As cobras peçonhentas cumprem importante papel no equilíbrio ecológico e colaboram com a ciência - Foto: Reprodução

As serpentes estão entre os animais peçonhentos que mais matam no País, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Em 2024, foram registrados 132 óbitos, entre 31.517 notificações envolvendo serpentes em todo o Brasil. Neste ano, até março, foram contabilizados 24 óbitos de 4.498 notificações.

Os números são do Centro Nacional de Inteligência Epidemiológica (CNIE) do Ministério da Saúde, a partir de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Importantes para o planeta

Obviamente que, mais do que os números dos casos descritos acima, as serpentes cumprem importante papel no equilíbrio ecológico e colaboram com a ciência.

Sabe-se que a peçonha das serpentes tem potencial terapêutico contra doenças parasitárias, câncer, hipertensão, doenças neurodegenerativas e outras.

Os ataques de cobras ocorrem e, segundo especialistas, em duas situações: quando se sentem ameaçadas e para conseguir alimentos.

Nos casos de ataques a humanos, conseguir identificar a espécie da serpente pode ajudar na eficiência do atendimento médico.

E é possível saber se a serpente é peçonhenta ao observar suas características? Sim, na maioria dos casos, dizem os especialistas do Butantan.

Corais e outras

De acordo com o biólogo Francisco Franco, pesquisador do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan, dentre as várias famílias de serpentes, a Elapidae e a Viperidae são as duas que se destacam por conterem as serpentes com peçonhas mais poderosas e com aparelho inoculador mais eficiente.

O aparelho inoculador é a estrutura que animais peçonhentos utilizam para injetar veneno nas suas presas ou agressores.

E nestas duas famílias estão as serpentes peçonhentas com interesse médico, segundo ele. Ou seja, nestas famílias estão as cobras que produzem e podem injetar toxinas que causam sérios danos à saúde humana.

“As nossas conhecidas corais-verdadeiras pertencem à família Elapidae. Por sua vez, as jararacas, cascavéis e surucucus pertencem à família Viperidae”, explica.

Na família Elapidae, das corais-verdadeiras, aparecem as serpentes que apresentam maxilares relativamente mais curtos.

Muito conhecida pela população brasileira, as cobras corais têm a pele desenhada por listras que intercalam preto, vermelho e branco, sendo que algumas espécies da região amazônica também apresentam listras amareladas.

Foto: Freepik

Possui um veneno de alta toxicidade que afeta diretamente o sistema nervoso. De acordo com o Instituto Butantan, se uma pessoa é picada, os primeiros sintomas são dormência no local, visão turva e dificuldade na fala. Porém, aos poucos, a peçonha começa a afetar o restante do sistema nervoso, provocando paralisia de músculos importantes, como coração e diafragma.

“Como as presas das corais não são tão grandes quanto às Viperidae e o maxilar também não é tão móvel, elas, de modo geral, não são capazes de desferirem botes efetivos, necessitando morder para inocular a peçonha”, pontua o biólogo Francisco Franco

Como identificar as outras

Já no caso das serpentes peçonhentas da família Viperidae – que são as jararacas, cascavéis e surucucus – elas podem ser identificadas por meio da fosseta loreal, que é uma espécie de buraco que fica entre a narina e os olhos das cobras e funciona como um termômetro usado para identificar uma presa ou um predador pelo calor que emitem.

Por isso, em muitos lugares, essas serpentes são chamadas de “cobras de quatro ventas”. As corais verdadeiras são uma exceção a essa regra, pois não possuem fosseta loreal.

As que mais causam acidentes

No Brasil, as cobras que mais causam acidentes, de acordo com os especialistas do Butantan, são as jararacas, jararacuçus, urutus, entre outras, porque estão presentes em grande número no território nacional.

Sua letalidade, porém, não chega a 0,3% – ainda que o veneno cause uma reação muito forte no local da picada que pode até levar à amputação do membro.

As que possuem o veneno mais potente são as corais, mas elas não causam tantos óbitos por conta do seu comportamento que, na maioria das vezes, é fugir ou se esconder. Ela só vai atacar se for agarrada ou pisada.

Outro motivo dos acidentes serem em números baixos é a falta de efetividade do bote da coral por conta da sua dentição, que é fixa – ou seja, para injetar o veneno, ela precisa que a mordida seja feita completamente.

Sem contar que essas serpentes são menores e têm muito menos veneno para injetar. Em outras palavras, mesmo que o veneno seja mais potente, a quantidade injetada é muito menor.

Foto: Foto: City of Portsmouth College / Divulgação

Comparativamente, as cascavéis, apesar de possuírem um veneno menos potente do que as corais, são mais letais, pois devido à mobilidade da dentição e à precisão do bote conseguem frequentemente injetar grande quantidade de veneno.

O que fazer em caso de acidente

Após um acidente com cobras, o paciente deve ser tranquilizado e removido para o hospital ou centro de saúde mais próximo.

Se for seguro e possível, é bom fazer uma imagem da serpente para sua identificação.

O local da picada deve ser lavado com água e sabão. Na medida do possível, deve-se evitar que a pessoa ande ou corra, ela deve ficar deitada com o membro picado elevado.

Não devem ser utilizados torniquetes e os especialista também orientam a não furar o local e nem tentar sugar o veneno, bem como passar qualquer tipo de substância na picada. Apenas água e sabão.

Essas medidas interferem negativamente, aumentando a chance de complicações como infecções, necrose e amputação de um membro.

O único tratamento eficaz para o envenenamento por serpente é com o soro antiofídico, específico para cada serpente. Quanto antes for iniciada a terapia com soro, menor será a chance de haver complicações.

As escolhas do soro e sua dosagem dependem do diagnóstico médico, que deve levar em consideração as peculiaridades de cada tipo de acidente.

Há muito mais serpentes não-peçonhentas na natureza e, para essas, não há necessidade de tratamento com soro. Deste modo, a soroterapia sempre deve ser indicada por um médico e a aplicação deve ser feita de acordo com a gravidade do envenenamento.

Sua administração é por via intravenosa e não deve ser feita fora do ambiente hospitalar, pois pode provocar reações alérgicas graves com necessidade de tratamento imediato.

*Com informações de IG