Reerguer a casa, garantir a formação de profissionais, viajar para rever a família ou recuperar a plantação. Esses são alguns dos diferentes planos para usar o dinheiro prometido por programas governamentais de transferência de renda ou acesso a direito para milhões de afetados pela crise socioambiental no Rio Grande do Sul.
Sobreviver e ajudar quem precisa
Sem emprego e ajudando outros profissionais. Fundadora do Quilombo Aéreo, iniciativa voltada à formação de profissionais para o setor aéreo viário, a comissária de voo Kenia Aquino perdeu trabalho e ganhou problemas desde que as águas do Guaíba tomaram a pista do aeroporto Salgado Filho nos primeiros dias do mês. As cheias atingiram também o local onde sua organização realiza atividades.
“A gravação das nossas aulas na sede Odabá, que reúne outros afroempreendedores, está suspensa pela inundação na Cidade Baixa. E temos outras urgências como cuidar de uma bolsista cuja casa foi alagada e precisará de suporte. Estamos ajudando pessoas ligadas ao projeto a organizarem as casas atingidas, além da necessidade de reparos em nosso espaço coletivo” afirmou Kenia Aquino
Uso do FGTS para atender a essas demandas e a se manter. Kenia diz que utilizará o saque calamidade para ter acesso a seu FGTS – o valor máximo liberado pela Caixa para a modalidade foi de R$ 6.220 – para resolver essas questões do espaço e para compensar a renda com a redução do trabalho. Com 16 anos no mercado da aviação a profissional, Kenia fez 29 voos em abril e viu sua atividade reduzir para 4 em maio.
Ainda cuida de desabrigados. Ela também está arcando com os custos extras por hospedar uma família do município de Guaíba, que precisou sair de onde vivia. “Moro no bairro Partenon e por aqui não alagou, então recebê-los é mais uma forma de contribuir, até pela situação de esgotamento de muitos abrigos. Sobre a situação do Salgado Filho preocupa muito. Estamos sem trabalhar desde que o aeroporto fechou o em 3 de maio”, explica.
Reencontrar a família
Farmacêutico pretende sair do ‘olho do furacão’ e ir para o Amazonas. Gean Freitas aguarda com expectativa a definição sobre o funcionamento do aeroporto para rever a família em Maués, no interior do Amazonas.
“Precisei sair do centro de Porto Alegre onde moro, pois estávamos sem água, luz e havia insegurança. Minha família a todo momento me mandava mensagens para saber da minha situação. Estou me organizando para ir visitá-los, cuidar da saúde mental é fundamental nesse momento.” afirmou Gean Freitas.
Vai usar o seguro-desemprego para viajar. Após desvincular-se de uma das principais redes de farmácia local onde trabalhou, ele pretende aproveitar a extensão de mais dois meses das parcelas do seguro desemprego para os afetados pelas enchentes para custear a viagem, de logística ainda a ser definida devido à incerteza sobre os serviços viários e aéreo.
“É comum no inverno amazônico as chuvas intensas causarem enchentes na maioria dos municípios do Amazonas. Em Maués presenciei algumas cheias históricas que mudavam a rotina da população. Curiosamente não sofremos tanto, pois era algo corriqueiro. Nos adaptávamos e seguimos a vida por ser algo natural na região, mas não há como negar que as coisas se intensificaram nos últimos anos e o resultado é o que estamos vivendo em relação a essa crise climática, ambiental e social.” disse Gean Freitas
Áreas rurais também foram atingidas
Limpeza de solo e compra de maquinário. No município de Nova Santa Rita o produtor de arroz orgânico Dinomar José Daniel aguarda a chegada dos R$ 2.500 do programa Volta por Cima do governo estadual – que exige inscrição no Cadastro Único – para amenizar as perdas em sua colheita.
“Usarei esse dinheiro para a limpeza do solo e do maquinário, mas só a troca dos rolamentos de uma colheitadeira pode custar esse valor caso esteja danificado. Tenho amigos que perderam tudo”, declara.
Plantação foi danificada com duas enchentes. “Já havia perdido minha plantação nas enchentes de setembro do ano passado e agora novamente vou ter prejuízos na colheita. O arroz é plantado em áreas planas e a correnteza quando vem dessa maneira provoca buracos ou amontoados de terra danificando o grão”, sublinha o agricultor, ressaltando ainda a possibilidade de dívidas de muitos produtores.
Retomada
Perdas em calculadas em R$ 40 bilhões. Das áreas rurais aos centros urbanos o ritmo da retomada da atividade econômica demandará recursos, tecnologia, mão de obra e tempo. As perdas no PIB (Produto Interno Bruto) do estado são calculadas em R$ 40 bilhões pela Fecomércio.