Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão plenária “Paz e Segurança e Reforma da Governança Global”, no Rio de Janeiro - Foto: Ricardo Stuckert / PR

Em um breve discurso realizado no segundo dia da reunião do Brics no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ignorou as ameaças de taxação de Donald Trump, mas fez leves indiretas ao presidente norte-americano ao condenar o ‘negacionismo e o unilateralismo que corroem avanços’. O brasileiro enfatizou que os países do Sul Global têm condições de liderar um novo paradigma de desenvolvimento sustentável e não serão “simples fornecedores de matérias-primas”.

“Precisamos acessar e desenvolver tecnologias que permitam participar de todas as etapas das cadeias de valor”, declarou Lula durante discurso em uma sessão do Brics sobre meio ambiente, COP-30 e saúde global.

O chefe do Executivo alertou que os incentivos dados pelo mercado vão na contramão da sustentabilidade. “Em 2024, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder US$ 869 bilhões (cerca de R$ 4,7 tri) para o setor de combustíveis fósseis. Taxonomias sustentáveis e unidades de contagem de carbono justas e inclusivas podem atrair investimentos produtivos verdes e justos”.

Ele também disse que o Brics adotou nesta segunda uma “Declaração-Quadro sobre Finanças Climáticas”, que apresenta fontes necessárias e modelos alternativos para o financiamento climático.

‘Negacionismo e o unilateralismo corroem avanços’

Em seu pronunciamento, Lula lembrou que as três convenções da Organização das Nações Unidas (ONU) adotadas no Rio de Janeiro, em 1992, colocaram o desenvolvimento sustentável no centro dos debates sobre o futuro do planeta, e que, mesmo sem o histórico de países desenvolvidos, os “membros do Brics não deixaram de fazer sua parte”.

Entre os feitos, Lula citou a luta pelo acesso a medicamentos e vacinas essenciais e aos direitos humanos de mulheres e meninas, inclusive à saúde sexual e reprodutiva. O presidente, no entanto, destacou que “hoje, o negacionismo e o unilateralismo estão corroendo avanços do passado e sabotando nosso futuro”.

“O aquecimento global ocorre em ritmo mais acelerado do que o previsto. As florestas tropicais estão sendo empurradas para seu ponto de não retorno. A Conferência de Nice, há poucas semanas, deixou claro que o oceano está febril. Uma década após o Acordo de Paris, faltam recursos para a transição justa e planejada, essencial para a construção de um novo ciclo de prosperidade.Os países em desenvolvimento serão os mais impactados por perdas e danos”, pontuou.

Lula ressaltou a importância de apostar em ações comprometidas com: combate à fome e às desigualdades socioambientais; proteção dos territórios; geração de empregos; igualdade entre homens e mulheres, e fim do racismo em todas as suas esferas.

“Nosso desafio é alinhar ações para evitar ultrapassar 1,5 graus de aumento da temperatura do planeta. Será preciso triplicar energias renováveis e duplicar a eficiência energética. É inadiável promover a transição justa e planejada para o fim do uso de combustíveis fósseis e para zerar o desmatamento. Faz parte desse desafio viabilizar os meios de implementação necessários, hoje estimados em US$ 1,3 trilhão (R$ 7,01 tri), partindo dos US$ 300 bilhões (R$ 1,6 tri) já acordados na COP-29 no Azerbaijão”, declarou o presidente.

Protagonismo da OMS

Ao final do discurso, Lula disse que é “urgente” recuperar o protagonismo da Organização Mundial da Saúde (OMS) como foro legítimo para o enfrentamento às pandemias e na defesa da saúde dos povos.

“O Brics está apostando na ciência e na transferência de tecnologias para colocar a vida em primeiro lugar. […] Não há direito à saúde sem investimento em saneamento básico, alimentação adequada, educação de qualidade, moradia digna, trabalho e renda.”

Ele afirmou que, nesta segunda, será lançada uma “Parceria pela Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas”, com ações voltadas para infraestrutura física e digital, com o objetivo de superar as desigualdades sistêmicas.

*Com informações de Terra