A planta Nepenthes rajah é uma verdadeira armadilha feita para atrair e capturar insetos e outros animais - Foto: Getty Images / iStockphoto

Ter um “selinho da Unesco” traz responsabilidades para qualquer parque ou edifício histórico, mas também é um chamariz danado, aproveitado sempre que possível pelo turismo local. Quando um lugar consegue mais de dois títulos então, é uma beleza. É que, além dos famosos títulos de patrimônio natural, cultural, misto ou imaterial da humanidade, a Unesco também elege reservas da biosfera e geoparques.

Reservas da biosfera são grandes biomas com fontes de água importantes e diversidade rica. Além disso, estão sob constantes ameaças provocadas pelos humanos. As Reservas da Mata Atlântica, no Paraná e em São Paulo, são um exemplo de patrimônio natural da humanidade que também são uma reserva da biosfera da Unesco.

Já os geoparques são, segundo a própria instituição, “áreas geográficas unificadas, onde sítios e paisagens de relevância geológica internacional são administrados com base em um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável”. No Brasil, até o momento, nenhum dos quatro geoparques (Araripe, Seridó, Caminho dos Cânions do Sul e Caçapava do Sul) é também um patrimônio natural.

Logo, ter os três títulos, já deu para perceber, é uma honraria para poucos. Este ano, Sabá, na Malásia, se juntou à Ilha Jeju, na Coreia do Sul, e a Shennongjia, na China, no seleto time de detentores da “tríplice coroa”. Todos asiáticos, até o momento, o que pode ser motivo de reclamação para os bairristas de plantão.

Quando falamos em Malásia, logo pensamos nas torres modernas de Kuala Lumpur. Mas o país também tem natureza exuberante, com praias e florestas de primeira. Sabá é o suprassumo disso.

Que lugar é esse

A Malásia é um país basicamente dividido em dois. Ela ocupa a ponta da Península Malaia e o norte da ilha de Bornéu (o sul da ilha faz parte da Indonésia e um pedacinho do norte é Brunei).

Sabá (ou Sabah) fica no extremo norte de Bornéu. A ilha é mundialmente famosa pela fauna. Pense no orangotango-de-bornéu e no incrível macaco-narigudo, por exemplo, e você terá noção do espetáculo local.

O Parque Nacional Kinabalu, na costa oeste de Sabá, é o primeiro patrimônio da humanidade malaio, eleito em 2000. Colado nele fica a reserva da biosfera da Cordilheira Crocker, designada em 2014. Este ano, a Unesco anunciou a criação do geoparque Kinabalu, sacramentando a tripla conquista de Sabá.

Vista panorâmica da cordilheira rochosa no Parque Nacional Kinabalu – Foto: Getty Images / iStockphoto

Dominado pelo Monte Kinabalu, com 4.095 metros de altitude, o parque nacional tem uma flora variada, de florestas tropicais a vegetação de altitude, que abrigam 326 espécies de aves e 100 de mamíferos. Uma montanha tão alta, pouco acima da Linha do Equador, é uma explosão de diversidade.

O Monte Kinabalu é o lar também da rainha das plantas carnívoras, a Nepenthes rajah. É uma espécie ameaçada de extinção, encontrada, na natureza, apenas nessa região.

A característica mais emblemática da planta é seu ascídio (órgão em forma de urna ou saco que aprisiona os animais e os digere no suco cáustico em seu interior). Ele pode chegar a 40 cm de altura e 20 cm de largura e é capaz de armazenar 3,5 litros de água e 2,5 litros de líquido digestivo.

Parece uma pequena privada. E assassina. É uma armadilha feita para atrair e capturar insetos, mas grande o suficiente para pegar animais maiores. Alguns vertebrados podem ser vítimas, e até ratos já foram observados nas “garras” da planta.

O “rajah” no nome científico da Nepenthes é uma referência ao passado colonial de Bornéu. A espécie foi descrita pela primeira vez pelo botânico inglês Joseph Dalton Hooker, em 1859, um ano depois de ela ser coletada pelo explorador Hugh Low, que era o administrador da Península Malaia, então uma possessão britânica.

Hooker a batizou em homenagem a James Brooke, o primeiro “rajá branco” de Sarawak, Estado que deu origem à Malásia moderna. Brooke foi um aventureiro inglês que ganhou status de monarca ao ajudar o debilitado sultanato de Brunei a conter revoltas populares e a enfrentar piratas. Seus sucessores ampliaram a área do país às custas de Brunei.

Hooker descreveu a planta como uma das espécies mais marcantes já descobertas. Não exagerou.

Com os recentes reconhecimentos da Unesco, o governo de Sabá comemorou o que tem tudo para ser um estímulo ao turismo local, o que poderá trazer benefícios para os 290 mil habitantes das comunidades locais.

O geoparque abriga muitas plantas e animais endêmicos. Só o Monte Kinabalu tem 90 espécies de orquídeas que existem apenas lá. Para quem não liga para orquídeas, só de saber que existem 90 espécies diferentes pode ser um choque (são 28 mil!, na verdade). Para fãs de orquídeas, Kinabalu é mais que um lugar curioso, é um paraíso.

*Com informações de Uol