Gilmar Mendes anula condenações de José Dirceu na Lava Jato assinadas por Sergio Moro
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes anulou nesta segunda-feira, 28, todos os atos processuais do ex-juiz Sergio Moro contra o ex-ministro José Dirceu no âmbito da Operação Lava Jato.
A decisão do ministro em um habeas corpus da defesa do petista estende os efeitos da suspeição do ex-juiz, hoje senador pelo União Brasil do Paraná, aos processos que envolvem Dirceu.
Em maio, a Segunda Turma do STF extinguiu uma pena de 8 anos e 10 meses imposta pela Justiça Federal do Paraná a José Dirceu. O processo julgado pela Turma envolvia uma condenação por supostas propinas da empresa de tubulação Apolo Tubulars, entre os anos de 2009 e 2012, para ajudar a corporação a fechar contratos com a Petrobras. Segundo a condenação, José Dirceu teria usado sua influência para manter Renato Duque na Diretoria de Serviços da estatal e, com isso, direcionar licitações à empresa de tubulação.
Três dos cinco ministros da Segunda Turma consideraram a condenação inválida do ponto de vista processual, seguindo um entendimento de que o crime do réu teria sido consumado no momento do suposto pedido de propina. Com isso, o ano de prescrição foi marcado para 2009. Como José Dirceu só foi condenado em 2017, a sentença foi considerada irregular.
Na ocasião, formaram maioria para anular a pena de José Dirceu os ministros Kassio Nunes Marques, Ricardo Lewandowski (hoje, ministro da Justiça) e Gilmar Mendes, que decidiu anular os demais processos envolvendo o ex-ministro nesta segunda.
José Dirceu foi ministro-chefe da Casa Civil durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deixando o cargo na esteira do escândalo do mensalão. O ex-deputado federal planeja um retorno à vida pública nas eleições gerais de 2026.
Em nota, o advogado Roberto Podval, responsável pela defesa do ex-ministro, afirmou que Dirceu recebeu com tranquilidade a decisão do STF. “A decisão, que restitui seus direitos políticos, entende que os processos contra Dirceu tinham por objetivo real atingir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que demonstra a quebra de parcialidade das ações. A anulação atende ao pedido da defesa do ex-ministro, que solicitou a extensão da decisão da 2ª Turma do Supremo que considerou parciais as decisões da Lava Jato e do ex-juiz Sérgio Moro nos casos que envolvem o presidente Lula. José Dirceu sempre confiou na Justiça”, complementou o advogado.
A reversão universal das condenações a José Dirceu se soma a uma série de decisões da Lava Jato anuladas pelo STF. A força-tarefa, no seu auge, foi considerada a maior mobilização judicial do País contra políticos suspeitos de desvios de recursos públicos. Em 2024, contudo, a operação completa dez anos de existência em frangalhos.

Sobretudo nos últimos anos, a Lava Jato acumula revezes às decisões de primeira instância e muitos acusados vêm obtendo vitórias nas Cortes superiores, como os Tribunais Regionais Federais (TRFs) e o STF.
As absolvições, muitas vezes, se valem de questões processuais e não versam necessariamente sobre o mérito da denúncia. Se a tipificação do crime estiver incorreta, o processo é anulado. Da mesma forma, se as provas que baseiam determinada sentença forem anuladas, o processo conseguinte deixa de ser válido.
Relembre as condenações da Lava Jato anuladas pelo STF
Em fevereiro, o ministro do STF Edson Fachin anulou as condenações do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Eles haviam sido denunciados pela Lava Jato pelo suposto recebimento de caixa dois para o PT nas eleições de 2010. Na avaliação de Fachin, o processo deveria ter tramitado na Justiça Eleitoral do Distrito Federal, e não na 13ª Vara Federal de Curitiba.
No ano passado, sob relatoria do ministro Cristiano Zanin, o STF anulou a condenação do ex-deputado federal André Vargas por razões processuais, baseando-se em uma resolução anterior do colegiado. A Corte havia decidido que a 13ª Vara Federal de Curitiba só podia julgar e condenar atos ilícitos no âmbito da Petrobras, tornando improcedente a condenação de André Vargas naquele local.
Vargas foi o primeiro político condenado pela Lava Jato. Em setembro de 2015, o ex-juiz Sérgio Moro condenou o parlamentar pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Somadas, as penas passavam dos 15 anos de prisão.
Também em 2023, o ministro Dias Toffoli determinou a “nulidade absoluta” de todos os atos praticados pela Lava Jato contra o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), atualmente deputado federal. A decisão do ministro acatou um pedido da defesa de Richa que alegava vícios processuais. Segundo os advogados do parlamentar, e assim entendido por Toffoli, os procuradores Deltan Dallagnol e Diogo Castor de Mattos, além do juiz Sérgio Moro haviam agido de forma “parcial”.
O maior dos revezes da Lava Jato no STF teve origem em um inquérito que acusava Eduardo Paes (PSD), atual prefeito do Rio de Janeiro, de lavagem de dinheiro e caixa dois durante a campanha à prefeitura carioca em 2012. Em 2019, a questão chegou ao Supremo.
A decisão da Corte gerou um “efeito cascata” desastroso para a Lava Jato, pois o STF decidiu que a prática de caixa dois é de competência exclusiva da Justiça Eleitoral. Dessa forma, a Justiça Federal, na qual tramitavam os processos da força-tarefa, foi demovida de todas as acusações do gênero.
Foi esse o precedente que abriu margem para a anulação do processo contra o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PRD), que havia sido condenado a 15 anos de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Cunha foi julgado pela 13ª Vara Federal de Curitiba, mas o STF foi acionado para julgar a competência do caso. Em maio de 2023, por 3 votos a 2, a Segunda Turma da Corte entendeu que, na verdade, o ex-presidente da Câmara dos Deputados deveria ter sido processado na Justiça Eleitoral.
*Com informações de Terra
‘Turismo de Instagram’ gera recorde em multas ambientais em Fernando de Noronha

O influenciador digital Leonardo Picon, o Léo Picon, esteve com amigos em Fernando de Noronha no início do ano, passeio que rendeu uma série de notícias em sites de celebridades.
Rendeu também uma multa ambiental não noticiada. O influenciador foi autuado pelo ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, por ter dado comida para uma fragata (um tipo de ave marinha), o que é proibido, e multado em R$ 1 mil pelo órgão federal.
Os fiscais acrescentaram ao documento prints da conta de Picon no Instagram para reforçar a multa. O relatório destacou que Picon “é uma pessoa influente nas redes sociais” e que “tem visitado Noronha por diversas vezes.”
A multa aplicada a Picon ajuda a ilustrar uma situação que preocupa cada vez mais os servidores que atuam com conservação ambiental em Noronha: o aumento do turismo impulsionado por influenciadores, em uma área que não permite mais nenhuma expansão urbana e que possui, ao mesmo tempo, pousadas e bares tentando ampliar seus espaços de forma “escondida”.
É o “turismo do Instagram”, nas palavras de um dos entrevistados para esta reportagem.
Nos últimos dois anos, multas ambientais aumentaram no arquipélago de 26 quilômetros quadrados e 3 mil habitantes. Em 2024, até agosto, foram mais de R$ 6,5 milhões distribuídos em 18 autos de infração, segundo levantamento feito pela BBC News Brasil.
Em valores, é um recorde para o ICMBio no local. Em total de multas, é a maior quantidade desde 2016, segundo dados produzidos pela instituição e analisados pela reportagem. Servidores dizem que há ainda um passivo de multas que ainda poderão ser aplicadas.
Funcionários que trabalham com a proteção ambiental em Fernando de Noronha admitem dificuldade do poder público para lidar com o que chamam de novas características do turismo na região. Dizem também que o controle do número de pessoas visitando a ilha não tem funcionado.

