a entrevista foi levada ao ar pela Crónica TV na noite de sexta-feira (17) na abertura da terceira temporada do "Seres Libres" ("Seres Livres"), programa que aborda as histórias de sofrimento marcadas pelo vício em drogas

Foi realmente histórico. Durante quase uma hora, Dalma, a filha mais velha de Diego Maradona, detalhou todo o drama vivido pela família com a dependência química do lendário camisa 10 argentino.

Em meio a muito choro também do apresentador, o famoso ator Gastón Pauls, a entrevista foi levada ao ar pela Crónica TV na noite de sexta-feira (17) na abertura da terceira temporada do “Seres Libres” (“Seres Livres”), programa que aborda as histórias de sofrimento marcadas pelo vício em drogas.

“Esta é a entrevista que me deixa mais nervoso”, explicou Gastón, sendo tranquilizado pela própria Dalma. “Há algo muito emotivo no meio. Nesses dias eu meio que estive falando com Diego e pedindo ajuda para conduzir a entrevista.”

Hoje com 35 anos e mãe de duas filhas, Azul (1 ano) e Roma (4), Dalma explicou que não carrega mágoas pelo que viveu em casa, até pelo esforço de Diego para poupá-la de cenas mais traumáticas.

“Quando ouvia a palavra cocaína, quando criança, ficava nervosa”, contou Dalma. “Não sabia o que fazer e agora o que mais quero é tê-la longe, na minha vida e na vida das pessoas que se relacionam comigo. Não me dá curiosidade prová-la. É a história da minha vida, eu o vi sofrer e lutar contra isso, com todas as suas armas.”

“Eu lembro mais do que meu pai falava sobre a droga em si do que de cenas com ele alterado.”

O momento que a deixou mais emocionada foi o relato do seguinte episódio: “Um caso que ele conta é que uma vez ele estava no banheiro, consumindo, e eu tinha três ou quatro anos, e fiquei batendo na porta até que ele deixasse tudo para sair e falar comigo. Ele me dizia: ‘você me salvava desta maneira’.”
“Sem saber o que ele estava fazendo, até que ele não falasse comigo ou não saía dali.”

“Outra que lembro foi uma campanha contra as drogas, em que ele falava de quando começou a consumir e como era a sua vida com a droga. Eu era muito pequena, tinha seis ou sete anos, perguntei aos meus pais se eu podia ver a entrevista, minha mãe disse que não, que não era para mim, e meu pai disse que sim, que iria sair em todos os lugares, que ela poderia ler e se era assim, eu poderia perfeitamente estar com ele.”

“Nunca estive em uma situação de dizer ‘putz, que feio’. Eu não tinha momentos feios com ele. Ele se cuidava demais para não prejudicar nem a mim e nem a minha irmã. Minha mãe também me cuidava. O que sim lembro era ver algum vídeo ou outro e sim perceber que ele não estava bem.”

Sem aceitar críticas alheias

“Eu o critiquei mais que o necessário, me dei conta fazendo a minha peça de teatro [“A Filha de Deus”]. Não lembro de nenhuma vez que ele não foi a um aniversário meu, por exemplo. Ele me dizia: ‘Dalma é a que me acomoda, a que me xinga, ela me olha e sei que preciso estar bem’. Sinto muitas vezes que foi este meu papel com ele.”

“Senti que eu o defendi muito, mas não sinto como uma carga, para nada. Sigo fazendo isso. Com seus erros e suas falhas, a cada dia o admiro mais. Que ninguém venha criticá-lo.”

“Quando ele esteve internado e disseram que ele estava morto, eu tinha 15 anos e disse que era mentira. Aí assumi um papel e disse a ele que Gianinna [irmã mais nova] precisava dele.”

Gastón Pauls narrou um episódio pessoal com uma recaída, em que Maradona lhe ofereceu apoio para se restabelecer. “Meu pai tinha morrido e Diego, ali, estava desempenhando uma função realmente paterna.”

Quebra de confiança com psicólogos

“Foi muito feio quando ele começou a ir ao psicólogo e publicaram todos os diálogos”, contou Dalma, revelando tal questão pela primeira vez. “A partir daí, muitas vezes lhe custava pedir ajuda, a ajuda que ele precisava. Às vezes minha mãe conseguia ajudá-lo, às vezes não. Ele não tinha um lugar seguro onde pudesse falar sem que ninguém soubesse.”

“Quando decidi fazer terapia, ele me explicou o que tinha acontecido com ele, dizendo que, mesmo assim, ele me acompanharia.”

“Via meu pai como uma criança. Já grande, quando aparecia uma bola, a cara dele se iluminava. Nem em um garoto vi nada igual. Uma criança eterna. Ele sempre quis proteger essa criança.”

“Há saída. Ele sempre me disse: ‘foi Dalma quem me tirou da droga’. Com isso, não tenho que explicar nada a ninguém”, disse, emocionada.

“Nunca trocaria de pai, mesmo com tudo o que me implicou ser sua filha. Não acho que ele mudaria alguma coisa em ser quem foi, as coisas que aconteceram, inclusive a droga, sabendo que pode sair, com muito amor e esforço, de verdade, eu o vi lutar com tudo o que tinha.”

O final foi particularmente tocante: “Se há uma criança de seis, sete, oito anos, batendo na porta de um banheiro, com seu pai aí dentro, eu diria a ela: ‘Fique aí e bata na porta porque isso que você está fazendo serve para ajudá-lo, para melhorá-lo. Se você pode ajudar a outra pessoa, faça isso, como tentei fazer”.

Com informações do Uol