Foto: Reprodução / Felipe Chueng

Criado em 1998 pela quadrinista Laerte, o super-herói Overman vai ganhar uma adaptação para o cinema com distribuição da Star Distribution, da Disney. Splash visitou as gravações de “Overman” no Rio de Janeiro, em agosto, para conversar com Caco Ciocler, o responsável por dar vida ao herói nas telonas.

No longa que chega às telonas em 2024, Overman é quase gente como a gente. É cheio de inseguranças, um tanto desbocado e espera ansiosamente a sexta-feira para #sextar, mesmo sem ter dinheiro. A diferença é que tem super-poderes, muita força e sabe voar.

“Laerte criou um brasileiro comum que, por acaso, nasceu com superpoderes e no país errado. Tem essa coisa gostosa de rir da nossa própria dimensão trágica. O que seria um super-herói nascer no Brasil sem super-vilões? Não tem com quem lutar. Como ele ganharia dinheiro? Ele trabalharia onde? Viveria onde?” disse Caco Ciocler.

O herói busca desesperadamente encontrar um propósito em meio à realidade estressante da burocracia, dívidas e crises existenciais. Quando lhe é oferecido um emprego na Secretaria da Segurança Pública pelo governador (Otávio Muller), ele vê uma oportunidade de reerguer-se, mas logo descobre que as coisas são mais complicadas do que parecem.

Overman projeta em si uma expectativa muito grande, o que nós brasileiros também fazemos, avalia Caco. “A gente parece estar sempre tendo que dar conta de uma coisa maior que a gente, porque viver aqui não é fácil, a gente tem que ralar, tem que ser sempre genial. Ele se sente muito exigido, mas é uma pessoa extremamente frágil e sensível.”

O diretor, Tomás Portella, resume Overman como um super-herói que “mistura Deadpool com Macunaíma e Zé Carioca”. Ele apenas quer ser feliz, mais quer salvar o mundo, talvez. “Temos uma visão diferente, de um super-herói brasileiro que enfrenta problema para pagar o aluguel, problema com os padrões de máscara americanos. Esse filme é para ele entender quem ele é: um brasileiro over, que voa e tem uma super força, mas com conflitos existenciais o tempo inteiro. Ele faz psicanálise.”

Overman foi pensado por Laerte no final da década de 1990 e já trazia um debate contemporâneo: a investigação sobre a “questão de ser macho” já estava no trabalho genial de Laerte, opina Caco. No longa, o super-herói se incomoda quando Pâmela (Karina Ramil), sua fiel parceira, começa a ganhar reconhecimento igual ao dele.

O que é esse macho e ter que dar conta da sua macheza para os outros? Os símbolos do que é ser macho e ser poderoso, do que é ser forte, do que é ser homem. E não à toa, a Laerte cria ele com um uniforme musculoso de super-herói americano.

Apesar de Laerte pensar a frente de seu tempo, o protagonista passou por algumas mudanças no roteiro do filme. “É um Overman revisitado”, sinaliza Iafa, idealizadora e produtora do longa. Afinal, 25 anos se passaram desde que as primeiras tirinhas foram publicadas e o mundo mudou. Se na sexta-feira, o Overman de 1990 afastava as pessoas porque saía incontrolável atrás de qualquer ser para transar compulsoriamente, o Overman dos anos 2020 curte a sexta-feira sem obrigar ninguém a nada.”

“Sexta-feira é o dia que ele vai para a putaria, mas para putaria consentida, entendeu? Vai com a galera que ele curte para casa de swing, vai encher a cara” disse Tomás Portella, diretor

Melhor fase

Gravar como Overman foi divertido, mas também trabalhoso. Caco precisou “enfiar o pé na jaca”, como brinca o artista. Quando Splash chegou ao set de filmagem em Santa Teresa, zona boêmia do Rio, por volta das 19h, Caco estava estirado no sofá. Cansado após horas de gravação e de ensaiar para uma cena de quebra-quebra. Overman destrói tudo em seu loft após não conseguir fazer um origami. “Isso é muito bom para aliviar o estresse”, diz o personagem.

Caco “aprendeu” a voar para viver o personagem — em estúdio, a produção usa um cabo para colocar o ator na posição horizontal e simular um voo. Na cena em que Splash acompanhou, Overman entra em crise e liga para o governador para dizer que não quer mais fazer a segurança do Estado. Em seguida, sai voando para encontrá-lo no gabinete.

“Não imaginei fazer isso aos 52.” afirmou o ator Caco Ciocler.

Caco considera que vive a melhor fase de sua vida. Sem contrato fixo na TV — o ator esteve na Globo por mais de 20 anos —, ele pode se aventurar em trabalhos para o streaming e o cinema. O ator ainda cursa a faculdade de biologia e começa um estágio.

“Estou firme e forte. Me formo ano que vem. Esse ano começo a fazer estágio em um put* laboratório. Como concilio isso tudo? Sou um super-herói”, diz aos risos. “Tenho recebido só presentes: o ‘Overman’, o filme musical de Magal, em que tenho um número musical, outra coisa que nunca me imaginei fazendo. Parece papinho de quem está ficando velho, mas estou na melhor fase da minha vida. Tenho recebido os melhores personagens e dado conta melhor deles”, completa.

E, claro, arruma tempo para mimar a neta. “O meu filho mora em Florianópolis e ele estava aqui [no Rio] no último fim de semana. Ele chegou com a minha netinha para ver uma cena. Faltavam dez minutos para acabar a diária e.

*Com informações de Uol