Restrições e taxa
Fernando de Noronha é reconhecido pela Unesco como patrimônio Natural da Humanidade desde 2001 – estar nesta lista significa, na prática, que há preocupação internacional com o estado de conservação da área. O arquipélago foi integrado ao Estado de Pernambuco nos anos 80 e lá foram criadas unidades de conservação justamente para proteger a biodiversidade na região.
Por isso, há uma série de restrições no local. A visita em atrativos do parque é controlada pelo governo e só pode ser feita com agendamento.
Também há a cobrança para a entrada, paga por cada turista. É a Taxa de Preservação Ambiental, ou TPA, que custa R$ 97,16 por um dia (o custo pode ficar mais barato a depender da quantidade de dias) e pode ser pago pelo site do distrito.
“As restrições em Noronha são muitas e devem ser respeitadas. As placas proibitivas não foram afixadas par a limitar o prazer do visitante, mas para prolongar a vida de todos os habitantes do arquipélago, plantas e animais, principalmente daqueles que não têm voz para expressar o seu desejo de continuar vivos”, escreve o órgão federal na multa aplicada ao influenciador.
Picon afirmou à BBC News Brasil, por meio de sua conta no Instagram, que não recebeu a multa e só soube do auto de infração pela reportagem da BBC News Brasil.
Ele reclamou da falta de instruções claras sobre as regras e diz que o ICMBio poderia se aliar aos influenciadores na conscientização ambiental aos turistas.
“Faço projetos socioambientais na ilha desde 2016, já passei mais de 120 dias na ilha e em nenhum momento tive acesso oficial a essas leis. Escutamos muito de moradores o que pode e o que não pode, mas em nenhum momento o turista é instruído de forma oficial a essas regras, o que induz o turista a cometer por ingenuidade um ato que o ICMBIO caracteriza como nocivo, mas que não há uma educação aos turistas do porquê esse ato é nocivo.”
Ele também negou que estivesse alimentando a fragata. Disse que a ave voou atrás dele, que estava com uma sardinha na mão.
“Eu estava com um pescador, que estava cercado por elas em sua rede. Ele me deu uma sardinha na mão e sabia o que aconteceria a seguir: elas começaram a voar atrás de mim, atrás da sardinha. Na imagem é possível ver que eu não estou voluntariamente alimentando-as. As fragatas se alimentam, também, roubando alimentos de outras espécies. Não há dano causado.”

Já a administração do ICMBio afirma que o auto foi entregue pelos correios e que solicitou que o influenciador removesse os vídeos postados por ele, por contrariar normas ambientais.
Buraco do Galego vira “piscina do Neymar”
“É o turismo de Instagram, né? A galera quer tirar as mesmas fotos, dos mesmos lugares”, diz Mário Douglas, coordenador da área temática de proteção do ICMBio de Fernando de Noronha.
O Buraco do Galego, piscina natural localizada na Praia do Cachorro, por exemplo, há tempos não é mais chamado assim, segundo servidores. “Hoje é conhecido como a piscina do Neymar, porque há uma foto dele com a Bruna Marquezine”, conta.
“Agora tem fila de pessoas para tirar a mesma foto. É um tipo de turismo que é novo, que é diferente. E é difícil de lidar, a gente ainda não sabe muito bem como potencializar o que tem de bom e reduzir o que tem de ruim.”
O reforço nas infrações reflete o aumento de visitantes que a região recebeu no pós-pandemia do coronavírus. Só neste ano, em média, 10 mil pessoas visitaram o local ao mês – isso contando só os que pagam ingresso para visitar o parque nacional.
Em alguns meses, como janeiro e agosto, o número passou de 12 mil – mais do que deveria. Um acordo entre o governo federal e o Estado de Pernambuco determina que o máximo de visitantes por mês deve ser de 11 mil pessoas.
Segundo a administração do ICMBio, o controle do fluxo é feito pelo número de vagas em voos, mas os próprios servidores admitem que isso não funciona como esperado e já estudam novas medidas de controle.
“A gente está percebendo que não está dando certo, não está conseguindo controlar”, diz Lilian Hangae, chefe do ICMBio de Fernando de Noronha. “Temos um desafio de manter Noronha com suas caractéristicas de conservação, de alta biodiversidade.”
“É um desafio que não cabe só ao ICMBio. É uma escolha do Estado, do país inteiro e dos próprios moradores. Do jeito que está, o limite realmente está pondo em risco a conservação”, diz ela, que atribui o aumento de fluxo ao pós-pandemia e também ao destaque que a ilha recebe, citando, por exemplo, a Praia do Sancho, que venceu, em 2023, votação do site TripAdvisor como melhor praia do mundo.

“Fernando de Noronha entrou no imaginário do brasileiro, como um sonho. Muita gente que vem pra cá tem grana. Mas tem muita gente que junta dinheiro o ano todo, que sonha em casar em Noronha”, acrescenta Hangae.
O governo de Fernando de Noronha, vinculado ao Estado de Pernambuco, informou, em nota, que não autoriza aumento no número de voos diários à ilha que impacte no limite estabelecido pelo acordo de gestão compartilhada, celebrado entre o Estado de Pernambuco e a União.
Construções de pousadas e bares estão entre infrações mais altas
Além dos próprios turistas, o poder público enfrenta pressão ainda maior das empresas que esperam receber esses turistas de alto poder aquisitivo, como as do setor de pousadas. “Podemos inferir que os delitos ocorridos na região são, em sua quase totalidade, ligados ao turismo”, destacou o órgão. São, em sua maioria, casos de ocupações irregulares – construções e reformas sem autorização, por exemplo.
“Existe uma pressão por aumento do número de pousadas. Todo mundo quer ganhar mais dinheiro. E aqui tem um problema sério porque você tem limite geográfico. Não dá, não cabe, não comporta”, diz Mário Douglas, do ICMBio.
O tamanho da área urbana de Fernando de Noronha também entrou no acordo de gestão compartilhada entre a União e o Estado de Pernambuco. O documento diz expressamente que o poder público se compromete a “não ampliar o perímetro urbano atualmente existente.”
Para garantir isso, estão previstas medidas administrativas e judiciais para coibir construções irregulares, seja por meio de sua regularização ou demolição de obras.
O que acontece, na prática, segundo servidores do ICMBio ouvidos pela BBC News Brasil, é que as empresas vão “esticando” seus domínios de forma irregular, tentando despistar o poder público. “Construção irregular. Rápidas, feitas em horários alternativos, mais escondido possível. É gato e rato”, diz Mario Douglas.
Das multas aplicadas em 2024, a maioria tem relação com obras consideradas irregulares, como ampliação de terrenos, construções sem licença, reforma de imóvel, dentre outros.
Um caso emblemático é o que puxa o valor das multas de 2024 para um recorde – a Atlantico Sul Empreendimentos, empresa responsável pela Pousada Morena, foi multada duas vezes neste ano. O motivo, segundo o ICMBio, é a ampliação da área da Pousada Morena, com instalação de deck e ofurôs em uma área protegida da ilha. Somadas, as infrações passam de R$ 6 milhões.

