‘Perdi casamento, emprego e R$ 100 mil com vício em bets’, conta gestor
Com o crescimento das bets no Brasil, tem aumentado os relatos de pessoas que se viciaram nos jogos, enfrentando problemas financeiros e mentais devido ao problema.
Felipe (nome fictício), 38, pai de três filhos, é um desses casos. Morador de Niterói, no Rio de Janeiro, ele era casado havia 10 anos, geria uma equipe na área de atendimento, e recebia salário de R$ 9.600, mas viu a vida ruir depois de começar a jogar.
“Um colega de trabalho me mostrou aposta esportiva e me interessei porque entendo de futebol, e quando a gente ganha o ego fica inflado”, afirma. Ele pediu para não ter seu nome verdadeiro divulgado.
‘Gastei toda a herança de minha mãe, de R$ 300 mil’, diz viciada em apostas
Na época da Copa do Mundo de 2022, Felipe chegou a ganhar R$ 62 mil em uma hora.
“Nessa época, eu já tinha dívida em banco, devia para alguns colegas, e mais R$ 25 mil para agiota. O dinheiro que ganhei dava para pagar toda a dívida, mas paguei só R$ 10 mil e fui jogar na ambição de querer mais, quando você ganha não quer parar. Eu perdi todo o dinheiro.”.
Logo, ele migrou das apostas esportivas para o cassino online.
“A conta não fecha. Minha esposa me ligava e falava o que tava faltando em casa. Eu não tinha dinheiro. Pedia emprestado, jogava para tentar recuperar, mas perdia mais ainda. Fazia questão de ficar mais tempo na rua, chegava em casa e mentia que o mercado estava fechado”, afirma ele.

A esposa então começou a reclamar que o dinheiro não chegava em casa e que ele não saía do celular.
“Cometi atos ilícitos, acessei aplicativo do banco e peguei dinheiro de pessoas próximas a mim, peguei dinheiro no banco no nome da minha esposa. Pedia dinheiro para meus funcionários. Eles faziam empréstimo consignado porque eu não tinha mais margem”, afirma.
Felipe passou a investir o tempo pensando em formas de arranjar dinheiro para jogar.
“Era uma tortura psicológica. Conseguia R$ 500, R$ 1.000 e isso ia embora em questão de horas. Já acordei de madrugada esperando o salário cair para colocar na plataforma e jogar. Às 6h, já não tinha mais nada.”
Ele já chegou a pegar R$ 1.500 –que seriam para o pagamento da escola de dois dos filhos– e usar para jogar.
“Eu jogava e perdia. É uma compulsão porque a gente sempre quer mais. Não existe a possibilidade de ganhar e parar”, afirma.
A situação se complicou ainda mais quando perdeu o emprego —segundo ele, após uma pessoa para quem devia ter denunciado o caso para a empresa na qual trabalhava.
O casamento acabou em março de 2023, 20 dias depois da demissão, quando a esposa descobriu um empréstimo de R$ 20 mil no nome dela.
“Descobri depois que minha irmã, minha esposa e meus pais conversavam para tentar entender se eu tinha outra família, se estava usando álcool ou drogas.
Felipe então teve de voltar à casa dos pais. O dinheiro da rescisão já tinha sido consumido na plataforma de jogos.
“Eu estava encurralado pelos meus pais, pela minha irmã, pelos amigos me cobrando, pelo agiota, pelo banco, eu não tinha mais o que fazer. Aí abri o jogo. Foi muito difícil porque ninguém entendia. Nunca tinham ouvido falar disso naquele momento”, diz.
Felipe passou o aniversário no mês seguinte, abril, sem uma ligação, sem ver os filhos, sem falar com ninguém.
“Eu andava na rua e achava que todos estavam me olhando, me julgando, que sabiam da minha vida. Pensava que o agiota estava atrás de mim e ia me matar. Várias vezes me escondi no meio da rua”, conta.
