Empresários e entidades da indústria pediram que o governo Lula (PT) focasse na negociação com os Estados Unidos e reclamaram do prazo do presidente dos Estados Unidos para aumento da taxação, hoje, na reunião do comitê de emergência. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse que pode “trabalhar neste sentido”.
“O que nós ouvimos [dos empresários] é: negociação, [ter] empenho para rever [os anúncios]”, afirmou Alckmin, após a reunião nesta manhã. Estiveram presentes representantes de entidades e empresas das áreas de aviação, aço, alumínio, celulose, maquinário, madeira, calçados, móveis e autopeças. À tarde, o governo recebe empresários do agro.
Os empresários também reclamaram do prazo de início da taxação, estabelecido por Donald Trump para 1º de agosto. “O prazo é exíguo, é curto. Nós poderíamos, de repente, trabalhar para o adiamento”, afirmou Alckmin, que disse ontem que o governo não tinha feito ainda uma proposta neste sentido.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) sugeriu estender o prazo para 90 dias. Eles haviam estimado em 110 mil as demissões que poderiam acontecer se o tarifaço for mantido. “O que temos aqui é um verdadeiro perde-perde, não faz sentido”, reclamou Ricardo Alban, presidente da confederação. “Saímos do piso [tarifário, de 10%] para o teto [de 50%] sem nenhuma motivação econômica.”
Alckmin deixou a possibilidade em aberto. “Se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar nesse sentido”, afirmou o vice-presidente.
Comitê começou a funcionar hoje
A ideia do comitê é debater alternativas e estratégias de posicionamento diretamente com os setores produtivos. A coordenação é de Alckmin, também ministro da Indústria e do Comércio, com participação dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Orçamento) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), além do Itamaraty.
Alckmin abriu a reunião refutando a justificativa econômica da gestão Trump. “Dos dez principais produtos, oito são [com] tarifa zero: não pagam nenhum imposto para entrar no Brasil, e a tarifa média de importação é de 2,7%”, afirmou o vice-presidente, questionando o argumento de que haveria déficit para os Estados Unidos.
O governo tem insistido que a decisão foi política e que as justificativas econômicas apresentadas por Trump não se sustentam. Um relatório publicado na semana passada pela Amcham Brasil revela que o superávit comercial dos Estados Unidos em relação ao Brasil alcançou US$ 1,7 bilhão. A cifra representa um aumento de aproximadamente 500% em comparação com o mesmo período de 2024.
Os encontros não se limitarão ao dia de hoje. O objetivo do governo é falar com os setores “que têm mais relação comercial com os Estados Unidos”, incluindo empresas e instituições norte-americanas.
Para isso, o governo também quer ajuda da iniciativa privada brasileira. “Foi colocado o empenho do setor produtivo para conversar com seus congêneres norte-americanos. É importante, porque repercute também nos Estados Unidos”, afirmou Alckmin.
Empresários norte-americanos também têm reclamado das tarifas. A maior entidade de empresários do mundo, a Câmara de Comércio dos Estados Unidos, se uniu à AmCham Brasil para pedir o fim das tarifas. A instituição tem hoje quase 3 milhões de associados e é um dos principais grupos de lobby do setor privado no país.
Analisando as possibilidades
As ideias devem funcionar como um plano B enquanto o Itamaraty tenta resolver a questão. Lula tem dito que o governo precisa se manter “firme” frente às ameaças, mas que, até que alguma ação seja efetivamente tomada, o diálogo e a negociação são as melhores saídas.
As soluções ainda estão sendo debatidas, mas Lula insiste que usará a Lei da Reciprocidade. Apelar para a lei está em uma das últimas opções, em caso de não avanço do diálogo com o governo norte-americano, e, por isso, só deverá ocorrer a partir de 1º de agosto, se as promessas de fato forem cumpridas. O decreto que regulamenta a lei, aprovada pelo Congresso em abril, foi publicado hoje.
Alckmin negou que o Brasil tenha feito pedido de adiamento ou redução das taxas. “O governo não pediu nenhuma prorrogação de prazo e não fez nenhuma proposta sobre alíquota, sobre percentual”, afirmou o vice-presidente. “O que nós estamos fazendo é ouvindo os setores mais envolvidos para o setor privado também participar e se mobilizar com seus congêneres e parceiros dos Estados Unidos.”
O governo avalia que os empresários podem ajudar com pressão e discurso. Setores como o agronegócio e a indústria (dois dos mais atingidos com as possíveis futuras tarifas) têm influência grande tanto com a opinião pública quanto com o Congresso. Ao alinhar o discurso, a gestão petista espera que eles ajudem na interlocução e em possíveis pressões internas e externas contra as medidas.
Lula anunciou a ideia na última quinta-feira, dia seguinte ao informe de Trump, e os detalhes foram combinados em reunião ontem. O presidente recebeu representantes de sete ministérios, do Banco Central e do Senado para debater possíveis reações e amenizar o impacto da retaliação com tarifas de 50% em um encontro de mais de quatro horas no Palácio da Alvorada.
Participaram desta primeira reunião:
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Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer;
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Ricardo Alban, presidente da CNI;
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Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo);
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José Velloso, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos);
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Haroldo Ferreira, presidente-executivo da AbiCalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados);
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Janaína Donas, presidente-executiva da Abal (Associação Brasileira do Alumínio);
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Fernando Pimentel, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção);
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Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente);
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Paulo Hartung, presidente-executivo da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores);
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Armando José Giacomet, vice-presidente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente);
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Rafael Lucchesi, CEO da Tupy;
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Giovanni Francischetto, superintendente da CentroRochas (Associação Brasileira de Rochas Naturais);
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Edison da Matta, diretor jurídico e de comércio exterior do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores);
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Cristina Yuan, diretora de Relações Institucionais do Instituto Aço Brasil;
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Daniel Godinho, diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da WEG;
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Fausto Varela, Presidente Sindifer (Sindicato da Indústria do Ferro);
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Bruno Santos, diretor-executivo Abrafe (Associação Brasileira dos Produtores de Ferroligas e Silício Mético);
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Alexandre Almeida, diretor do Rima.