A Pousada Morena é uma das mais luxuosas de Fernando de Noronha. Um apartamento de 23 metros quadrados, para até duas pessoas, sai por R$ 4,2 mil por duas noites. O Bangalô Master, para até três pessoas e com 80 metros, custa R$ 8,5 mil. A pousada já atraiu celebridades como a cantora Paula Fernandes, que esteve lá em agosto deste ano. O hotel também já figurou em um ranking dos 50 melhores do Brasil, feito pela revista Exame.
Os problemas entre o órgão fiscalizador e a pousada não começaram agora. O levantamento da BBC News Brasil identificou ao menos outros dois episódios, um em 2012, no valor de R$ 200 mil, e outro de R$ 100 mil, em 2015. Os fiscais anotaram no relatório que estiveram na pousada e identificaram “grande quantidade de obras em andamento”, incluindo um bangalô e a piscina em área de conservação.
Neste ano o ICMBio determinou a demolição do chamado “espaço relax”, instalado em frente à área da piscina da pousada. O órgão entende que não poderia haver expansão da obra. Segundo a empresa, o objetivo é proporcionar um local para descanso e convivência e com vista privilegiada para o oceano.
Em nota enviada à reportagem, a Atlantico Sul Empreendimentos afirmou que as multas de 2012 e 2015 se referiam a um mesmo fato e foram contestadas na Justiça, obtendo a empresa “decisão favorável reconhecendo seus direitos, se encontrando esta decisão transitada em julgado”.
“Já em relação aos recentes autos de infração, a empresa discorda veementemente dos motivos ensejadores de suas lavraturas e vem exercendo seu legítimo direito de defesa, já tendo apresentado defesas administrativas perante o Órgão, as quais se encontram pendentes de decisão”, diz a nota.
*Com informações de Folha de São Paulo
Aeroporto de Manaus registra 2,1 milhões de passageiros até setembro
O Aeroporto de Manaus alcançou, de janeiro a setembro deste ano, a marca de 2,1 milhões de passageiros, representando um crescimento de 5,8% em comparação ao mesmo período do ano passado. Somente no 3º trimestre de 2024, 764 mil passageiros circularam pelo aeroporto, um aumento de 10% em relação ao registrado nos três primeiros trimestres de 2023.
As operações de pousos e decolagens no Aeroporto de Manaus também mostraram um desempenho positivo, com um aumento de 9,3% em relação a 2023.
Esse crescimento é atribuído aos esforços para ampliação da malha aérea no Amazonas. Desde sua chegada à região Norte, há três anos, a VINCI Airports, por meio da Concessionária dos Aeroportos da Amazônia, tem impulsionado novos voos, garantindo o aumento na frequência de operações, especialmente para destinos internacionais.
Em Manaus por exemplo, o número de voos diretos para a Colômbia quadruplicou, com destaque para a nova rota para Bogotá. Nos voos internacionais, os mais procurados foram EUA e Colômbia. Manaus ainda conta com voos regulares para a Flórida, Venezuela e Panamá, com novas rotas para Portugal pela TAP em novembro e aumento de frequência para o Panamá pela Copa Airlines a partir de janeiro. Destinos domésticos como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro também ganharam relevância no período.
Desempenho ao redor do mundo
Também segundo o balanço de tráfego mais atual, mais de 90 milhões de passageiros utilizaram os aeroportos da rede VINCI Airports no último trimestre. O número representa um aumento de 6,4% em relação ao ano passado.
A concessionária atribui o desempenho no período ao turismo de lazer, com destaque pela busca de turistas europeus por destinos de verão em torno do mediterrâneo. Além disso, o terceiro trimestre também foi marcado pela recuperação do tráfego no Japão.
O fenômeno, considerado acelerado pela VINCI Airports, foi nomeadamente pelo anúncio de reabertura de rotas paras as principais cidades chinesas. A notícia alavancou a oferta de assentos para companhias de origem chinesa e japonesa.
Em outros locais, o tráfego manteve-se dinâmico, como no caso do aeroporto de Santiago, capital do Chile. O aeródromo, de acordo com o balanço, se beneficiou da recuperação de seu tráfego regional para Brasil e Argentina, por exemplo.
O fenômeno foi apoiado pelo aumento da oferta proposta por companhias aéreas, principalmente LATAM e Avianca. Por fim, as rotas com a Espanha seguiram populares no período, enquanto o crescimento do tráfego também se mantém forte em Cabo Verde – destino que continua sendo atrativo para passageiros europeus.
Palmeiras tem Mundial? Flamengo ou Sport em 87? O que diz a nova IA do zap
A Meta IA, nova inteligência artificial da empresa introduzida no WhatsApp, foi questionada sobre algumas das principais polêmicas do futebol brasileiro. As respostas envolveram interpretações próprias da ferramenta e dados apontados em diversos sites, incluindo endereços oficiais de clubes e entidades.
A Meta, no entanto, ressalta que a respostas geradas pela IA podem conter erros. “As mensagens são geradas pela inteligência artificial da Meta. Algumas respostas podem ser incorretas ou inadequadas”, diz a Meta na conversa gerada.
Palmeiras tem Mundial?
Segundo a IA, sim. A inteligência artificial afirmou, sem direcionar a nenhum site ou matéria, que o Torneio Internacional de Clubes Campeões disputado em 1951 foi o primeiro campeonato mundial interclubes da história.
“O Palmeiras conquistou o Torneio Internacional de Clubes Campeões, em 1951. Este foi o primeiro campeonato mundial interclubes da história. O time venceu a Juventus-ITA na final.”
Quem é o campeão brasileiro de 1987?
O Sport é considerado o campeão brasileiro de 1987. A IA citou a decisão do STF, em maio deste ano, para cravar a equipe pernambucana como detentora da taça. Ela utilizou como base o site Sportradar.

“O Sport Club do Recife foi declarado o único campeão brasileiro de 1987 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Essa decisão foi tomada após o Flamengo, que também reivindicava o título, recusar-se a jogar contra o Sport na final do campeonato. O STF manteve essa decisão, considerando que o Sport venceu o confronto decisivo contra o Guarani, time que ficou em segundo lugar no Módulo Amarelo.”
São Paulo foi rebaixado no Paulistão de 1990?
A IA se baseou em uma publicação feita pelo site oficial do São Paulo para dizer que não. Segundo ela, não houve rebaixamento naquela edição do campeonato estadual.
“Não, o São Paulo não foi rebaixado no Campeonato Paulista de 1990. O time terminou em 15º lugar na competição, que contou com 24 equipes, mas não houve rebaixamento naquele ano. O regulamento do campeonato previa que não haveria descenso à Divisão Especial de Futebol Profissional.”
Pelé fez mais de mil gols?
Segundo a IA, sim. A ferramenta se baseou em uma matéria publicada no site oficial das Olimpíadas, que citou dados do Guiness Book, da Fifa, da Conmebol e da CBF.