Ele disse que a situação começou a mudar quando um familiar fez as contas e descobriu que devia R$ 98 mil. A pessoa então pagou o valor, e disse que cobraria a dívida depois dele.
A ex-mulher descobriu então os Jogadores Anônimos, grupo de apoio a pessoas viciadas, e o pai o levou em uma reunião, em Niterói.
“Eu estava numa fase em que eu não tinha opção, tinha jogado tudo fora e perdido a confiança das pessoas, sem credibilidade nenhuma. Quando a reunião começou, a chave virou. Fui acolhido sem julgamentos, só escuta de histórias parecidas. Sou muito grato, era a última esperança.”
Há um ano e três meses, ele frequenta as reuniões dos Jogadores Anônimos três vezes por semana, em Niterói ou em São Paulo.
Desde janeiro deste ano, Felipe voltou ao mercado de trabalho. Atua em uma empresa em São Paulo em home office. Passa uma semana no Rio de Janeiro e outra na capital paulista.
*Com informações de Folha de São Paulo
Micronovelas fazem sucesso na China e chegam ao Brasil e aos Estados Unidos

No primeiro semestre deste ano, a internet chinesa alcançou 1,1 bilhão de usuários. Mais de metade deles, 52%, segundo o Centro de Informação da Internet da China, assistiram aos chamados microdramas verticais em plataformas como Douyin, o TikTok chinês, e Kuaishou, no Brasil, Kwai. No metrô, nos restaurantes, estão por toda parte.
São web séries com dezenas de capítulos de poucos minutos, quase sempre melodramáticas, exageradas, comparadas na própria China às “telenovelas” latino-americanas. Analistas avaliam que elas afetaram as bilheterias de cinema no país, neste último verão.
Uma das culpadas seria a microcomédia “Me Leva para Casa”, primeiro resultado de um contrato assinado neste ano pelo produtor e ator Stephen Chow, de filmes como “Kung-Fusão” (2004), com o Douyin. Estreou em junho, alcançando 20 milhões de visualizações em dois dias.
Alcançou também maior qualidade, com comediantes conhecidos como Xu Zhisheng, buscando ao mesmo tempo não alterar a linguagem quase amadora. Em 24 capítulos, conta a história de um jovem advogado que salva a irmã de um golpe romântico online.
Um site chinês sobre conteúdo, Ciwei Gongshe, analisou 6.000 microdramas e concluiu que, para a audiência feminina, os títulos mais populares incluem expressões como “CEO” e abordam relacionamentos. Para a masculina, expressões como “deus da guerra” e temas como ascensão e vingança profissionais.
Os microdramas vêm se firmando no resto do mundo a partir das produções chinesas, não só por TikTok e por seu concorrente Kwai, mas por plataformas desenvolvidas especialmente, como ReelShort, que liberam os primeiros capítulos e cobram pelos demais. Também chinesa, a ReelShort está entre os aplicativos mais baixados nos Estados Unidos desde o ano passado.
O ator canadense Greg Wollner, baseado em Pequim, já trabalhou em algumas dessas séries voltadas para a audiência americana. Ele descreve uma filmagem na ilha tropical de Hainan, no sul da China, em que foi protagonista.
“Era uma produção chinesa trabalhando pela primeira vez com atores estrangeiros, um desafio para eles”, diz. “Filmaram com três câmeras, talvez mais, todas ligadas o tempo todo. Gostei de fazer. O cachê não era ruim, embora inferior ao de outras produções. Agora, eles realmente tiram tudo o que podem de você. O ator principal trabalha 17 horas por dia, dia após dia. Acabam com você.”
Diz que em cinema são comuns jornadas de dez, 12 horas, mas os microdramas vão além. “Alguns atores fazem dois ou três desses verticais por um mês, depois pegam o dinheiro e, esgotados, param por meses. Ouvi algumas histórias de terror. Orçamento ruim, produção ruim, qualidade ruim, tudo ruim. O nosso foi Ok.”
