(Foto: Flickr)

Em vez de choramingar à toa, nós, amazonenses, deveríamos encarar com naturalidade o fato de Belém, capital do Pará, ter sido escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sediar a 30ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 30).
A escolha, certamente, teve muito a ver – e não poderia ser diferente – com o forte apoio político conferido a Lula nas eleições de 2022 pelos moradores de Belém, enquanto a população amazonense, seguindo a batuta do governador Wilson Lima (União Brasil) e do prefeito David Almeida (Avante), preferiu caminhar com Jair Bolsonaro, apesar deste haver feito coisas do arco da velha para ferir de morte a Zona Franca de Manaus ao longo do seu reinado no Palácio do Planalto.

Não é correto, portanto, os amazonenses reclamarem da escolha de Lula. Além disso, o Pará ficou pior que o Amazonas no ranking dos estados mais destruídos pela absurda política ambiental do governo Bolsonaro. E, como dizia Jesus, “são os doentes que precisam de remédio”.

O que os amazonenses devem fazer agora é cuidar de se reorganizar para aplacar, em parceria com o Governo Federal, os desastres ambientais que evoluem em ritmo perigoso no Estado. Ao mesmo tempo, devemos saber lidar com a nova ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, hostil à conclusão da BR-319 desde os tempos em que ocupou a pasta na década de 2000.

Mas, a propósito de Marina, talvez ela não esteja tão equivocada quanto a BR. Lembro-me que, em determinada ocasião, o saudoso arquiteto José Henriques Bento Rodrigues, o Zé Henrique, falecido em 2002, disse-me que a BR-319 teria que ser mais questionada. Segundo ele, a rodovia teria sido construída com o traçado errado e por isso não beneficiava a contento as cidades da calha do Rio Madeira, com exceção de Humaitá.

Em vez dessa rodovia, que tal o Amazonas passar a se preocupar, por exemplo, com a luta em favor de outras questões e alternativas pertinentes à polêmica, como a atualização do Plano Rodoviário do Amazonas e a recriação do Departamento de Estradas de Rodagem do Amazonas DER-AM para realizar a manutenção e conservação das rodovias estaduais ?

Há pouco tempo, entrevistei o presidente da Associação dos Amigos e Defensores da BR-319, André Marsílio, que, mesmo sem abrir mão da BR-319, considerou a necessidade do debate em torno dessa nova pauta que inclui também a proposta de construção da Rodovia AM-366 (“Transpurus”), que conectaria Tapauá à BR-319 e à Coari, e a construção da ponte sobre o Rio Solimões ligando Manacapuru à Manaquiri com acesso à BR-319 pela Rodovia AM-354.

Outra proposta envolveria o balizamento e a sinalização dos rios que banham o nosso Estado. Há décadas batemos na tecla da conclusão da BR-319, mas nos esquecemos da bandeira, premente, da melhor estruturação do nosso transporte hidroviário. Entregues à própria sorte, os nossos rios permanecem entregues aos chamados “piratas”, que aterrorizam embarcações e ribeirinhos do Alto Solimões ao Baixo Amazonas, já tendo causado prejuízos de mais de R$ 100 milhões à indústria do Estado. Que tal a nova polêmica para fazermos avançar a nova pauta ?

*Por Juscelino Taketomi