“Pelé marcou 77 gols em 92 jogos pela seleção brasileira e 680 gols em jogos oficiais de clubes. O número total de gols de Pelé na carreira é controverso, mas de acordo com o Guinness Book, ele marcou 1.279 gols em 1.363 jogos. A FIFA e a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) consideram que Pelé marcou 1.281 gols, enquanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) afirma que ele marcou 1.283 gols.”
Qual é o maior time do Brasil?
A IA cravou o Palmeiras. A ferramenta usou o número de títulos conquistados pelo time paulista como critério para a resposta. Os números foram levantados pela inteligência artificial no Wikipedia.
“O Palmeiras é considerado o maior campeão nacional do Brasil, com 18 títulos nacionais, e um total de 24 títulos nacionais e internacionais.”
*Com informações de Uol
PIB: FMI eleva de 2,1% para 3% a previsão de crescimento da economia brasileira em 2024
O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou o relatório “World Economic Outlook” durante a reunião com autoridades de finanças em Washington (EUA), e elevou a projeção para o crescimento econômico do Brasil em 2024 para 3% , o que fez com que o país registrasse um dos melhores desempenhos entre as principais economias globais. Esta alta representa um aumento de 0,9 ponto percentual em relação à previsão anterior, que era de 2,1%.
O relatório aponta que a melhora nas projeções de 2024 é resultado de um desempenho acima do esperado no consumo privado e nos investimentos, impulsionados pela geração de empregos e pela transferência de renda por meio de programas sociais.
O Brasil, com uma expectativa de crescimento superior à média da América Latina, que é de 2,1% para o próximo ano, se beneficia também de impactos menores das enchentes no Rio Grande do Sul.
Por outro lado, a expectativa para 2025 é menos otimista, com a previsão de crescimento do PIB brasileiro reduzida de 2,4% para 2,2%. Essa diminuição se deve principalmente à necessidade de manter juros elevados para conter a inflação, o que pode esfriar o mercado de trabalho.
As previsões do FMI estão mais alinhadas com as do governo Lula, que recentemente revisou suas estimativas de crescimento de 2,5% para 3,2%. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acredita que a economia deve crescer a uma taxa média acima de 2,5% até 2026.
Mundo
No cenário global, o FMI observa que, embora a batalha contra a inflação pós-pandemia tenha avançado, ainda existem pressões de preços. A inflação mundial, que alcançou 9,4% em 2022, deve cair para 3,5% até 2025, abaixo da média registrada antes da pandemia.
Enquanto o crescimento do PIB dos EUA é projetado em 2,8% para este ano, a Europa deve experimentar uma recuperação modesta. Nos mercados emergentes, a expectativa de crescimento permanece em 4,2% para 2024.
O FMI ressalta a importância de um “triplo pivô” para a recuperação econômica: a política monetária, que deve incluir cortes de juros; a política fiscal, com um apelo à contenção do endividamento; e reformas estruturais que aumentem a produtividade e abordem desafios sociais e climáticos.
*Com informações de IG
Evelyn Castro: ‘Sigo Jesus Cristo, e ele nunca foi de extrema-direita’

Evelyn Castro está em cartaz como Tina em “Caindo na Real”, comédia que simula um golpe de estado e o retorno da monarquia ao Brasil. Com muito humor, o filme reforça a importância da democracia em meio ao processo eleitoral para a escolha de novos prefeitos Brasil afora.
“Vivemos em uma democracia. Que a gente fique atento, vote com consciência e pensando no coletivo, sempre. Que estudemos mais. Digo isso para mim também.” afirmou Evelyn Castro
Política e religião
O Brasil vive nos últimos anos um momento de polarização política que pressiona artistas a se posicionarem publicamente. Evelyn disse nunca ter sentido a pressão por sempre ter deixado claro seus pensamentos.
“Não gosto de falar que sou como comunista. Mas imagina: eu sigo Jesus Cristo. Quem era Cristo? De extrema-direita ele nunca foi. Um cara que pensava nos pobres, justo. Eu tento seguir, porque também não falo que sigo para dizer que sou perfeitinha, não sou.” disse Evelyn Castro
Ela lamenta quem utiliza religião e prega sobre Jesus Cristo para manipular outras pessoas. “Falo de Cristo na sua essência de amor, igualdade, aceitação, não do que muitos tentam pregar. Cristo nunca excluiu ninguém. Ele ama a todos e isso engloba os LGBTQIAPN+, todos os marginalizados. Estou com essa galera.”
“Não gosto de me polarizar. ‘Ai, Evelyn, que vaselina você é’. Não gosto desse lugar. Agora, também não sou da galera que exclui, não ando com racista, machista, homofóbico.” afirmou Evelyn Castro
Reconhecimento
Evelyn celebrou a agenda cheia dos últimos anos e papéis relevantes. A atriz, que apareceu pela primeira vez na TV ao participar do reality Fama (2005), faz parte do Porta dos Fundos desde 2016, tem projetos de comédia no Multishow e na Globo, como “No Corre” e “Encantado’s”, e fez sucesso no teatro ao interpretar Tina Turner, recentemente.
Reconhecimento
Evelyn celebrou a agenda cheia dos últimos anos e papéis relevantes. A atriz, que apareceu pela primeira vez na TV ao participar do reality Fama (2005), faz parte do Porta dos Fundos desde 2016, tem projetos de comédia no Multishow e na Globo, como “No Corre” e “Encantado’s”, e fez sucesso no teatro ao interpretar Tina Turner, recentemente.

“Sou insuportavelmente pé no chão. A vida é uma roda. Tem acontecido um reconhecimento nesse momento, mas também tenho consciência de que essa roda gira. Uma hora estamos em evidência, depois dá uma acalmada. Faz parte do trabalho. Esse reconhecimento vem a partir de muito trabalho… Eu sou da mão de obra, sou da arte, do abrir e fechar cortina no teatro. Sou da arte, não sou muito celebridade. Estou feliz, claro, porque quanto mais reconhecimento, mais você consegue atingir pessoas e transmitir o que você pensa.” disse Evelyn Castro
Em destaque no longa, ela celebra maior protagonismo feminino no cinema. A atriz, na última segunda-feira (21), divulgou o filme em uma pré-estreia para convidados ao lado do filho, Juan, 10, e dos colegas de elenco: Belo, Maria Clara Gueiros, Paulo Manfrini
“Quero ver mais mulheres nesse lugar de protagonista e estrelando filmes. Tem muita mulher maravilhosa no humor.” disse Evelyn Castro.
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*Com informações de Uol
Agenda cultural da semana traz espetáculos regionais, inclusivos e com a temática Halloween

