No Qatar, pelo equivalente a R$ 75 mil você pode comprar um filhote de leão. Ele chega em sua casa “com todos os documentos necessários para a entrega até seu endereço em Doha”, promete o atendente de uma loja pet localizada no emirado vizinho de Abu Dhabi, pelo WhatsApp. No país da Copa, o comércio de grandes felinos está em alta, ao menos entre os mais ricos.
Ter animas exóticos de estimação “é um costume na região do Golfo”, afirma o veterinário brasileiro Matheus Seixas, que vive em Doha e cuida de muitos deles. “Apesar de ilegal ainda tem pessoas que possuem esse tipo de animal. E eu como veterinário recebo alguns casos e lido com esse tipo de animal na rotina.”
Os leões bebês se tornaram um assunto na Copa do Qatar antes mesmo de a bola rolar, quando um grupo de torcedores ingleses foi convidado para brincar com um deles na casa de um cidadão qatari. O humorista Diogo Defante, repórter da Cazé TV, também interagiu com filhotes de leão em Doha durante uma transmissão ao vivo.
O vídeo viralizou e chamou atenção para o curioso hobby local. Imagens de qataris com leões, tigres e outros grandes felinos circulam na internet há ao menos uma década. Em 2012, um motorista exibiu um jaguar acorrentado no banco de um carro de luxo. Em 2016, um tigre foi filmado circulando livremente pelo trânsito de Doha. Dois anos antes, no Kuwait, uma empregada doméstica filipina foi morta após ser atacada por um tigre de estimação.
Os casos levaram o Ministério do Interior do Qatar a publicar um comunicado reforçando a proibição e alertando para o risco de manter animais selvagens dentro de casa. “Esses hobbies envolvem sérias consequências, já que a responsabilidade da pessoa que tem esses animais também abarca terceiros, como vizinhos”, afirmou a pasta no Facebook.
“Isso também contraria as leis contra aterrorizar pessoas inocentes. Esses animais não são confiáveis, já que são naturalmente selvagens, e essa natureza selvagem não pode ser modificada em cativeiro.”
Depois que crescem, os leões são encaminhados aos zoológicos locais ou a grandes propriedades no deserto. O veterinário Matheus sempre quis cuidar de grandes felinos. Quando veio trabalhar no Qatar, foi convidado a tratar um leão que havia fraturado uma das patas. Especializado em ortopedia veterinária, ele passou a cuidar dos pets de outros empresários do país.
“Eles são sim animais que podem se considerar perigosos pela capacidade que eles têm como um animal predador no topo da cadeia”, afirma o veterinário. “Mas podem ser sim extremamente dóceis, sociáveis, amigáveis e leais. Os felinos têm personalidades, hábitos e instintos que devem ser respeitados. Não é qualquer leão ou tigre que vai te permitir ter um contato mais íntimo, assim como os gatos domésticos.
Depende muito da personalidade cada um. O mais importante de tudo para animais em cativeiro é proporcionar condições para que ele tenha uma vida saudável pra viver livre de estresse, pois o comportamento de qualquer animal é reflexo direto da forma em que ele é tratado.”
Com informações do Uol