Os estúdios americanos ainda não acordaram para os microdramas verticais, mas as produtoras brasileiras já estão no mercado, estimuladas pelo TeleKwai, um projeto do Kwai no país. É o caso da KondZilla, que desenvolveu neste ano uma série em torno do Príncipe Arthur, um dos personagens-perfis da plataforma.
Também esses brasileiros seguem, à sua maneira, a fórmula “trash” original. Entre as web séries de maior êxito no país, “Ela Vendeu o Bebê”, com a personagem-perfil Markelly Oliveira.
Os precursores brasileiros, que explodiram no final da pandemia, foram nomes como o dançarino, músico e empresário do ramo de importação Tiago O Tyka e o agente de viagens, tradutor e intérprete Gilson da Rosa, ambos de Guangzhou, no sul da China.
“Essas produções começaram através de duas chinesas que moram aqui e já eram atrizes”, conta Tiago. “Elas tinham um projeto para o Brasil e nos encontraram, e a gente apresentou outros brasileiros. Um elenco muito grande, uns 30, modelos, ex-jogador de futebol. Foi uma bomba, naquele momento. Viralizou muito. Aí deu uma parada.”
Segundo Gilson, a parada na produção chinesa, parte dela também em Pequim, foi resultado da entrada das produtoras brasileiras, com roteiros melhores. Aqueles primeiros vídeos da China deixavam a desejar.
“Os chineses davam o script em inglês, traduzido do mandarim com tradutor eletrônico”, lembra ele. “A gente adaptava na hora. Alguns vídeos viralizaram porque as falas eram sem pé nem cabeça. Por isso que acabou muita gente fazendo chacota, até o Felipe Neto.”
O grupo voltou neste mês às filmagens, com as mesmas produtoras chinesas, mas “para uma nova plataforma, não sei qual”, segundo Gilson, que posteriormente informou que havia sido pedido “sigilo do projeto”.
Além de Doyin, Kuaishou e ReelShort, os microdramas se espalham por plataformas chinesas como Tencent Video, iQiyi, BiliBili, DramaBox e o próprio Weixin (WeChat). No ano passado, mobilizaram mais de 300 mil empresas no país, segundo o diário financeiro NBD, e alcançaram uma receita total de US$ 37,4 bilhões de yuans (US$ 5,3 bilhões), segundo a consultoria iiMedia.
O excesso de concorrência já estaria levando o Douyin a rever sua estratégia, cortando canais voltados para o gênero. O alcance do gênero também chamou a atenção dos reguladores chineses, que desde o ano passado orientam as plataformas a um esforço de “retificação” do conteúdo, levando à derrubada de dezenas de microdramas.
*Com informações de Folha de São Paulo
Conheça a alface dourada, que pode mudar a história dos vegetais
Pesquisadores da Universidade Politécnica de Valência (UPV), na Espanha, criaram uma “alface dourada” geneticamente modificada que apresenta quantidades significativamente maiores de vitamina A, um nutriente essencial para a função imunológica, visão e crescimento. Essa inovação não apenas beneficia os consumidores ao fornecer um nutriente crítico, mas também abre possibilidades para melhorar a saúde de outros vegetais no futuro.
A equipe de cientistas conseguiu aumentar os níveis de beta-caroteno, um composto que se transforma em vitamina A no organismo, em cinco vezes em tabaco (Nicotiana benthamiana) antes de aplicar a mesma abordagem na alface (Lactuca sativa). Tradicionalmente armazenado nos cloroplastos, que são as estruturas responsáveis pela fotossíntese, o aumento do beta-caroteno exigiu uma abordagem inovadora para não interferir nos processos naturais da planta.
“Quando muito ou pouco beta-caroteno é produzido nos cloroplastos, eles param de funcionar. E as folhas eventualmente morrem”, explica o biólogo molecular Manuel Rodríguez Concepción, da UPV. Para contornar esse desafio, os pesquisadores conseguiram acumular beta-caroteno em compartimentos celulares. Ele normalmente não é encontrado nesse local, e foi utilizado técnicas biotecnológicas e tratamentos com alta intensidade de luz.