Nesta semana, uma programação cultural extensa e para todos os gostos ocupará o Teatro Amazonas e o Teatro da Instalação, e terá à frente os corpos artísticos do estado. Os espetáculos são promovidos pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa. Entre as atrações, Sarau Literário, Virada Sustentável, espetáculo do Liceu de Artes e Ofício Claudio Santoro, que celebra a acessibilidade. A dança também se faz presente nas performances da semana, em Lendas e Halloween. Confira.
No Teatro Amazonas, o sarau literário ‘Palavras em Cena’, acontece nesta terça-feira (29/10), às 16h, no hall do Teatro Amazonas. Com 20 minutos de duração, o sarau chega à sua terceira edição e terá como tema ‘Palavras que Fluem como Rios’. O evento, em celebração ao Dia Nacional do Livro (29 de outubro), explora o diálogo entre a natureza e a literatura e tem a participação do poeta e músico Celdo Braga. Classificação livre e entrada gratuita.
Ainda na terça-feira, no Teatro Amazonas, às 20h, a Amazonas Band apresenta a abertura da 10ª edição da Virada Sustentável Manaus. No repertório, a ‘Onça e o Pajé’, título da composição escrita por Jovino Santos Netto para a Amazonas Jazz, estreada no Amazonas Green Jazz Festival deste ano, além de composições que se inspiram, como ‘Passarim’, de Jobim, e ‘Ponta Negra’, de Rui Carvalho. A apresentação com duração de 1h20, traz ainda os clássicos do pop, da salsa, do latin jazz, bem como do jazz. A entrada é gratuita e classificação livre.
O espetáculo ‘Lendas’, do Balé Folclórico do Amazonas entra em cartaz no Teatro da Instalação, de terça-feira a quinta (29 a 31/10), sempre às 9h. Com 30 minutos de duração, o espetáculo voltado para alunos de escolas da rede pública, faz um resgate histórico e lúdico, inspirado na cultura e lendas amazônicas. Embasado na dança-teatro e na dança-ritual, a montagem faz um recorte de lendas como, do Curupira, Mapinguari, Matinta Pereira e tantas outras, valorizando a ligação do passado com o presente.
Na quarta-feira (30/10), é a vez dos alunos do Liceu Claudio Santoro, acompanhados pela Orquestra de Violões do Amazonas, protagonizarem o espetáculo ‘Canto Brasileiro: Ritmos e cores pela inclusão’. No palco, alunos da escola de artes, Pessoas com Deficiência (PcD) e artistas convidados, vão proporcionar ao público uma experiência artística integrada e imersiva do início ao fim. O espetáculo é voltado ao reconhecimento e visibilidade do PcD, luta contra o capacitismo e a valorização das artes.
No hall, o público desfrutará de obras artísticas sensoriais e interativas. O show tem 1h de duração e vem repleto de dança e música com a essência do repertório popular brasileiro, incluindo expressões características do Norte. Classificação livre e entrada gratuita.
Na quinta-feira (31/10), às 20h, a Orquestra de Câmara do Amazonas, o Coral do Amazonas e o Corpo de Dança do Amazonas, sobem ao palco do Teatro Amazonas com o espetáculo ‘Halloween 2024’. A direção artística e regência é de Marcelo de Jesus. Música, dança e canto, acompanham um repertório de música lendárias de filmes de terror e suspense que marcaram gerações, entre as quais, Bebê de Rosemary, O Iluminado, A Hora do Pesadelo, Drácula, O Exorcista, Walking Dead e muito mais para uma noite especial e emocionante. Ingressos à venda em www.shopingressos.com.br e na bilheteria do Teatro Amazonas. Plateia e frisas R$ 10 e demais lugares, acesso gratuito.
Microplástico é achado em quase todos órgãos, e efeitos são desconhecidos
Era 2015 quando o vídeo mostrando o calvário que uma tartaruga marinha precisou passar para retirar um canudo de sua narina viralizou na internet. Imediatamente, o objeto de plástico se tornou persona non grata em diversos restaurantes e dezenas de municípios brasileiros baniram seu uso. Mas se você acha que o canudo é o maior vilão dessa história, essa reportagem pode fazer você repensar.
Além dos macroplásticos, que são essas peças maiores, visíveis a olho nu, ainda precisamos lidar com os microplásticos, partículas minúsculas, de até 5 milímetros, que estão cada vez mais presentes em rios, oceanos e solo.
E, de acordo com a organização International Union for Conservation of Nature, 28,3% dos microplásticos presentes no oceano, por exemplo, provém de fragmentos dispersados por —acredite— pneus enquanto rodam no asfalto.
Outros 35% surgem a partir de fibras sintéticas têxteis —como poliéster e poliamida— liberadas em grandes quantidades após a lavagem doméstica
Outros 24% são provenientes de poeira das grandes cidades.
Não à toa, os microplásticos estão cada vez mais sendo encontrados no corpo humano. As pesquisas têm acendido alertas em cientistas, que se debruçam em estudos para entender:
“Se estamos expostos a essas partículas e elas estão entre nós, quais as consequências da presença delas no nosso organismo?”
“É um cenário bem complexo e assustador”, afirma Rossana Soletti, professora de embriologia e história da ciência na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). “Hoje, é possível encontrar microplástico em praticamente todos os órgãos humanos. E o desafio da ciência é entender o que eles causam e se há algum impacto negativo para a saúde”, explica.

Toneladas à vista
Em 2016, o Fórum Econômico Mundial de Davos soltou uma previsão sombria: até 2050, os oceanos teriam, em peso, mais plásticos do que peixes.
Já a Unep (United Nations Environment Programme, ou Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) afirma que, hoje, podem existir até 199 milhões de toneladas de plástico nos oceanos.
Se pensarmos que cada unidade se transformará em milhares de micropedacinhos em algumas centenas de anos (os plásticos demoram, em média, 400 a 600 anos para se decompor na natureza), a quantidade de microplásticos presentes nos oceanos se torna gigantesca.
Um estudo, realizado na Austrália, atesta que, até 2019, havia mais de 170 trilhões (sim, com “t”!) de partículas plásticas flutuando pelos oceanos.
Embora assustador, a quantidade está bem abaixo do volume de material plástico produzido e descartado pelo ser humano. “Esse dado intrigou os cientistas”, afirma o biólogo e geocientista Marcelo Soares, professor do Instituto de Ciências do Mar da UFC (Universidade Federal do Ceará).
“A conclusão a que se chegou é de que essas partículas estão se acumulando como sedimentos no leito do oceano ou sendo consumidos e entrando na cadeia alimentar de organismos aquáticos”, afirma.
O fenômeno, chamado de “missing plastic paradox” (“paradoxo do plástico desaparecido”, em tradução livre), levou alguns especialistas a teorizarem se não estamos criando uma espécie de “ciclo do plástico” na Terra —semelhante ao ciclo do carbono, em que uma mesma molécula desse não metal é reciclada pela natureza e faz parte de ciclos geológicos e biológicos no meio ambiente e entre os seres vivos.
Atualmente, estima-se que existam cerca de 14 milhões de toneladas de plástico no fundo do mar —e o material chega até lá principalmente pela presença humana nas praias. É o que mostrou um estudo, realizado por Soares e outros pesquisadores de universidades brasileiras e internacionais, sobre os padrões de poluição plástica ao longo da costa do Brasil.
O trabalho, publicado em 2023 no periódico Science of the Total Environment, mostrou que as praias turísticas ou mais próximas de centros urbanos concentram as maiores taxas de poluição plástica. Os prejuízos não incluem apenas o acúmulo físico do resíduo em si —que pode prejudicar as formações de corais, por exemplo— como também para a vida de organismos como moluscos e crustáceos, que acabam ingerindo essas partículas como se fossem alimento.

