O escritor e jornalista Ruy Castro no evento de posse como imortal da Academia Brasileira de Letras (Foto: Tércio Teixeira / Folhapress)

Com um discurso que se iniciou equiparando a palavra ao fogo e à roda como as maiores descobertas da humanidade —”com a diferença de que a palavra continua a ser permanentemente descoberta”—, o escritor e jornalista Ruy Castro, de 75 anos, tomou posse como mais novo membro da Academia Brasileira de Letras

A cerimônia foi realizada na noite de ontem (3), na sede da ABL, no centro do Rio de Janeiro, com a presença de Fernanda Montenegro, Antonio Cicero, Zuenir Ventura, do Secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro Marcelo Calero, do diretor de redação da Folha Sérgio Dávila, e do editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, entre acadêmicos e convidados. O evento foi transmitido no site e no YouTube da instituição.

Ruy, que é colunista da Folha, ocupa a cadeira 13, que pertenceu ao diplomata, filósofo, antropólogo, tradutor e ensaísta Sérgio Paulo Rouanet, ex-ministro da Cultura, morto no dia 3 de julho de 2022, aos 88 anos.

Antes dele, a cadeira teve como ocupantes Francisco de Assis Barbosa, Augusto Meyer, Hélio Lobo, Sousa Bandeira, Martins Júnior, Francisco de Castro e o fundador Visconde de Taunay. O patrono da cadeira é o advogado e jornalista Francisco Otaviano (1825-1889).

Em sua fala, Ruy lembrou seus antecessores —e uma suposta maldição da cadeira 13, depois de seguidos acadêmicos terem ou ocupado o posto por pouco tempo ou nem terem conseguido sequer tomar posse.

Contou o impacto de ter entrado numa redação pela primeira vez e destacou três jornais nos quais trabalhou, em períodos específicos: o Correio da Manĥã, o Jornal do Brasil, e a Folha —veículo que, segundo o jornalista, praticamente sozinho, fez o Brasil sair às ruas pelas Diretas Já.

Seu discurso também prestou tributo ao patrono da cadeira 13, Francisco Otaviano. Ruy o descreveu como homem admirado por dom Pedro 2º e como o autor de “Ilusão da Vida”, poema que sobrevive na memória popular, a despeito de ter sido tomado como poeta menor.

Ruy defendeu a Lei Rouanet, criada por seu antecessor na cadeira, e foi aplaudido ao mencionar que ela foi atacada na pior guerra de um governo contra os artistas.

Biógrafo celebrado de figuras como Garrincha, Carmem Miranda e Nelson Rodrigues, Ruy recebeu 32 votos entre os 35 acadêmicos da ABL na eleição realizada em outubro de 2022.

Ao fim de seu discurso, afirmou que as figuras sobre quem escreveu estavam também, com ele, adentrando a Academia. Após sua fala, Ruy foi recebido com o discurso do acadêmico Antonio Carlos Secchin.

A carreira do jornalista começou cedo. Mineiro de Caratinga criado no Rio de Janeiro, aos 19 anos, em 1967, Ruy iniciou sua trajetória profissional como repórter no jornal carioca Correio da Manhã.

Ao longo das décadas seguintes, passou por muitos dos grandes veículos do país, como Manchete e Veja, além da Folha. Escreveu também em O Pasquim e na Playboy.

Na segunda metade da década de 1980, começou a se dedicar a projetos literários. O primeiro, de 1990, foi “Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova”, tido como fundamental para qualquer pesquisador do gênero.

A posse na ABL é mais um reconhecimento de uma carreira premiada. Ruy é vencedor do Prêmio Esso de Literatura, do Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira e de quatro Jabutis. Em 2022, ganhou o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.

“Estou aqui como escritor e jornalista”, disse Ruy, definindo-se como um “operário da palavra”, poucos minutos antes da cerimônia de posse. “Faço uso da palavra como ação. Estar aqui hoje é uma continuidade. Aprendi a ler não com a cartilha, mas com o jornal. Portanto, para mim, a palavra sempre foi ação.”

“A chegada de Ruy à ABL é um acontecimento muito importante”, afirmou o filósofo, letrista e acadêmico Antonio Cicero. “É um grande escritor, de enorme popularidade. E é mais um membro da Academia com interesse pela música popular.”

Com informações da Folha de S.Paulo