O pastor Eduardo Mascarenhas manipula o boneco Xaropinho durante culto - Foto: Arquivo pessoal

Se você cresceu ao longo dos anos 90, certamente já caiu na risada ao ouvir o boneco Xaropinho fazer piadas e até “confrontar” o apresentador Ratinho em seus programas na Record e, atualmente, no SBT. Já parou para pensar em quem criou o personagem e dá voz a ele na televisão?

O dono do icônico personagem que marcou história na TV brasileira é Eduardo Mascarenhas. Humorista, escritor, roteirista e pastor, ele aprendeu a criar bonecos na adolescência, persistiu na luta por uma chance na TV até conhecer o Ratinho e está no ar até os dias de hoje consolidado como um parceiro do apresentador.

“O Ratinho foi um um divisor de águas. Ele meu deu oportunidade de fazer o trabalho de boneco. Se o Xaropinho é um fenômeno ou foi um fenômeno, foi por causa do Ratinho”, declara ele, em entrevista exclusiva a Splash.

Splash bateu um papo exclusivo com Eduardo Mascarenhas, o dono da voz do Xaropinho, e conta sobre a vida, carreira, os feitos e sonhos do artista.

Quem é Eduardo Mascarenhas?

Eduardo Mascarenhas começou a trabalhar aos 14 anos como office boy, em São Paulo. O “faz-tudo” do escritório ganhou fama também pelo talento com caricaturas e foi alertado pela então chefe que Ely Barbosa – famoso publicitário que trabalhava com histórias em quadrinho – estava contratando roteiristas.

“Cheguei lá sem material nenhum e fui contratado na hora. Bolei uma história, fiz uns desenhos e o Ely gostou do meu jeito. Ele abriu espaço pra eu começar a frequentar o estúdio.” contou Eduardo Mascarenhas

Pouco tempo depois, o jovem aproveitou a aproximação com a editoria Abril via o trabalho com Ely e pediu uma chance na Disney. “Nem eu acreditava. Imagina que eu estava no segundo grau de manhã e à tarde eu ia pra casa fazer roteiro pra Disney com 15 anos”, lembra ele, que ficou responsável pela produção de histórias para Peninha, Urtigão, Zé Carioca, entre outros.

Com a alta concorrência da Marvel no mundo dos quadrinhos, Eduardo deixou o segmento e seguiu a vida em profissões como eletricista, responsável por gráfica e vendedor de motos. No entanto, o aprendizado de criar bonecos com Ely Barbosa voltou à mente e o deu a ideia de trabalhar com teatro de bonecos em escolas.

“Fui muito feliz quando eu tive a ideia. Bolei quatro palestras, cada uma com oito bonecos, e eu mesmo construí todos, porque vendi as palestras e não tinham os bonecos no mercado”, detalha.

O sucesso das apresentações infantis começou a fazer Eduardo Mascarenhas ouvir que seu lugar era na TV. “Os professores falavam: ‘Leva pra TV que seu trabalho é bom’. Levei meus bonecos pra algumas TV em algumas oportunidades e não fui aceito, não abriram as portas pra mim”, explica.

Destino e persistência

A série de negativas não era um sinal para desistir da TV. Após uma apresentação em uma escola próxima à RecordTV, em 1997, Eduardo Mascarenhas foi convencido por um de seus funcionários em aparecer na emissora do bispo Edir Macedo para mostrar o seu trabalho.

Ainda contrariado, ele se recusou a descer da kombi para entrar no canal, mas acabou sendo surpreendido ao ver que um produtor do “Ratinho Livre” apareceu com seu colaborador para conhecer os bonecos.

“Foi mágico e aí entra uma questão de fé, né? Eu creio que Deus tem o seu tempo certo para as coisas. Insisti tanto naquilo e não deu certo e, de repente, o inusitado aconteceu. Fui convidado pra assistir ao programa.” afirmou Eduardo Mascarenhas

Com os bonecos em punho, Eduardo foi chamado por Ratinho para mostrar suas criações — sendo que um deles era de um rato — em rede nacional. “Nessa brincadeira de fazer teatro nas escolas, eu construí uns 50 bonecos e dois eram ratos. Quando fui ao Ratinho, levei os dois ratos e um deles usava gravata e coloquei bigode e cassetete [para ficar igual a ele]. O Ratinho ficou feliz”, conta.

