Uma personal trainer foi condenada a 11 anos de prisão na Árabia Saudita acusada de terrorismo depois de fazer posts em redes sociais pedindo o fim do sistema de tutela masculina na monarquia. As informações são da organização de direitos humanos Anistia Internacional.
Manahel Al-Otaibi, 29, foi condenada em janeiro, e os detalhes do seu caso vieram à tona depois de um pedido de informação feito pelas Nações Unidas. De acordo com a Anistia Internacional, Al-Otaibi foi acusada por fazer posts com a hashtag “abaixo a tutela masculina” e gravar vídeos vestindo o que foi considerado “roupas indecentes”.
Em 2019, o país relaxou as restrições de vestimenta para mulheres estrangeiras, mas ativistas dizem que as mulheres sauditas ainda enfrentam condições rígidas.
Na resposta que enviou à ONU, a Arábia Saudita negou que Al-Otaibi tenha sido condenada pelos posts, e disse que ela foi acusada de atividades terroristas que “não tem qualquer ligação com seu exercício de liberdade de expressão”. A monarquia não explicou que atividades seriam essas e não deu mais detalhes.
A personal trainer foi condenada com base na lei antiterrorismo da Arábia Saudita, que vem sendo criticada pelas Nações Unidas por ser uma ferramenta legal ampla demais com o objetivo de cercear opositores.
Desde que chegou ao poder em 2017, o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman promoveu reformas em uma tentativa de revitalizar a imagem de seu país no Ocidente. Nos últimos anos, mulheres receberam permissão de dirigir, tirar um passaporte e viajar sem autorização de um homem, e pedir um divórcio. Mas elas ainda têm mais dificuldades nesse processo do que homens, e muitos outros direitos lhes são negados.
Em 2022, o governo saudita publicou uma lei que codificou muitos aspectos do sistema de tutela masculina, incluindo a exigência de que uma mulher obtenha permissão de um homem para casar, e estipulando que o marido só precisa apoiar a esposa financeiramente se ela não for “desobediente” —o que inclui, por exemplo, se recusar a ter relações sexuais “sem uma desculpa legítima”.
De acordo com a ONG Human Rights Watch, a lei ainda é vaga em outros aspectos, abrindo a possibilidade de que juízes a apliquem de forma inconsistente.
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