Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O dólar encerrou a quarta-feira (5), em forte queda de 2,71%, a R$ 5,755. Foi a maior perda percentual da moeda em apenas um dia desde outubro de 2022. Investidores acompanharam os desdobramentos de mais um capítulo da novela de ameaças tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, provocando a desvalorização do dólar não só frente ao real.

A divisa americana registrou perda frente a 28 das 31 moedas mais líquidas do globo. No fim da tarde de hoje, o índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas, recuava 1,34%. No Brasil, o Ibovespa, principal índice da B3, encerrou em alta de 0,20%, a 123.047 pontos.

Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, afirma que a suspensão das tarifas de importação às importações de automóveis do México e do Canadá foi “a cereja do bolo” para a queda do dólar nesta quarta-feira. Na véspera, ações de montadoras estiveram entre as maiores baixas das bolsas.

Humor melhora nos mercados

Nesta terça-feira (4), Trump seguiu em frente com seu plano tarifário e impôs taxas de 25% às importações dos países vizinhos. Além disso, o presidente também assinou ordem executiva que dobrou a tarifa de produtos chineses para 20%.

Entretanto, a Casa Branca informou hoje que as importações de automóveis do Canadá e do México ficarão isentas por um mês das tarifas impostas por Trump, melhorando o humor dos mercados.

“Conversamos com as três grandes companhias de automóveis. Vamos conceder uma isenção de um mês para qualquer automóvel que venha através do USMCA (o acordo de livre comércio da América do Norte)”, disse Trump em uma declaração lida pela porta-voz Karoline Leavitt. Essas montadoras incluíam a Stellantis, a Ford e a General Motors.

Exceções são regra

Esta não é a primeira vez que Trump dá um passo atrás ou abre exceções em sua guerra comercial. No início de fevereiro, o presidente americano adiou em um mês as tarifas impostas também ao Canadá e ao México.

Para Gomes, este novo episódio evidencia ainda mais a visão do mercado de que o republicano utiliza as tarifas como forma de barganha na relação com os outros países.

Bolsa sobe

A alta do Ibovespa foi acompanhada por uma liquidez mais baixa, com pregão reduzido após dois dias sem negociações por conta do feriado do Carnaval.

O índice foi beneficiado pela performance dos juros futuros, que tiveram alívio diante da queda do dólar, além de corrigir a alta vista na última sexta-feira. Para Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, a expectativa de que o Brasil não será alvo direto das tarifas de Trump neste primeiro momento acaba ajudando a Bolsa brasileira.

O Ibovespa também foi impulsionado pela alta da Vale (VALE3). A mineradora subiu 0,80%, descolando-se da queda do minério de ferro na Bolsa chinesa de Dalian.

Na ponta negativa, as ações da Petrobras terminaram entre as cinco maiores perdedoras do pregão, pressionadas pela queda das cotações de petróleo. Petrobras ON (PETR3) cedeu 4,61% e PN (PETR4) caiu 3,65%.

Instabilidade vai continuar

No entanto, o analista deixa claro que a permanência das alíquotas para outros produtos e para a China mantém o cenário de incertezas globais. Somado a isso, as retaliações promovidas pelos países afetados também aumentam as tensões.

Após a confirmação das tarifas sobre importações de China, Canadá e México, ontem, os governos dos três países anunciaram medidas em retaliação, acirrando a guerra comercial.

As primeiras foram divulgadas por Pequim. O país impôs tarifas de 10% e 15% sobre alimentos dos EUA, como soja, trigo, frango e carne bovina, e apertou o cerco sobre 15 empresas americanas, que irão precisar de permissão especial para comprar bens chineses. Outras dez tiveram suas exportações bloqueadas para a China.

Já o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, instituiu uma taxação recíproca de 25% sobre os produtos americanos. Claudia Sheinbaum, presidente do México, pretende detalhar as medidas que vem estudando contra os EUA no domingo.

Com informações de O Globo