O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em coletiva para explicar as regras do plano de corte de gastos - Foto: Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que uma reunião com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que estava marcada para esta quarta-feira (13), foi cancelada após articulação da extrema direita brasileira. Ele falou em entrevista ao programa Estúdio I, da Globonews. “A militância antidiplomática tomou conhecimento e agiu junto a alguns assessores”, disse.

Força antidiplomática age contra interesses do país. Haddad disse que a reunião foi desmarcada após uma entrevista pública de Eduardo Bolsonaro, em que o filho do ex-presidente disse que agiria para que o encontro não ocorresse. “Aqui há uma força política que tem expressão na vida pública que está fazendo uma espécie de antidiplomacia a cada ação diplomática do governo. Recebemos essa informação dois dias depois do anúncio que eu fiz, em que o Eduardo publicamente deu uma entrevista que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos”, disse.

Nova reunião não tem data para ocorrer. Haddad diz que a reunião foi desmarcada por email, e que não foi marcada uma nova data. Segundo Haddad, a justificativa foi falta de agenda. “Tentamos junto à assessoria do Secretário do Tesouro remarcar a reunião, mas logo percebemos que não era o caso”, disse.

Em conversa em maio, Secretário do Tesouro dos EUA se mostrou desconfortável com taxa de 10%, diz Haddad. O ministro disse que, quando esteve com Scott Bessent em maio, foram tratados diversos temas, mas o assunto Bolsonaro não apareceu e não havia notícia da possibilidade de uma sobretaxa ao Brasil. “Na minha conversa com ele em maio, ele se mostrou desconfortável com a tarifa de 10%. Eu dizia a ele: ‘como vocês vão impor tarifa para uma região que é deficitária em relação aos EUA?’ E ele disse: ‘Você tem um ponto, nós vamos negociar'”, disse.

EUA estão mudando sua relação com o mundo. O ministro afirma que, na sua visão, os EUA estão mudando sua relação com o mundo e que não se trata de uma questão ideológica. “Não é uma questão ideológica, governos mais amigos ou menos amigos. O que ele esta fazendo com a Índia mostra que é uma mudança de postura geopolítica”, disse.

Pacote de ajuda a exportadores

MP trará recursos que vão do financiamento às compras públicas. Haddad elencou algumas das medidas previstas na Medida Provisória que será apresentada pelo governo para ajudar os setores atingidos pelo tarifaço. “Tem linhas de financiamento, questão tributária e tem compras governamentais. Estamos autorizando o poder público a fazer determinadas aquisições quando cabe”.

Manutenção de empregos está prevista, mas há flexibilidade. Segundo o ministro, a MP prevê a manutenção dos empregos para as empresas auxiliadas, mas o governo entende que nem todas conseguirão atender a essa demanda. “A manutenção de empregos está previsto na MP, obviamente teremos empresas que não poderão garantir, e a MP flexibiliza em alguns casos, com outros tipos de contrapartida. A MP tem que ter certa flexibilidade. São mais de 10 mil empresas, não vamos conseguir colocar todo mundo na mesma moldura.”

Pacote de ajuda a exportadores terá medidas estruturais. Haddad disse ainda que dentre as medidas apresentadas ao presidente Lula para ajudar os exportadores afetados pela tarifa de Trump há medidas estruturais que vão beneficiar as exportações brasileiras. “Para atendermos o exportador, incluímos na MP duas mudanças que envolvem o Fundo de Garantia para Exportações. Estamos fazendo uma reestruturação no FGE para garantir que toda empresa brasileira que tiver vocação de exportar vai ter instrumentos modernos para fomentar a exportação para o mundo inteiro, porque muitas empresas vão ter que mudar de destinos”.

Governadores de oposição

Fala de Tarcísio sobre negociação entre Lula e Trump é “no mínimo ingênua”, disse Haddad. Tarcísio cobrou recentemente uma ligação entre Lula e Trump para negociar sobre o tarifaço. “A afirmação do governador é no mínimo ingênua. De uma pessoa que talvez ainda não tenha o traquejo das relações internacionais”, disse Haddad. “Não funciona assim. Quando dois chefes de estado se falam, existe uma preparação prévia para que a reunião resulte na melhor condição de negociação para os dois países. Quando três ministros não estão conseguindo sequer sentar à mesa para dialogar, quando se encontra esse tipo de resistência, em função da atuação de pseudobrasileiros em Washington, penso que o governador está sendo um pouco ingênuo”.

Haddad criticou a postura de governadores de direita na crise do tarifaço. “A oposição está cometendo um erro grave. Os governadores de extrema direita que querem apoio do Bolsonaro em 2026 estão cometendo um erro. Estão colocando sua vaidade acima do interesse nacional. Isso não se faz. Temos 215 milhões de pessoas para alimentar. Você não coloca sua ambição pessoal acima do Brasil”, disse.

*Com informações de Uol