Maria do Socorro no seu aniversário de 100 anos, em agosto de 2021, em Maceió - Foto: Samuel Soares / Arquivo pessoal

A população brasileira está ficando cada vez mais idosa, morando cada vez mais sozinha e de aluguel. Essas são algumas conclusões da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Dados da pesquisa

A amostragem da pesquisa atual foi feita com 168 mil domicílios. A série histórica da pesquisa começou em 2016, mas a última divulgação ocorreu em 2019, já que nos dois anos seguintes não houve coleta por conta da pandemia.

Em 2022, as mulheres correspondiam a 51,1% da população do país, enquanto os homens totalizaram 48,9%.

Nos últimos 10 anos, a população foi ficando mais velha, e o percentual de idosos a partir de 60 anos saltou de 11,3% para 15,1%. Ao mesmo tempo, o percentual de pessoas com menos de 30 anos caiu de 49,9% em 2012, para 43,3% em 2022.

A pesquisa revela que as mulheres são as que mais vivem essa longevidade. Entre a população acima de 60 anos, eram 78,8 homens para cada 100 mulheres vivas no ano passado.

É o caso da aposentada Maria do Socorro Barros, de 101 anos. Até hoje ela lê, faz exercícios diariamente e gosta de uma boa conversa. Moradora de Maceió, a idosa conta que hábitos alimentares saudáveis ajudam a explicar sua longevidade.

“Sempre disse que a pessoa, quando vive muito, é porque teve muito alimento bom, com carne boa e peixe fresco. E é preciso fé em Deus e ser fiel, porque a fidelidade é para acalmar a pessoa.” disse Maria do Socorro, que perdeu o marido em fevereiro quando ele tinha 100 anos.

Mais lares com uma pessoa só

Em 2022, o país tinha um total de 74,1 milhões de domicílios, sendo 85% casas e 14,9% apartamentos.

Cresce o percentual de domicílios que têm apenas um morador. Ano passado, era de 15,9% do total dos lares. Dez anos antes, eram apenas 12,2%.

Homens moram mais sozinhos do que as mulheres: dos que moram só, 55,4% são homens, enquanto essa porcentagem é de 44,6% para as mulheres.

“Ao analisar o padrão etário das pessoas em arranjos unipessoais, observou-se que 12,3% tinham 15 a 29 anos; 45,9% situavam-se na faixa de 30 a 59 anos; e 41,8% eram pessoas de 60 anos ou mais de idade.” afirma o Relatório Pnad.

Famílias nucleares são as formadas por casal, com ou sem filhos. As compostas são formadas por parentes próximos, com os quais criança ou adolescente convivem (tia ou avós, por exemplo). Já as estendidas têm pais, mas com filhos que têm vínculo consanguíneo com apenas um deles.

Mais pessoas precisam pagar aluguel no país, em relação às pesquisas anteriores. O percentual de inquilinos alcançou 21,1% do total de lares, contra 18,8% em 2016.

“Eu sou de Jundiá [AL] e vim para Maceió para começar a estagiar em 2017. No início, dividia apartamento com outros colegas, mas quando me formei passei a morar sozinho. Minha família continua morando no interior, e como não tenho familiares aqui, vou me virando. Até hoje não consegui realizar o sonho da casa própria.” afirma Alexandre Barbosa, 26, jornalista

Todas as regiões apresentaram crescimento do percentual de domicílios alugados em comparação a 2019, com destaque para Centro-Oeste (de 24,5% para 27,8%) e Sul (de 18,6% para 20,9%).

“Entre 2016 e 2022, observou-se uma contínua redução do percentual de domicílios próprios já pagos, que variaram de 66,7%, em 2016, para 64,8%, em 2019, e 63,8%, em 2022.” diz o Relatório Pnad.

País mais negro

A proporção de pessoas que se autodeclaram pretas subiu de 7,4% para 10,6% entre 2012 e 2022, seguindo uma tendência nos últimos 10 anos.

A maioria das pessoas no país diz que é parda, mas o percentual vem se mantendo estável ao longo dos anos, na casa dos 45% do total.

Recorde de negros no levantamento. O percentual de negros no país (que corresponde à soma de pretos e pardos) chegou a 55,9% da população no ano passado.

A divisão por raça no Brasil tem como marca diferenças regionais: negros estão proporcionalmente mais no Norte (78,4% da população autodeclarada negra) e menos no Sul (26,3%).

“Essa queda de participação da população branca foi mais acentuada na primeira metade da série, entre 2012 e 2017, com menor variação no período mais recente.” diz o Relatório Pnad.

Acesso a serviços segue desigual

6,4 milhões de domicílios ligados à rede de fornecimento não recebiam água diariamente em 2022, com destaque para o maior percentual Nordeste: 28,2% vivem nessa condição, segundo a Pnad.

A região Norte segue com o menor percentual de domicílios ligados à rede geral de água, com apenas 60% dos lares conectados. No Brasil, a média é de 85,5% — percentual que se mantém estável desde 2012.

A proporção de domicílios ligados à rede geral de esgotamento sanitário aumentou de 68,2% para 69,5% do total de domicílios do país entre 2019 e 2022. Esse percentual é maior (78%) quando vemos apenas os domicílios urbanos.

Entretanto, ainda há grandes distorções regionais nesse quesito: enquanto em São Paulo o índice chegou a 93,6%, no Amapá é de 20,7% da população.

Mais bens de consumo

Ao longo dos anos o brasileiro também passou a ter mais acesso a bens de consumo. É o caso dos veículos, que estão hoje presentes em três de cada quatro lares.

No caso de automóveis, eles estão presentes em 49,8% dos domicílios brasileiros. Já as motos chegam a 25% dos lares. Na primeira Pnad, em 2016, essa soma era de 70% do total.

Nos últimos anos, o país atingiu a quase universalidade do abastecimento de energia elétrica pela rede ou fonte alternativa: 99,8% dos domicílios em 2022.

A proporção de domicílios do país onde o lixo era coletado diretamente por serviço de limpeza também subiu: de 82,7%, em 2016, para 86%, em 2022.

O percentual de domicílios com máquina de lavar também subiu de 62,9% para 70,2% entre 2016 e 2022.

*Com informações de Uol