Parte do beta-caroteno foi armazenada no citosol, a parte fluida das células das folhas. Além disso, os cientistas converteram alguns cloroplastos em cromoplastos — estruturas que armazenam pigmentos — introduzindo um gene para a enzima bacteriana crtB. Esse processo permitiu uma maior acumulação de beta-caroteno.
Os tratamentos com luz intensa também resultaram na criação de mais plastoglobulinas, unidades de armazenamento de gordura dentro da alface. “Estimular a formação e desenvolvimento de plastoglobulinas não só aumenta a acumulação de beta-caroteno, mas também sua bioacessibilidade”, afirma o biólogo molecular Luca Morelli, da UPV.
Porque dourada?
Aumentar a bioacessibilidade do beta-caroteno facilita sua absorção no intestino, onde o corpo o converte em vitamina A. O resultado é uma alface amarelada devido ao alto conteúdo de beta-caroteno, que é abundante em cenouras e abóboras.
Um estudo recente destacou que a deficiência de vitamina A afeta centenas de milhões de crianças em desenvolvimento ao redor do mundo. Os pesquisadores enfatizam a importância de encontrar novas formas de enriquecer a dieta global para combater as consequências da má nutrição. “A deficiência de micronutrientes, também conhecida como fome oculta, ainda é um grande problema em muitos países”, afirmam os cientistas em seu artigo publicado. “Em particular, a deficiência de vitamina A causa xeroftalmia e pode levar a outros problemas de saúde e até à morte.”
Importância da vitamina A para o ser humano
A vitamina A é essencial para a saúde humana e desempenha um papel fundamental em diversas funções biológicas. Aqui estão algumas de suas principais funções:
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Visão: A vitamina A é crucial para a visão, especialmente no processo de adaptação à luz. Ela é necessária para a formação da rodopsina, um pigmento encontrado na retina que ajuda os olhos a detectar luz em ambientes de baixa luminosidade. Deficiências dessa vitamina podem levar à cegueira noturna e, em casos mais graves, à xeroftalmia, uma condição que pode resultar em danos à córnea e cegueira irreversível.
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Sistema Imunológico: A vitamina A fortalece o sistema imunológico ao manter a integridade das barreiras mucosas (como pele e mucosas dos pulmões e intestinos), que funcionam como primeira linha de defesa contra infecções. Além disso, a vitamina A auxilia na produção e no funcionamento adequado das células imunes, incluindo linfócitos T.
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Crescimento e Desenvolvimento: Durante a infância e a adolescência, a vitamina A é essencial para o crescimento celular e o desenvolvimento saudável dos tecidos, incluindo ossos e pele.
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Saúde da Pele e Tecidos: A vitamina A é vital para a regeneração celular e a manutenção da integridade da pele e de outros tecidos epiteliais. Isso explica seu uso em produtos dermatológicos, como os retinoides, para tratar acne e problemas de pele.
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Reprodução: Ela é importante para a fertilidade e o desenvolvimento embrionário, desempenhando um papel na saúde do sistema reprodutor masculino e feminino.
A deficiência de vitamina A é um problema de saúde pública em muitos países em desenvolvimento. Ela pode causar complicações sérias, principalmente entre crianças e gestantes, aumentando a mortalidade infantil e o risco de infecções graves.
Fontes de vitamina A incluem alimentos de origem animal, como fígado, leite, ovos e peixes, bem como vegetais ricos em betacaroteno, como cenouras, batata-doce e espinafre, que o corpo pode converter em vitamina A.
*Com informações de Agro em Campo
Neymar vai pagar R$ 50 milhões para comprar ilha que já hospedou Marquezine
Dono de diversas propriedades badaladas, Neymar, jogador que atualmente defende o Al-Hilal, da Arábia Saudita, está perto de comprar a Ilha do Japão, localizada em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
De acordo com informações divulgadas pelo portal “LeoDias”, o jogador negocia a compra da paradisíaca ilha, avaliada atualmente em R$ 50 milhões.
