Foto: Ricardo Stuckert / PR

O governo Lula (PT) fecha o terceiro ano de mandato com avanços na economia e na área social, mas com dificuldade frequente no Congresso, onde, com minoria, só consegue aprovar pautas importantes depois de muito esforço.

Para a equipe econômica, o terceiro ano de mandato mostrou os sinais que Lula vem prometendo desde que assumiu. Houve queda nas taxas de desemprego, da fome e do índice de desigualdade social. A inflação —principal dor de cabeça para o governo em 2024— também recuou.

Os desafios no Congresso, no entanto, se mantiveram. Apesar de o governo pregar que os principais projetos são aprovados, a gestão tem pagado alto, em diversos vaivéns, além de sofrer sucessivas derrotas em diferentes temas.

Tudo isso deverá ser usado pelo próprio governo em 2026. As conquistas serão destacadas como carro-chefe da campanha de reeleição do presidente, ao passo que as rusgas com o Legislativo deverão impulsionar o discurso eleitoral de tentar virar o quadro na próxima legislatura.

Melhora na economia, com aumento na arrecadação

A inflação fechará 2025 no intervalo da meta. Após superar a margem de tolerância de 1,5 ponto percentual da meta de 3% desde outubro de 2024, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 12 meses fechou novembro em 4,46%. O cenário fez o BC (Banco Central) reduzir a chance de estouro da meta de 71% para 26%, com expectativa de que a inflação fechará o ano em 4,4%.

O PIB (Produto Interno Bruto) deverá ser maior do que o esperado. O BC (Banco Central) aumentou de 2% para 2,3% a expectativa de crescimento para 2025, graças a projeções mais otimistas de crescimento da agropecuária.

Em outubro, o desemprego atingiu o menor percentual registrado desde 2012, início da série histórica, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Após três meses de estabilidade, a taxa voltou a cair e fechou o trimestre até outubro em 5,4%, segundo o órgão.

A desigualdade também recuou. De 1995 a 2024, caiu em 18%. A renda média domiciliar per capita cresceu cerca de 70% desde então, alcançando R$ 2.015 em 2024, de acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com dados do IBGE.

Banco Central – Foto: Rodrigo Oliveira / Caixa Econômica Federal

Tudo isso se deu à base do aumento da arrecadação, argumentam oposicionistas. O governo teve alta na arrecadação de praticamente todos os impostos até novembro, segundo a Receita Federal. Entre eles, impostos sobre residentes no exterior, pessoa jurídica, retido na fonte, operações financeiras, PIS/Pasep e Cofins e outros.

Em outubro, a arrecadação foi a maior da história para o mês. O valor obtido pelo governo com impostos e contribuições superou em 5,6% o resultado do ano passado (R$ 247,9 bilhões) e se consolida como o maior para o mês em 30 anos. No acumulado deste ano até outubro, a arrecadação federal soma R$ 2,367 trilhões, outro recorde para o período.

A estratégia bate com o discurso de Lula. Desde a campanha de 2022, o presidente repete que “gasto com educação e saúde não é gasto, é investimento”, o que cria alta resistência no mercado, preocupado com o equilíbrio das contas públicas.

O governo não só diz que a conta fechará como argumenta que será “de forma responsável”. Com o aumento do investimento (ou gasto) com programas sociais, o resultado pode ser sentido de maneira mais rápida pela população e, consequentemente, para o eleitorado.

Sufoco no Congresso

A relação com o Legislativo segue conflituosa. Apesar de o governo pontuar que consegue aprovar suas principais pautas, os interlocutores e negociadores entre Planalto e Congresso são sucessivamente surpreendidos com pautas-bombas e votações em cima da hora.

O Congresso aprovou a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais no início de novembro. A mudança é vista como o “novo Bolsa Família” para Lula, com potencial impacto eleitoral. Também aprovou outros projetos benéficos para o Executivo, como isenção da tarifa da conta de luz e do gás.

Com minoria nas Casas, nada disso veio de graça. O governo tem sofrido derrotas para aprovar até pautas como a do IR, vista como um assunto sobre o qual nenhum parlamentar teria como de se postar contra, mesmo bolsonarista— além das bombas, como aprovação, em junho, de um projeto que incluía até R$ 30 bilhões em crédito subsidiado para o agronegócio, em meio a cobranças por corte de gastos por parte dos mesmos deputados.

Tanto Câmara quanto Senado levaram para frente pautas contrárias ao governo. Recentemente, pautaram de surpresa o projeto de lei da dosimetria no início da madrugada e votaram em sequência as cassações dos deputados Glauber Braga (PSOL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP), para equipará-los.

As ações causaram ruídos não apenas entre os Poderes, como entre seus líderes. Apesar das tentativas de aproximação com os presidentes Hugo Motta (Republicanos-PB), da Câmara, e Davi Alcolumbre (União-AP), Lula tem colecionado imprevisibilidades, o que fez com que o Planalto visse o deputado federal não só como um líder instável como também um parlamentar inseguro.

Foto: Mário Agra / Câmara dos Deputados

Lula quer mudar isso em 2026. O plano é lançar o maior número de candidatos da base possível, com foco em especial nos Parlamentos —o que inclui a maioria dos ministros— e focar no discurso eleitoral de que não adianta votar no Executivo se a escolha para o Legislativo não for do mesmo grupo. Este fenômeno, de voto no PT para o Planalto e no PL para a Câmara, é visto em todas as partes do país, em especial no eleitorado mais carente, o principal foco do presidente.

*Com informações de Uol