O vereador que estava sem máscara é primo de Beto D'Angelo, prefeito de Manacapuru. FOTO: WALDICK JÚNIOR

Foi exonerado do cargo de gestor escolar o professor Jackson Azevedo, de Manacapuru (AM). A demissão que ocorreu nesta segunda-feira (19) marca o fim de uma briga que foi parar na Justiça. Em 25 de maio, o servidor impediu que o vereador Gerson D’Ângelo (Pros-AM) adentrasse em uma escola no município, por não estar utilizando máscara. O local estava sendo utilizado provisoriamente para sessões da Câmara Municipal. A informação é do Portal Em Tempo.

“Desde aquele dia eles tentaram de tudo para me tirar do cargo e agora isso aconteceu. Desde o dia 15 de julho deixei o cargo e hoje fui assinar minha exoneração”, conta Jackson.

No dia em que foi impedido de entrar na escola, o vereador se irritou, xingou os funcionários públicos presentes e conseguiu entrar no local mesmo sem o equipamento de proteção. Ele é irmão do prefeito de Manacapuru Beto D’Ângelo, de quem pediu a cabeça do servidor Jackson, e conseguiu.

Na última quinta-feira (15), o servidor publicou um vídeo nas redes sociais onde agradece a comunidade da Escola Municipal Zoraida Ribeiro Alexandre, de onde era gestor. “Quero comunicar a todos e todas que a partir desta data não sou mais o gestor [da escola], por conta do ocorrido em 25 de maio, em que um determinado vereador da cidade se recusou a usar máscara ao entrar na escola”, disse ele.

Caso na Justiça

Com a repercussão do caso, Jackson Azevedo foi “aconselhado” pelo secretário de Educação do Município, Raimundo Conde, a se afastar do cargo para ser aberta sindicância que iria investigar o ocorrido entre ele e o vereador.

Após o afastamento, o Ministério Público do Amazonas (MPAM) entrou com ação civil pública na 1ª Vara da Comarca de Manacapuru para pedir o retorno de Jackson ao cargo de gestor da escola em que atuava. O processo tem como partes contrárias o município e a Secretaria Municipal de Educação.

Em liminar, o juiz David Nicollas Vieira Lins concedeu o pedido, devolvendo ao gestor o cargo. Ele estipulou ainda multa pessoal de R$ 10 mil, por dia de descumprimento (a ser paga pelo secretário Raimundo Conde) caso Jackson fosse afastado do cargo.

Entenda o ocorrido

Na manhã de 25 de maio, o vereador Gerson D’Ângelo (Republicanos-AM) foi impedido de entrar em um colégio do município de Manacapuru, por estar sem máscara. O auditório do local estava sendo utilizado para sessões plenárias, já que a Câmara Municipal da cidade estava alagada pela cheia do Rio Negro.

O caso aconteceu por volta das 7h45, na Escola Municipal Zoraida Ribeiro Alexandre. Ao tentar entrar no espaço, o vereador foi abordado por um dos porteiros, que pediu a D’Ângelo que utilizasse uma máscara. Segundo testemunhas, o vereador se recusou a pôr o equipamento de proteção, mesmo com a insistência do servidor da escola.

“Ainda dentro do carro, vi o vereador gesticular com o segurança, que se aproximou do meu carro e bateu no vidro. Saí do veículo e, ao entender sobre o que se tratava, também pedi que ele colocasse uma máscara. Além de se recusar novamente, o vereador me mandou tomar ‘naquele lugar”, afirma Jackson Azevedo.

Consternado com a situação, Jackson chamou a Polícia Militar de Manacapuru, e acusou o vereador de desacato ao servidor público. Gerson D’Ângelo estava sendo assistido por populares e outros vereadores, e, por se sentir constrangido, prometeu que no mesmo dia mandaria transferir o diretor da escola para outro lugar.

Sem reposta

A reportagem entrou em contato com o Ministério Público do Amazonas, mas ainda não obteve retorno. Assim que houver informações sobre como o MPAM irá agir, esta matéria será atualizada.

Tentamos contato com a prefeitura de Manacapuru através do contato pessoal do prefeito Beto D’Ângelo e por um assessor, mas não obtivemos resposta. Não conseguimos o contato do secretário de Educação ou do vereador Gerson D’Ângelo. Em reportagens anteriores, todos se negaram a comentar o caso.