”, diz.

Nessa situação, o suor, diz o especialista, serve como um mecanismo de compensação, mas ele também causa a perda de água e de eletrólitos, como sódio, potássio e magnésio, podendo causar a chamada “fadiga pelo calor”. “Essa condição pode envolver dor de cabeça, mal estar geral, fraqueza, náuseas e vômitos. E pode haver uma evolução às vezes para quadros até mais graves, como, por exemplo, arritmias cardíacas”, diz o médico.

A cirurgiã vascular Cristienne Souza aponta que, quando as pessoas enfrentam temperaturas elevadas em eventos com muita gente, como shows, a situação pode ser ainda pior. “O corpo aumenta a sudorese para promover o resfriamento, mas, em ambientes superlotados e quentes, essa capacidade de dissipação térmica pode ser comprometida”, afirma.

Outras consequências também podem ir aparecendo conforme o cenário é prolongado. “Se for mantida uma situação de calor exacerbado, sem a hidratação adequada, haverá um aumento dos batimentos cardíacos, gerando um mal estar. Também vai aumentar a espessura do sangue, é o engrossamento do sangue, formando coágulos que podem gerar determinados fenômenos embólicos, podendo levar a infarto, AVC ou derrame”, explica o cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio.

Em casos mais extremos, de períodos muito longos sob temperaturas altas, pode haver até mesmo complicações mais graves, como a hemólise, que é uma destruição das hemácias, ou a rabdomiólise, que é uma ruptura muscular que leva a uma lesão renal aguda, afirma o médico. “Esses fenômenos, que podem ser desde leves até exacerbados, vão depender se o calor é muito forte, se a pessoa está diretamente exposta e se não está ocorrendo uma hidratação adequada”.

Como se prevenir para não passar mal no calor extremo?

Os médicos apontam uma peça chave no cuidado com a saúde em momentos de calor extremo: a hidratação.

No caso do show da Taylor Swift, a Tickets for Fun, responsável pela organização, foi alvo de críticas por vetar a entrada de água, que estava sendo vendida dentro do estádio. Por conta da demanda, no entanto, fãs não conseguiam comprar, com a própria cantora fazendo apelos pela distribuição de água de cima do palco. Com isso, o governo anunciou nova regra, que permite a entrada de garrafas de água para uso pessoal em shows a partir deste sábado, 18. A Tickets For Fun também afirmou que vai reforçar o fornecimento de água gratuita nas filas e no estádio e permitir a entrada de garrafas plásticas flexíveis.

“É preciso estar absolutamente hidratado e não basta só tomar líquidos antes, é preciso tomar líquidos o tempo todo. Com temperaturas muito elevadas você tem que manter essa hidratação, que tem que ser uma combinação de água, água de coco, líquidos isotônicos, para que possa realmente repor também eletrólitos”, diz Marcelo Ferraz Sampaio, da Beneficência Portuguesa. “Parece que houve um problema em relação a essa questão de não poder entrar com água, mas a própria organização poderia fornecer hidratação, além de colocar lugares ventilados e lugares sem fluência de público onde as pessoas que passam mal possam ir para descansar, se hidratar, ou até deitar”.

“Do ponto de vista individual, além da hidratação antes e durante o evento, também é recomendado ingerir alimentos leves, evitar bebida alcoólica e cafeína, movimentar as panturrilhas com frequência enquanto estiver parado em pé e usar roupas leves e proteção solar”, indica a cirurgiã vascular Cristienne Souza. Outra recomendação é cobrir a cabeça, para não ficar muito exposta ao sol.

Também é preciso estar atento aos indivíduos mais vulneráveis a passar mal e ter complicações sob calor intenso, como aqueles com condições médicas preexistentes, pessoas que fazem uso de algumas medicações, idosos, crianças, gestantes e pessoas com problemas cardíacos ou respiratórios. Outro ponto de atenção são pessoas que beberam demais ou usaram drogas ilícitas, diz o cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio, da Beneficência Portuguesa.

O que fazer se estiver passando mal por conta do calor?

Segundo os médicos, é imprescindível que as pessoas estejam se hidratando adequadamente. Ao perceber sintomas como mal estar, fraqueza ou sensação de desmaio, ações como procurar um local mais fresco e arejado, deitar imediatamente e afrouxar as roupas podem ajudar, mas é preciso também procurar imediatamente um posto de assistência médica para ser atendido.

*Com informações de Terra