O caminho até nós
Uma vez que se torna alimento de algumas espécies animais, fica difícil parar o alcance dos microplásticos.
“Nós estamos, literalmente, comendo essas partículas. Eles são engolidos por peixes, absorvidos pelas plantas e nós consumimos isso. É a sequência da cadeia alimentar.” afirmou Danila Soares Caixeta, bióloga e professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso).
Caixeta lembra que, além da decomposição de peças maiores, outra forma importante de contaminação dos oceanos ocorre por meio da água dos rios, que carregam resíduos de esgoto industrial e doméstico. “As estações de tratamento que possuímos hoje não têm um sistema de filtragem que consiga reter essas partículas presentes no esgoto urbano”, afirma.
Além dos plásticos maiores, fibras têxteis, microesferas cosméticas e partículas que se soltam de pneus (e incluem polímeros como o polibutadieno) estão entre os materiais que acabam nos rios com maior frequência em centros urbanos. No caminho para o mar, a contaminação por microplásticos ainda faz outra vítima: o solo, incluindo aquele utilizado para agricultura.
Ali, além de serem absorvidos por plantas que seguirão para o nosso prato, os microplásticos prejudicam o equilíbrio existente abaixo da terra ao alterar a densidade e até sua capacidade de reter água. “Tudo isso terá impacto na microbiota do solo, ou seja, nas bactérias que vivem ali, que irá perder sua diversidade”, afirma o engenheiro ambiental Luís Fernando Amato Lourenço, pesquisador do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP e bolsista da Fapesp.
Segundo ele, alguns vegetais, como determinados tubérculos, precisam da ajuda de bactérias para crescerem e se desenvolverem de forma plena. “Sem essas bactérias, a planta não se desenvolve tão bem ou não é capaz de reter tantos nutrientes”, explica. Ou seja, além de estarmos comendo plástico, nós provavelmente também estamos produzindo alimentos com menor teor nutricional.
Prejuízos à saúde não são claros
Não são poucos os estudos mostrando até onde os microplásticos podem chegar no corpo humano. Cérebro, pênis, placenta, pulmão e coração são só alguns dos locais em que eles foram descobertos.
A pergunta seguinte é óbvia: o que isso significa?
“Nós ainda não temos uma resposta”, afirma Eliseth Leão, pesquisadora sênior do Hospital Israelita Albert Einstein e professora do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo. “Já estabelecemos que os microplásticos têm a capacidade de entrar nos tecidos, nos órgãos, mas ainda precisamos de anos de mais dados para estabelecer a presença deles como causa de doenças”, avalia.

Os indícios mostrados pelos estudos que já existem, no entanto, não são otimistas. Um recente trabalho feito por pesquisadores do Novo México, por exemplo, mostrou que havia um grande acúmulo de microplástico —maior do que o considerado “normal”— no cérebro de pacientes que morreram em decorrência de Alzheimer. A pesquisa, que ainda está em fase pré-print (ou seja, não foi revisada por cientistas não ligados ao estudo) e feita com uma amostragem de dados pequena, não é considerada conclusiva.
Já outro estudo, publicado no The New England Journal of Medicine, conseguiu detectar a presença de microplásticos em placas de gordura que se acumulam em artérias (chamadas ateromas). A conclusão do estudo é de que esses indivíduos têm maior risco de sofrer infarto, AVC e morte.
No caso das análises que envolvem a fertilidade humana, um dos desafios é conseguir amostras para pesquisa. “No caso de embriões e fetos humanos, por exemplo, isso é quase impossível”, afirma Rossana Soletti.
Por isso, diz ela, hoje muitas pesquisas são feitas utilizando modelos animais como camundongos, aves e peixes para entender o que a exposição aos microplásticos pode causar na reprodução deles. “Praticamente todos os estudos existentes, e são centenas, observam algum efeito”, lamenta a pesquisadora. “Em quase todos, podemos ver alterações em enzimas ou genes, ou ainda pequenos defeitos na formação de embriões, que também se tornam menos viáveis”, afirma.
O próximo desafio é saber se esses achados podem ocorrer de forma semelhante entre os humanos.
Outro grande problema dos microplásticos é que eles podem carregar outros contaminantes. “O plástico em si não é um material tóxico”, afirma Cassiana Montagner, professora e pesquisadora do Departamento de Química Analítica do IQ-Unicamp (Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas).
“O problema é o que eventualmente se grudou a ele depois e que pode se soltar a qualquer momento”, afirma. Um exemplo disso são os metais pesados ou poluentes orgânicos que, mesmo banidos para uso há décadas, ainda persistem no meio ambiente.
Montagner cita ainda outro exemplo de químicos que podem prejudicar a saúde, a dos aditivos químicos utilizados para melhorar ou potencializar as aplicações dos polímeros em geral no nosso dia a dia. “Uma cadeira esbranquiçada, por exemplo, já degradou o suficiente para que parte do seu corante tenha se soltado”, exemplifica. “É uma forma didática que usamos para mostrar que, assim como a tinta, outros compostos presentes nesse plástico também já podem ter se soltado”, explica.
Nesse cenário, além dos possíveis efeitos da presença dos microplásticos, tem-se também os problemas que esses poluentes podem causar à saúde, como aumento da incidência de câncer e alterações endocrinológicas. “Mas não sabemos ainda qual a quantidade a qual devemos estar expostos para termos esses problemas”, avalia a especialista.

O que podemos fazer para reverter?
Os especialistas entrevistados por VivaBem foram unânimes: a situação dos microplásticos é urgente e reduzir a produção e o consumo desse tipo de produto é a única forma de começar a resolver a questão. Atualmente, a Unep estima que sejam produzidos mais de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos anualmente no mundo.
“Estamos falando de toneladas e toneladas de plástico sendo despejadas na natureza todos os anos”, afirma Montagner. “É uma quantidade muito além da capacidade que o meio ambiente tem de degradar esses materiais no tempo que eles levam para se decompor”, aponta ela.
Na prática, no entanto, a resposta está longe de ser tão simples. Isso porque o plástico é muitas vezes fabricado a partir do petróleo (ou seus subprodutos), o que significa que implementar mudanças culturais e políticas públicas para reduzir o consumo esbarraria nos interesses da indústria petrolífera, conhecida por movimentar muito dinheiro e por seu enorme poder de lobby mundo afora.
E até os plásticos biodegradáveis, como as sacolas feitas a partir da cana-de-açúcar, podem ser uma cilada. “Esse tipo de material pode ser biodegradável em uma condição de aterro, ou seja, vai se decompor mais rápido em uma situação específica, mas não no asfalto, por exemplo. E ainda pode gerar microplásticos”, alerta Montagner.
Diante desse cenário, criar alternativas está se tornando cada vez mais urgente. Uma delas que vem sendo estudada é desenvolver polímeros mais sustentáveis e que não criem microplásticos ao se decompor.
Recentemente, pesquisadores da Universidade da Califórnia San Diego desenvolveram um tipo de plástico biodegradável a base de algas que se decompõe em menos de sete meses e não deixa microplásticos como resíduos. A descoberta foi publicada no periódico Scientific Reports, da Nature.
Outra alternativa é a já conhecida reciclagem, processo que tem limitações, como a quantidade de vezes que o plástico pode ser reciclado e reutilizado para garantir a mesma qualidade e confiabilidade do produto final.
Atualmente, estima-se que menos de 10% dos resíduos plásticos gerados no mundo passem por reciclagem.
“Alternativas são sempre bem-vindas, mas nada se compara a repensar o uso”, afirma Montagner. Para ela, por muitos anos as pessoas pensaram apenas nas possibilidades que o plástico poderia trazer para a vida moderna e pouco se investiu no destino deles após esse uso.