O site também afirma que ao lado do xeque Muhammad Binghatti, famoso corretor imobiliário que atua em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o craque alugou a ilha entre os dias 9 e 12 de outubro. O “test drive” do local custou R$ 50 mil aos cofres do craque brasileiro.
À venda desde 2023, a ilha de 2,5 hectares já hospedou diversos famosos, como Bruna Marquezine, Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso.
Tentativas de compra
Neymar não é o único jogador a tentar adquirir a ilha. Posteriormente, Thiago Maia, Emerson Sheik e Diego Ribas já tentaram comprar a badalada propriedade, mas não avançaram.
*Com informações de IG
Eduardo Bolsonaro pode assumir presidência do PL
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) comentou sobre a possibilidade de assumir a presidência nacional do Partido Liberal . Ele expressou satisfação com a ideia, mas ressaltou que, antes de qualquer decisão, pretende dialogar com Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto.
“Quero ter liberdade total do partido para defender os valores conservadores do Brasil, sempre alinhado com os princípios que sigo e a missão do Jair Bolsonaro ”, afirmou Eduardo em entrevista à CNN.
O deputado também mencionou a complicação que a proibição de contato entre Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto , imposta pelo ministro do STF Alexandre de Moraes , traz para o partido. “Essa restrição prejudica a nossa estratégia, especialmente nas eleições municipais para as prefeituras pelo país”, concluiu.
*Com informações de IG
Por que Silvio Santos já apontou uma arma para Cid Moreira?
Cid Moreira já se viu com uma arma apontada – e do outro lado do cano estava ninguém menos que Silvio Santos. Mas qual o contexto dessa imagem?
Esta imagem foi uma das relíquias expostas em uma exposição sobre a carreira de Silvio no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, em 2016. Na ocasião, ela estava no ambiente dedicado ao Troféu Imprensa.
Mas por que Silvio apontaria um revólver para o então apresentador do “Jornal Nacional”?
Tudo não passou de uma pegadinha de Silvio durante a transmissão do Troféu Imprensa de 1973. Na foto, Silvio segura a arma com a mão direita e uma maçã na mão esquerda. O cenário tem pratos presos a uma espécie de tapadeira cenográfica.
Na época, Alan Gomes, pesquisador da vida de Silvio Santos e colaborador da exposição do MIS, explicou que Silvio ameaçou colocar a maçã na cabeça de Cid e tentar acertá-la com um tiro.
“Ele só pediu: ‘Cid, eu vou colocar essa maçã e você vai ter que narrar. Tem coragem?”, disse o pesquisador em 2016. Silvio, porém, não atirou na cabeça do vencedor do Troféu Imprensa, mas em um dos pratos que escondiam um prêmio para ele.
A foto exposta no MIS foi cedida pelo SBT, mas a pegadinha de Silvio com Cid Moreira aconteceu na Globo, que transmitia o evento
*Com informações de Uol
Pesquisa mostra capitais na contramão de meta para redução de emissões
Em meio ao processo eleitoral municipal , a ausência de respostas para uma pergunta incomoda pesquisadores e ativistas ambientais: o que os candidatos propõem para enfrentar a crise climática e reduzir a emissão de gases de efeito estufa? A cobrança por medidas que enfrentem a questão ganha ainda mais peso em meio às intensas queimadas que vêm atingindo diferentes localidades do país e chegaram a gerar nuvens de fumaça em cidades como São Paulo e Belo Horizonte.
O biólogo Conrado Galdino, professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), destaca que o enfrentamento a esses incêndios é atribuição principalmente de órgãos ligados aos governos estaduais e ao governo federal. Ainda assim, ele afirma que os municípios podem adotar algumas iniciativas e argumenta que a simples piora da qualidade do ar deveria motivar os candidatos a prefeito a discutir medidas pertinentes.
“Traz muito preocupação essa grande quantidade de emissão decorrente dessas queimadas. Só aumenta a urgência da redução das emissões. Eu acho que isso precisava ser mais enfatizado, ou melhor, priorizado nas propostas dos candidatos”, diz Conrado Galdino.
