
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças no IOF “foram debatidas na mesa do presidente” Lula (PT), mas que a decisão de recuar foi dele mesmo, baseada em critérios técnicos. As declarações foram dadas em entrevista publicada hoje no jornal O Globo.
“Não ganho todas”, declarou Haddad, que também falou sobre sua relação com outros ministros, e que não pretende se candidatar a nenhum cargo em 2026.
Mudança e recuo no IOF
Na última quinta, o governo publicou um decreto alterando a cobrança do IOF, imposto que incide sobre uma série de transações, incluindo crédito, câmbio, contratação de seguros e negociação de títulos e valores imobiliários. O anúncio caiu mal entre investidores e fez com que a Bolsa fechasse em queda. Antes da abertura dos mercados no dia seguinte, foi publicada uma correção, que manteve zerado o imposto sobre aplicações em fundos de investimento no exterior. A previsão é que a medida aumente em R$ 18,5 bilhões a arrecadação até o final do ano.
Para Haddad, a revisão da medida foi feita de maneira adequada, e não há motivos para descrédito da equipe econômica.
“Penso que, tanto de um lado quanto de outro, mostrar determinação para fazer o que é certo e rever aquilo que pode gerar problemas para a economia brasileira são posturas que se espera de uma equipe séria.
A comunicação nunca participou dos relatórios bimestrais [reunião de avaliação como a da última quinta]. Ela é que julga a pertinência de se envolver num tema ou outro. Isso foi debatido na mesa do presidente. E o presidente convoca os ministros que ele considera pertinentes para o caso.
Não falei com o presidente [sobre o recuo]. A minha decisão foi absolutamente técnica. Foi tomada horas depois do anúncio, assim que me chegaram as informações sobre o problema. Chequei com pessoas em que eu confio para saber se aquelas informações estavam corretas. E assim que eu identifiquei que havia um problema, reuni virtualmente a equipe para redigir o ato de correção.”
Galípolo no BC
Lula criticou várias vezes o ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto pelo patamar da Selic, mas o indicado dele para o cargo, Gabriel Galípolo, levou a taxa básica de juros ao índice mais alto em quase 20 anos. Para Haddad, no entanto, a mudança é compreensível.
“Gabriel [Galípolo] não participou da elaboração do decreto nem leu o documento. A redação do ato não passa pelo Banco Central.
Ele está no quinto mês de gestão tendo que enfrentar esses dois temas: a contratação do aumento da Selic, do último Copom (Comitê de Política Monetária) do ano passado, e um problema regulatório de proporções razoáveis, que há muito não se via. Se não tivermos essa compreensão, vamos começar a atacar o Galípolo. Nós temos essa compreensão.
Ele não foi convidado para dar um cavalo de pau, porque nós sabemos a delicadeza que é lidar com a confiança das pessoas, dos investidores. Galípolo saberá fazer a transição corretamente para que haja harmonia entre fiscal e monetário.”
Lula em 2026
O ministro confirmou que tinha uma relação atribulada com o chefe da Casa Civil, Rui Costa, mas disse que as divergências já foram superadas. Ele também disse que não pretende se candidatar a nenhum cargo eletivo nas próximas eleições, mas que Lula não concorrer à reeleição “está fora de cogitação”.
“Isso já foi verdade [brigas com Rui Costa]. Acredito que no começo do governo nós tínhamos duas linhas um pouco diferentes. Mas isso foi se alinhando. Não vejo problema em divergir. A Gleisi [Hoffmann, ministra da Secretaria de Relações Institucionais] estava lá na presidência do PT e divergia. Hoje, está no governo e tem tentado ajudar. Quem não convive com a adversidade não está preparado para a vida pública.
Está fora de cogitação [o PT considerar cenário sem Lula em 2026]. Estamos a um ano do começo do processo eleitoral. É muito pouco tempo. Não vejo como nesse período rever essa provável decisão.
O presidente nunca me perguntou sobre isso [candidatura]. Mas manifestei para a direção do PT, com bastante antecedência, que não tinha a intenção de ser candidato em 2026. Não funciono assim. Para mim, fazer uma entrega é um objetivo. Estamos fazendo entregas relevantes […], são coisas que me satisfazem. A permanência no cargo tem a ver com isso.”