Ao final do “Ratinho Livre”, ele decidiu não ir embora para tentar falar com Ratinho, enfrentou seguranças e ganhou uma “ajudinha” de Rodolfo, da dupla ET e Rodolfo, para chegar ao apresentador.

“Rodolfo me viu lá meio alucinado e falou: ‘Garoto, você tem que ir embora’. Eu falei: ‘Não vou. Deus me trouxe aqui. Só saio se eu falar com o Ratinho’ e ele falou: ‘Vou colocar você num corredor que sai dos camarins. Se alguém perguntar quem te colocou ali, você vai dizer que ‘foi um anjo’. Quando ele falou isso, só reforçou o meu entendimento, a minha fé, né?” disse Eduardo Mascarenhas

Assim, Eduardo Mascarenhas pegou passe livre na Record e distribuiu bonecos aos funcionáios do canal enquanto corria pelas produções para aprender sobre a televisão

Quando a dupla ET e Rodolfo se mudou para o SBT, Edu se aproveitou da chateação de Ratinho para sugerir a inclusão do personagem do rato — já que o boneco de Louro José (Tom Veiga) fazia sucesso no extinto “Note e Anote” — como nova atração.

“Fui no diretor: ‘Põe o boneco porque se o Ratinho colocar no ar vai ser dele, a imagem do boneco vai ser dele. Então, se ele quiser colocar R$ 1 milhão no boneco e eu sair, o boneco continua com ele'”, recorda.

Empolgado com a proposta, o apresentador fechou parceria com a marca Estrela para vender os bonecos e Eduardo Mascarenhas se tornou a alma e voz do personagem que está até os dias atuais em seu programa — agora no SBT.

“A alma do Xaropinho é do amendoim, um personagem que fazia na escola. O nome Xaropinho veio mais ou menos dois meses após lançar o brinquedo. Lançou como Ratinho do Ratinho e o nome Xaropinho veio do próprio Ratinho, que tinha mania de chamar as pessoas de xarope”, lembra.

Vida religiosa

Vindo de família de pastores da Igreja Assembleia de Deus, Eduardo Mascarenhas não se considera famoso pelo sucesso do personagem e concilia a vida artística com a missão de mensageiro da palavra.

Após viver a experiência de pastor responsável por uma comunidade de Sorocaba, interior de São Paulo, o humorista hoje faz viagens pelas igrejas do Brasil e conta com a presença de Xaropinho em suas palestras.

“Sempre levei ele pra igreja. Gosto de levar o boneco nos lugares mais inusitados, improváveis, né? Tenho o prazer de estar nesses lugares e levar pra elas um tipo de arte que a gente faz, que é uma arte teatral cristã.” contou Eduardo Mascarenhas

O trabalho com o personagem que fazia piadas fortes na TV causou preconceito com Eduardo na igreja. “Hoje, eu não tenho problema nenhum, mas quando eu fazia isso há 25 anos tinha muito preconceito com o meu trabalho. Sofri muito dentro das igrejas. Sofri a ponto de não ser recebido, de a porta de igreja fechar na minha cara”, lamenta.

Nos dias atuais, o humorista curte a aceitação do boneco em suas palestras. “Quando eu chego lá com o Xaropinho, eu falo: ‘Você está na igreja’, ele pergunta: ‘Cadê o padre?’, e explico: ‘Tem igreja que tem padre, mas tem igreja que tem pastor. Essa aqui é igreja de pastor’. A gente vai explicando o evangelho como se fosse pra uma criança e se torna uma coisa leve e divertida”, relata.

“Quero fazer bolo”

A vida de Eduardo Mascarenhas é dividida entre os trabalhos artísticos e na igreja, mas não abre mão de guarda os finais de semana para estar ao lado da família.

“Só vivo pro Xaropinho e pra minha família. Estou no SBT de segunda a quarta-feira à noite gravando e também estou na Rádio Massa de segunda a sexta na Turma da Massa. Sobra tempo no sábado e domingo para almoçar com a família e curtir as minhas filhas”, explica.

Atualmente, Edu se matriculou num curso para aprender a fazer bolos e tem o sonho de ter uma vida tranquila após anos correndo pelo Brasil com o personagem Xaropinho e os trabalhos pela igreja.

“Tô fazendo bolo pra família toda. Meu sonho hoje é esse, é ter uma vida onde eu possa passar uns três, quatro dias por semana bem tranquilo, lendo, fazendo bolo.” afirmou Eduardo Mascarenhas

*Com informações de Uol