“Agora que isso se tornou um problema sanitário, uma preocupação para a saúde humana, as pessoas estão enxergando com mais facilidade que o uso excessivo é um problema.” afirmou Cassiana Montagner, professora e pesquisadora da Unicamp.
Para Soletti, é necessário implementar políticas públicas e leis que regulamentem o uso de plástico na sociedade —especialmente os de uso único—, além de readequar nossos hábitos. “Não há mais como continuar usando o plástico nesse ritmo”, acredita.
*Com informações de Uol
PT debate sua crise: ‘Precisamos de diálogo com quem não é de carteira assinada’
As eleições municipais chegaram ao fim com resultados ambíguos para o partido que comanda o país: o Partido dos Trabalhadores (PT) . Se por um lado, a legenda registrou um aumento no número de prefeituras comandadas em comparação com 2020 – e, à diferença de quatro anos atrás, conquistou até uma capital, Fortaleza -, por outro, viu rivais do Centrão e da direita bolsonarista ampliarem a quantidade de prefeituras que comandarão a partir de 2025.
O PT venceu em 252 municípios em 2024, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma alta de 38% em relação a 2020. Mesmo assim, está consideravelmente distante do pico obtido pelo partido em 2012, quando conquistou 624 cidades.
Em meio a este cenário, especialistas em Ciência Política foram ouvidos para analisar quais os fatores que levaram o PT a obter o resultado eleitoral deste ano e quais os desafios a sigla deverá enfrentar em breve, se quiser se manter competitiva no cenário nacional.
Dentro do partido, não há consenso sobre o diagnóstico do que aconteceu e quais serão os próximos passos, mas as lideranças ouvidas pela reportagem concordam que o PT precisa, de forma urgente, adotar novas estratégias para ampliar sua base eleitoral.
Um foco é, segundo eles, conquistar uma faixa importante do eleitorado composta por quase 30 milhões de trabalhadores autônomos, especialmente os que moram nas periferias das grandes cidades, que atuam na informalidade e que estariam mais alinhados a candidatos de direita.
Os entrevistados também disseram que o PT poderá ter que modular o seu discurso e sua política de alianças diante do que parece ser um evidente movimento do eleitorado brasileiro em direção à direita.
Ecos da Lava Jato
O professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto explica que a conturbada história recente do PT é um dos elementos que explicam os resultados modestos obtidos pelo partido nestas eleições.
O mesmo partido que venceu cinco das últimas seis eleições presidenciais no país também foi um dos principais alvos da Operação Lava Jato, que culminou com a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e preso por crimes como lavagem de dinheiro.

Antes disso, o PT ainda cambaleava após o impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff.
Segundo Couto, apesar de ter voltado à Presidência da República e ter tido um tímido aumento no número de prefeituras neste ano, o PT ainda não teria conseguido se recuperar dos impactos negativos dessa sucessão de crises vividas nos últimos anos.
“O problema do PT não está tanto nestas eleições. Ele está na eleição de 2016, que foi o ano do impeachment, do aprofundamento da recessão causada pela política econômica do governo de Dilma, e foi o ápice da Lava Jato”, disse Couto à BBC News Brasil.
“Naquele ano, o PT perdeu 60% dos seus prefeitos e vereadores país afora. Ele tomou um tombo no plano municipal e ainda não conseguiu se recuperar disso”, seguiu.
A petista Marília Campos, prefeita reeleita de Contagem, cidade mineira com 621 mil habitantes, tem diagnóstico semelhante ao de Cláudio Couto. Em entrevista à BBC News Brasil, ela admitiu que precisou enfrentar uma grande dose de “antipetismo” durante sua campanha à reeleição.
“Tivemos um desgaste desde a Operação Lava Jato, uma satanização do PT”, disse.
“Claro que houve uma conspiração e uma construção política e cultural contra o PT, mas [essa rejeição] também é em função dos erros que a gente teve. Muitas lideranças nossas erraram […] tudo isso criou uma decepção, especialmente no setor de classe média. E aí a base do PT se fragmentou.”
Para ela, a sigla enfrenta hoje duas questões principais: a polarização nacional e o antipetismo.
O deputado federal e candidato derrotado à Prefeitura de Belo Horizonte, Rogério Correa, concorda com a ideia de que o passado recente do partido ainda o prejudica nas urnas.

“Essas dificuldades que temos vêm de um tempo atrás. O PT foi muito perseguido. Havia gente que dizia, inclusive, que o PT ia acabar. Hoje, o partido está num processo de recuperação. Já tivemos momentos melhores? Com certeza”, reconhece o parlamentar que ficou em sexto colocado no primeiro turno das eleições na capital mineira, com apenas 4,37% dos votos.
A crise do discurso
Mas, para além dos estragos causados pela Lava Jato, especialistas ouvidos apontam que o PT enfrenta também outro tipo de crise: a perda da conexão com segmentos da população que, no passado, seriam vistos como eleitores cativos do partido.
Cláudio Couto afirmou que, quando surgiu, o PT dizia defender os trabalhadores explorados pelo sistema capitalista e que precisariam de uma representação política.
O professor disse, no entanto, que desde o surgimento e ascensão do PT, o país e o mundo viveram mudanças profundas no mercado de trabalho.
Atualmente, segundo ele, uma parcela relevante dos moradores das periferias das grandes cidades não se sentiria representada por um discurso vinculado à luta sindical uma vez que, boa parte desses trabalhadores vivem na informalidade.
“Talvez a questão mais central para o PT seja esse discurso voltado àqueles moradores das periferias das cidades e às populações de mais baixa renda, mas que se enxergam como empreendedores”, disse o cientista político.
Segundo ele, esse público manifesta um desejo crescente por um Estado menos burocrático e mais favorável aos pequenos negócios, sem prescindir dos direitos sociais.
“O PT ainda não conseguiu adaptar o seu discurso e oferecer soluções para essas aspirações”, disse.
Marília Campos diz ter uma leitura semelhante sobre o assunto.

