O que seria uma entrevista coletiva convocada por representantes da Dinamarca para falar da transição dos fósseis na tarde desta terça-feira (18) tornou-se uma manifestação por uma decisão da COP30 apontando uma rota para o mundo pós-carbono, o chamado mapa para o fim dos fósseis.
Ministros de Alemanha, Reino Unido, Colômbia, Ilhas Marshall, Quênia e Serra Leoa, cercados por representantes de cerca de 15 outros países, defenderam a inclusão do assunto em termos mais incisivos nas decisões finais da conferência.
Pelo menos outros 60 países apoiam a ideia, segundo contabilidade de observadores.
A mobilização aconteceu horas depois de a presidência da COP divulgar uma proposta para a chamada “Decisão Mutirão”.
O texto é um rascunho e serve de base para negociações. Ele inclui duas opções para tratar da transição que se afasta dos fósseis, mas nenhuma delas abriria uma trilha de negociação sobre o assunto para COPs futuras.
“Vamos fazer um mutirão global para nos libertar dos combustíveis fósseis. Queremos um resultado desta COP que trate da transição que se afaste dos combustíveis fósseis de maneira justa e inclusiva”, afirmou Carsten Schneider, ministro alemão do Meio Ambiente.
“A Alemanha apoia o mutirão pelo mapa do caminho, bem como a maioria dos nossos amigos europeus”, disse Carsten.
Mapeando o terreno
O termo mapa do caminho foi usado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da Cúpula dos Líderes, há dez dias, e enviou o sinal político para que o assunto ganhasse força e se insinuasse para dentro das salas de negociação.

Lula durante a cerimônia de abertura da COP30 – Foto: Ricardo Stuckert / PR
Mas um mapa não sairá de Belém. Segundo especialistas, na melhor das hipóteses seria criado um espaço formal para discussões em COPs futuras.
Uma das opções é o estabelecimento de um programa de trabalho, com duração definida – tipicamente dois ou três anos – e que não resulte em um documento prescritivo ou com imposições.
Essa é uma das limitações do processo de cooperação climática internacional no âmbito da ONU: todas as decisões das COPs precisam de consenso para ser adotadas.
Mesmo com escopo limitado, uma discussão oficial sobre o assunto será considerada um passo histórico desde a criação da Convenção do Clima (UNFCCC), na Rio-92. O termo combustíveis fósseis apareceu uma única vez em um documento oficial de COPs neste 33 anos.
Uma das ministras sentadas à mesa no momento da mobilização, a colombiana Irene Vélez Torres, que dirige a pasta do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do país, disse ao Reset que de domingo para segunda o país iniciou um esforço final para obter apoio formal de países para fornecer subsídios à presidência brasileira da COP, distribuindo uma declaração a ser subscrita.
“Na América Latina tivemos o apoio de Chile e Panamá e esperamos uma resposta do México. Na Europa, esperamos uma resposta positiva da Dinamarca e da Noruega e já temos resposta de Luxemburgo e Espanha. As Ilhas do Pacífico também. Temos 16 países até agora e muitos outros fazendo consultas com os governos centrais”, disse ela no fim da segunda-feira (17).
“Seguimos tendo vários encontros bilaterais para promover a declaração. A resposta da Irlanda é positiva e o país está revisando o tema. O Reino Unido também. Entre os países produtores, a Noruega seria uma grande aliada,” disse Torres. “Entendemos que é mais difícil [para os países produtores], mas estamos convencidos de que é um momento em que a comunidade global está esperando respostas concretas e radicais.”
Também em entrevista ao Reset, o ministro de Clima e Meio Ambiente da Noruega, Andreas Eriksen, disse que as conversas em torno do roadmap para se afastar dos combustíveis fósseis estão progredindo, mas que ainda não se sabe qual o resultado que será obtido.
“Está progredindo e acho isso muito bom. A presidência da COP fez um excelente trabalho para estabelecer uma base e conseguir abrir um diálogo franco”, afirmou Eriksen, antes da divulgação da proposta brasileira.