Dados de um levantamento desenvolvido pela organização não governamental Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) revela o tamanho do desafio: considerando a meta fixada pela Agenda 2030, seria preciso cortar mais da metade do volume de emissões líquidas em cinco das dez capitais mais populosas do país. Nas demais, a redução seria de pelo menos 30%.
A Agenda 2030 foi estabelecida pelos 193 Estados-Membros da ONU na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável ocorrida em 2015. Ela fixou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e cada um deles se desdobra em um conjunto de metas. Uma delas diz respeito às emissões líquidas de gás carbono: chegar a 0,83 tonelada por habitante.
O levantamento do ICS foi realizado com base no Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Ele é mantido pelo Observatório do Clima, uma rede de entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira. Os dados mais recentes têm como referência o ano de 2022. O ICS buscou reunir algumas informações justamente com o objetivo de cobrar propostas dos candidatos para temas considerados urgentes.
Entre as dez cidades mais populosas, Manaus lidera o ranking com 3,06 toneladas por habitante, seguida do Rio de Janeiro (2,03) e de Belo Horizonte (1,82). O melhor desempenho é o de Salvador (1,19). Para Galdino, apesar de o controle das emissões de gases depender em grande parte do Legislativo e do Executivo federal, a prefeitura tem como dar contribuições importantes, e seu papel não deve ser menosprezado. “O município pode fazer muita coisa”, afirma.
De acordo com Marco Antonio Milazzo, professor do curso de arquitetura e urbanismo na unidade da faculdade Ibmec localizada no Rio de Janeiro, existem três frentes em que a atuação das prefeituras pode trazer resultados importantes: transporte, consumo de energia e gestão do lixo.

“O município pode regulamentar o transporte e investir em modais que emitam menos gases de efeito estufa. Por exemplo, criar mais faixas de ciclovias e mais linhas de transporte público. É fundamental adotar medidas que contribuam para a redução do uso de transporte individual”, explica Marco Antonio Milazzo.
O professor destaca algumas experiências que já estão sendo adotadas em algumas cidades, como a eletrificação do transporte público. Ainda que a energia elétrica também esteja associada à emissão de gases, o volume seria muito inferior quando comparado com o diesel. Milazzo destaca também que já existem veículos movidos a hidrogênio, mencionando inclusive pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Outra iniciativa bem avaliada por ele é a implantação da tarifa zero no transporte público, adotadas em algumas cidades do país. “Você não paga. O transporte é gratuito. É um incentivo para que as pessoas usem o ônibus em vez de usar seu automóvel.”
Milazzo explica também que a destinação incorreta do lixo está associada a uma alta emissão de gás de efeito estufa, razão pela qual as prefeituras devem eliminar os lixões e investir mais nos aterros sanitários. Em outra frente, ele considera que a administração municipal deve trabalhar pela diminuição no consumo de eletricidade, o que contribui indiretamente para a queda na emissão de gases de efeito estufa.
“Qualquer medida que a prefeitura possa adotar para economizar energia elétrica tem um efeito positivo. Pode também investir em energia solar e em energia eólica como alternativa inclusive para a iluminação pública. Da mesma forma, a economia de combustíveis é fundamental. A prefeitura pode adotar medidas para reduzir o consumo de gasolina e diesel na administração municipal”, acrescenta.
O professor cita ainda uma quarta frente, que considera mais complicada: controlar o crescimento urbano. A expansão desregulada, segundo explica, agrava os problemas ligados ao transporte e ao lixo.
Belo Horizonte é um exemplo emblemático do atual cenário. Na contramão da meta da Agenda 2030, a capital mineira vem registrando um aumento no volume de emissões líquidas. Uma tendência de queda chegou a se iniciar no ano de 2017, mas foi interrompida em 2020. Após dois anos de alta, as emissões de gás carbônico atingiram 1,82 tonelada por habitante em 2022, ano dos últimos dados incluídos no SEEG. É o pico registrado no levantamento, que reúne informações desde 2015.