“Outra questão que eu acho fundamental é o PT ter um diálogo com quem não é de carteira assinada. Nós não podemos só conversar ou defender um país apenas para os que têm carteira assinada”, diz ela.
“Nós temos hoje um segmento cada vez maior, que é empreendedor, que é pequeno empresário, que é autônomo e qual é a nossa política para esse segmento?”, segue a petista.
Couto diz que essa mudança no perfil dos moradores das periferias já havia sido detectada pelo próprio partido em 2017, quando a Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, lançou um estudo que já apontava nesta mesma direção.
O estudo “Percepções e valores políticos nas periferias de São Paulo” delineava parte do que Couto, Marília Campos e outras lideranças do PT vêm repetindo.
“No imaginário da população não há luta de classes; o ‘inimigo’ é, em grande medida, o próprio Estado ineficaz e incompetente. Abre-se espaço para o ‘liberalismo popular’ com demanda de menos Estado”, diz um trecho do estudo.
Segundo Couto, apesar de ter o diagnóstico diante de si, o PT não tomou as medidas necessárias para se adaptar a essa nova realidade.
Uma das consequências, apontam pesquisas, é uma maior tendência deste público a apoiar partidos e candidatos de direita.
Em 2023, por exemplo, o instituto Datafolha divulgou uma pesquisa encomendada pelas redes de transporte e entrega por aplicativo Uber e IFood que apontava que 40% dos entregadores entrevistados diziam ser de direita enquanto apenas 20% diziam ser de esquerda. Os 40% restantes diziam ser de centro.
Essa dificuldade em mudar o tom do discurso já começa a ser reconhecida até pelos mais altos escalões do partido.

Na semana passada, a presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, tentou explicar o motivo dessa dificuldade de adaptação da legenda durante uma entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo e ao advogado Walfrido Warde.
“A formação do PT veio deste núcleo de trabalhadores, sindicalizados e organizados […] Isso sempre ficou muito arraigado no PT, nas lideranças do PT e na cabeça do presidente [ Lula] […] Essa mudança que a gente teve da sociedade foi se dando num processo em que a gente estava saindo do governo, combalido, pensando em nós mesmos, na nossa sobrevivência e não nos dedicamos a fazer discussões mais aprofundadas”, disse Gleisi.
Marília Campos apontou, ainda, o que ela considera outro problema do PT que o afastaria de uma camada significativa do eleitorado: o discurso em torno das pautas identitárias.
As chamadas pautas identitárias são aquelas baseadas nos interesses de grupos sociais com os quais cidadãos se identificam, normalmente são associadas aos direitos de minorias como a população negra, os povos originários e a comunidade LGBTQIA+.
“De uns tempos para cá, nesse processo de fragmentação, o PT adotou um discurso muito identitário que dialoga com algumas bolhas. Isso tirou muito a capacidade do PT de dialogar com a cidade e com o país de uma forma geral”, afirma ela.
“Nesse processo de reconstrução do partido, a primeira questão é adotar um discurso universalizante, onde a gente defenda, sim, a luta em defesa da igualdade social […] mas todas essas lutas segmentadas fazendo parte de uma luta mais universal”, defendeu a prefeita.
Dilema existencial: rumo ao centro?
Em meio a esse cenário intrincado, uma questão que parece se impor ao PT é: quais as saídas para a sobrevivência do partido?
Formado por diversas correntes ideológicas, a sigla passará por eleições internas em 2025. Gleisi Hoffmann, que está no comando da legenda desde 2017, tem dito que a necessidade de o partido atualizar seu discurso para se aproximar de segmentos como motoristas e entregadores por aplicativos e a população evangélica serão temas de debates internos numa tentativa de o partido voltar a dialogar com este público.
Do lado de fora do PT, analistas indagam se o futuro do partido não passaria por uma guinada ao centro, a julgar pelas posições que teve de adotar no segundo turno.

O PT oficializou apoio a adversários de bolsonaristas em Belém (PA), Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB) e Palmas (TO). Nestas quatro cidades, a legenda se posicionou a favor de candidatos de centro e de centro-direita contra candidatos do PL.
Em Goiânia, o PT, que ficou de fora do segundo turno, não declarou seu apoio a nenhum candidato, mas passou a fazer campanha contrária ao candidato bolsonarista Fred Rodrigues (PL), que perdeu a disputa da prefeitura da capital de Goiás para Sandro Mabel (União Brasil).
Para Marília Campos, do ponto de vista eleitoral, o PT precisará rever suas estratégias e considerar, cada vez mais, nomes mais ao centro em disputas estaduais, por exemplo.
“Aqui em Minas Gerais, por exemplo, a gente precisa de um projeto viável do ponto de vista eleitoral e de governança. E para que isso seja atingido como objetivo, nós precisamos de uma candidatura que tenha o perfil do centro, não da esquerda como eu represento”, afirmou a prefeita.
Marília, que se elegeu em uma campanha que apostou na “despolarização” entre Lula e Bolsonaro, deixando o presidente petista de fora, diz que o partido deve evitar essa dualidade no futuro.
Mas a ideia de uma ida mais ao centro, no entanto, não é consenso dentro do partido.
O deputado federal Rogério Corrêa, por exemplo, disse que a legenda não pode abrir mão do debate político e de suas posições ideológicas.
“Qual é o papel do PT? Compreendendo que a extrema direita é um risco não apenas aqui, mas internacional, nós não podemos descuidar”, diz.
“Nós não podemos deixar de fazer disputa pela hegemonia no combate à extrema direita porque a direita não fará isso de forma consequente.”

Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Silvana Krause, alianças ao centro não são uma novidade na história do PT. Ela pontua, no entanto, que o partido precisa mostrar capacidade de adaptação a uma nova realidade.
“O PT tem sido o norte do mercado eleitoral nas duas últimas décadas, mas as direções do partido estão tendo muita dificuldade de leitura de uma nova sociedade que está despontando”, diz.
“Se o partido não tiver clareza sobre isso, terá muitos problemas no futuro. Não adianta ficar com as mesmas respostas, receitas que ele tinha nos anos 90”, afirmou a professora.
Já Cláudio Couto apontou que, embora o partido precise se adaptar às mudanças no perfil do eleitorado, há riscos se essa mudança não for bem calibrada.
“O que significa ir ao centro hoje? Talvez não seja a mesma cosa que ir ao centro em 2002”, disse o professor, mencionando a eleição em que Lula obteve seu primeiro mandato após se aliar partidos mais à direita, como o PL do seu candidato a vice-presidente José Alencar.
Couto disse que o peso do conservadorismo no Brasil tornaria uma guinada do PT ao centro mais difícil e mais arriscada.
“Hoje, falamos de outro tipo de ida ao centro. Há um peso do conservadorismo evangélico que existia lá atrás. No passado, o PT chegou a ter apoio do Republicanos, do (pastor Silas) Malafaia. Como é que vai dialogar com esses setores?”, indagou.
Couto disse que este problema não é exclusivo do PT, mas de diversos partidos à esquerda e à direita e que o risco ao buscar esse eleitor mediano é a perda da identidade partidária.
“Esse é um problema clássico, mas na esquerda, há uma grande tradição nesse tipo de movimentação. Há quem diga, inclusive, que alguns partidos se descaracterizam de tão ao centro que vão. Mas me parece que eles não têm muita opção. A questão hoje é: ir ao centro de que jeito?”, disse.
