O ativista Thiago Ávila fala na chegada dos integrantes da delegação brasileira da Flotilha Global Sumud ao aeroporto internacional de Guarulhos - Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

Treze brasileiros, entre eles a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), chegaram hoje ao Brasil, após serem presos por Israel quando estavam a bordo da flotilha que tentava chegar a Gaza.

Brasileiros desembarcaram nesta manhã no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Além da deputada, compõem o grupo o ativista Thiago Ávila e a vereadora de Campinas (SP) Mariana Conti (PSOL), entre outros ativistas.

Familiares, diversos militantes de esquerda e apoiadores receberam o grupo no saguão com gritos e aplausos. Políticos como as deputadas federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e a estadual Mônica Seixas (PSOL) marcaram presença.

Os brasileiros chegaram com lenço palestino em volta do pescoço. Alguns estavam vestidos com um moletom cinza, roupa usada na prisão onde ficaram em Israel. Parte do grupo segurava também a bandeira da Palestina nas mãos, e outros, a camiseta “Free Palestina”. Eles afirmaram que o exército israelense não devolveu seus pertences.

“A gente passou por muitas dificuldades, mas temos certeza que essas dificuldades não chegam nem próximo ao que o povo palestino cotidianamente vem sofrendo. Então, para nós, não teve melhor notícia do que saber que hoje há um cessar-fogo momentâneo.” falou a Deputada Luizianne Lins (PT-CE).

O grupo disse que, apesar de a flotilha ter sido interceptada, os palestinos conseguiram ter acesso às comidas levadas por eles. A Global Sumud (palavra que significa “resiliência” em árabe) saiu de Barcelona no começo de setembro e estava próxima da costa do enclave palestino, portando alimentos e medicamentos.

“Nada indica, nos acordos de cessar-fogo, que o cerco ilegal de Israel ou dos Estados Unidos, ou qualquer outra nação, sobre Gaza vai acabar. Portanto, a Flotilha Global Sumud vai continuar se mobilizando. Enquanto o povo palestino não gerir suas próprias fronteiras, ele ainda vai continuar precisando de ajuda humanitária. O povo palestino precisa da sua independência e sua própria soberania.” disse Thiago Ávila, ativista.

“Naquela prisão que estávamos, palestinos foram torturados até a morte e eles queriam fazer isso conosco. Mas a corrente do mundo todo deu força para nós. O povo palestino precisa dessa força.” afirmou Mohamad el Kadri, médico e coordenador do Fórum Latino Palestino.

O grupo de brasileiros foi deportado anteontem por Israel para a Jordânia, segundo o Itamaraty. O órgão informou que os ativistas foram recebidos por diplomatas das embaixadas de Tel Aviv e Amã na fronteira e, depois, transportados de carro para a capital do país.

Antes de voltar ao Brasil, a deputada afirmou que o grupo foi sequestrado por Israel. Segundo Luizianne, eles ficaram presos por seis dias em um presídio de segurança máxima.

Cessar-fogo em Gaza

O governo de Israel anunciou hoje que o cessar-fogo em Gaza deve começar amanhã. O fim dos ataques começará 24 horas após o fim da reunião no gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, marcada para 18h local de hoje (12h no horário de Brasília. O encontro vai discutir os detalhes do cessar-fogo, anunciado ontem como parte do plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para encerrar a guerra que já dura dois anos.

Tropas das Forças de Defesa do país, que hoje coordenam uma incursão na Cidade de Gaza, vão recuar durante o período de 24 horas. Segundo a porta-voz, eles vão para uma zona previamente apontada pelo governo dos EUA.

A porta-voz do primeiro-ministro, Shosh Bedrosian, afirmou hoje que, após as 24 horas, começa o prazo de três dias dado pelos EUA para libertar os reféns. Expectativa é de que os reféns sejam entregues até a segunda-feira e Israel está preparado para recebê-los, afirmou a porta-voz.

O acordo sobre a primeira fase do plano marca um avanço significativo nos esforços para pôr fim ao conflito. A guerra já matou dezenas de milhares de pessoas, devastou o enclave palestino e elevou as tensões em todo o Oriente Médio.

Entenda o caso da flotilha

Flotilha Global Sumud (“resiliência” em árabe) zarpou em setembro de Barcelona levando a bordo ativistas e personalidades políticas. Os grupos viajaram em embarcações separadas e chegaram perto das águas do enclave no começo de outubro, após um mês de viagem.

Na quarta-feira (1º), a Marinha israelense começou a interceptar embarcações. Entre os ativistas detidos estavam representantes do Brasil, Argentina, México e Espanha. A ativista sueca Greta Thunberg, o brasileiro Thiago Ávila, a ex-prefeita de Barcelona Ada Colau e Mandla Mandela, neto de Nelson Mandela, também estavam nas embarcações.

Flotilha afirma que tem intenção de transportar ajuda para o território palestino que, segundo a ONU, sofre com a fome extrema. No entanto, Israel impõe um bloqueio naval no entorno do território, onde há quase dois anos seu exército trava uma guerra contra o movimento islamista palestino Hamas, iniciada após o ataque de 7 de outubro de 2023.

O ataque do grupo extremista em 7 de outubro de 2023 provocou a morte de 1.219 pessoas em Israel. A maioria das vítimas é composta por civis, segundo um balanço da AFP com base em fontes oficiais.

A ofensiva israelense em represália matou pelo menos 66.225 pessoas na Faixa de Gaza, também civis na maioria. Os dados são do Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.

*Com informações de Uol