O biólogo Conrado Galdino, que acompanha de perto a cidade, avalia que o transporte figura como principal “vilão” das emissões. Ele também destaca o impacto relevante dos resíduos e menciona uma peculiaridade da capital mineira: um grande volume de emissões se associa à produção mineral. “Nesse caso, depende muito mais da atuação em âmbito federal. Mas o município pode pensar, por exemplo, em oferecer benefícios para as indústrias menos poluidoras ou avaliar políticas tributárias.”
Nos últimos anos, a mobilização da população de Belo Horizonte em defesa da preservação da Serra do Curral, considerado cartão-postal da cidade, gerou cobranças para que o município atuasse para coibir devastações decorrentes da mineração. Como um dos resultados dessa pressão, a prefeitura chegou recentemente a um acordo com a Empresa de Mineração Pau Branco (Embrapa) para o fechamento das atividades da Mina Granja Corumi e doação do terreno ao município, para que seja anexado ao Parque das Mangabeiras, após a recuperação.

Segundo Galdino, os avanços em questão ambiental dependem do comportamento da população. Por essa razão, ele acredita que as medidas mais importantes que os municípios podem promover são voltadas para o processo educativo.
“A gente precisa de uma sociedade sensibilizada para as mudanças ou para a necessidade de mudanças. Não adianta ter uma política de papel, e a sociedade não levá-la em consideração no cotidiano. Sem sombra de dúvidas, é preciso um forte investimento em educação para gerar essa sociedade mais inclinada a aceitar as mudanças, inclusive algumas mudanças que vão na direção oposta à sensação de bem-estar que a gente tem hoje dentro do sistema em que vivemos”, observa Conrado Galdino.
Sensibilidade
Para o biólogo, a partir do momento em que a população se mostrar mais sensível à temática ambiental, os políticos terão mais dificuldade de ignorá-la. Além disso, aqueles que são favoráveis a medidas mais contundentes ficarão em posição mais confortável para adotá-las.
Galdino cita o exemplo do transporte e menciona algumas ações que seriam benéficas como estimular a transição da motorização privada para a motorização pública coletiva, reorganizar de forma inteligente estações e pontos de ônibus, além eletrificar a frota de transporte público, medida que já vem sendo experimentada em Belo Horizonte.
“São medidas que mexem com o modelo que está posto, onde você tem diversas empresas de transporte estabelecidas e um sistema de remuneração da prefeitura. Sem uma população sensibilizada, o tomador de decisão hesita em tocar nisso.”
O professor vê situação similar envolvendo os resíduos sólidos. Ele cita discussões sobre a regulamentação da economia circular, adoção de embalagens mais sustentáveis e remodelagem da taxa de coleta de resíduos sólidos.
“Mais uma vez a gente se volta para a questão da educação. A população precisa ser capaz de adotar um consumo crítico, de fazer opções alinhadas com o desenvolvimento sustentável e, consequentemente, estimular uma redução na produção de resíduos. Enfim, é necessária uma consciência de que se trata de sobrevivência, do bem-estar humano na Terra. Quando a gente fala de emissão atmosférica, o que está na ponta do problema é a nossa condição existencial”, alerta.
Em capitais menos populosas, o cenário não tem se revelado muito diferente. Com indicadores bastante similares aos de Belo Horizonte, Vitória registrou em 2022 um volume líquido de 1,83 tonelada por habitante. A capital capixaba também experimentou um crescimento significativo a partir de 2020.
No ano passado, a proliferação de material particulado liberado por indústrias causou grande incômodo em moradores de alguns bairros e foi respondida com mobilizações de entidades da sociedade civil que cobraram uma solução em âmbito legislativo. Conhecido como pó preto, sua presença é também um indicativo de um alto volume de emissão de gases de efeito estufa. Aprovada na Câmara Municipal após as manifestações populares, a Lei 10.011/2023 fixou novas normas e diretrizes para a proteção da qualidade do ar atmosférico.
