Foto: Agência Brasil

Durante a campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfatizou que o brasileiro precisava ter seu poder de compra reparado e afirmou que os brasileiros fariam muito churrasco se ele retornasse ao Planalto. “O povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha”, disse Lula, durante a entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, exibido em 25 de agosto de 2022.

No entanto, na prática, não foi bem assim. Em 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da inflação no país, acumula alta de 4,56%. Entre os itens que ficaram mais caros no período, destaque para a alta das carnes (21,17%). Embora o foco das críticas seja o governo, a carne bovina está em alta desde o ano passado por uma combinação de fatores, segundo especialistas ouvidos pelo Terra.

“Esse aumento se deve ao aquecimento interno da economia e ao forte crescimento (23,4%) das exportações. A alta das exportações tem a ver com o crescimento da demanda dos Estados Unidos (que tiveram problemas na produção) e da China e com a desvalorização do real, que estimulou as exportações”, explica José Ronaldo de Souza, economista-chefe da Leme Consultores.

José Giacomo Baccarin, agrônomo e um dos fundadores do Instituto Fome Zero, acredita também que o fator mais crucial que fez a carne subir foi a alta do dólar: “A nossa moeda teve uma profunda desvalorização cambial ano passado, de 27%. Provavelmente isso estimulou o comércio de carne para o exterior e puxou os preços internos.”

Especialistas apontam que a demanda interna, influenciada pela melhora no mercado de trabalho e pelos estímulos fiscais, influenciou também essa alta das carnes. José Carlos de Souza Filho, economista e professor da FIA Business School, cita mais um fator nessa combinação que pode ter elevado os preços das carnes: o ciclo da pecuária –fenômeno caracterizado por flutuações nos preços do gado e da carne, com períodos de baixa e alta, que se repetem de tempos em tempos.

Impacto da aprovação de Lula

Mesmo diante dessas fatores econômicos, o governo se vê pressionado pela população. Em resposta recente, Lula sugeriu que a população evite comprar produtos que estejam muito caros. Considerada infeliz frente à alta do preço da comida, a declaração pode ter contribuído para a avaliação negativa do governo.

Segundo pesquisa Datafolha, divulgada na última sexta-feira, 14, a aprovação de Lula caiu de 35% para 24%, em dois meses, atingindo o pior índice dos seus três mandatos na Presidência. A reprovação do governo do petista também é recorde, passando de 34% para 41%. Além da alta no preço dos alimentos, a “crise do Pix” ajudou a explicar a queda da popularidade do petista.

O levantamento ainda apontou que 32% considera o governo regular, três pontos porcentuais a mais do que em dezembro do ano passado, na penúltima pesquisa. Foram ouvidas 2.007 eleitores entre os dias 10 e 11, em 113 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

*Com informações de Terra