
O bolsonarismo tenta se associar a um frei popstar para avançar sobre os católicos. A ofensiva conta com ferramentas testadas e aprovadas com os evangélicos: se vender como defensor do cristianismo e dos valores cristãos.
O frei Gilson reuniu 1 milhão de espectadores em uma live no início da Quaresma. O horário não ajudava, já que ela acontecia às 4h. Mas os números mostram a popularidade do religioso: são 7 milhões de seguidores nas redes sociais e 6,4 milhões no YouTube.
A dimensão da live chamou a atenção de militantes políticos. Trechos de outras missas foram recuperados. “Essa é uma fraqueza da mulher, ela sempre quer ter mais […] Ela nasceu para auxiliar o homem”, diz o frei em um dos cortes.
Internautas de esquerda criticaram, enquanto políticos de direita viram uma oportunidade. Afirmaram que mais uma vez estava comprovado que a fé cristã é apedrejada pela esquerda.
A direita saiu em defesa do frei Gilson. Jair Bolsonaro (PL) declarou que o religioso é atacado por se apresentar como um “fenômeno em oração”. O deputado Evair de Melo (PP-ES) protocolou ontem um pedido de uma moção de aplausos ao religioso.
Nikolas Ferreira (PL-MG) igualou evangélicos e católicos. O deputado se adiantou a reclamações de evangélicos ao ressaltar que todos são cristãos e sugerir que sofrem o mesmo tipo de “preconceito”. Na sequência, se solidarizou e buscou a simpatia dos católicos, ao dizer que servir a Deus pode obrigar um fiel a ser mártir.
“Obviamente, sem nenhuma surpresa, começaram diversos ataques. Para quem é cristão, não foi nada mais natural você ser atacado por servir a Cristo.” afirmou Deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).
Esquerda errou, diz Janones
A esquerda mordeu a isca, na avaliação de André Janones (Avante-MG). O deputado criticou a reação de militantes da esquerda nas redes sociais por abrir margem para a direita avançar sobre os católicos.
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Ele afirmou que seguir um influenciador não significa partilhar todos os seus posicionamentos. “As pessoas que seguem o frei nem sempre concordam com tudo, mas, quando você diz que ele manipula, isso ofende os fiéis”.
O deputado defende que religião e política não devem ser misturadas. “Cada um tem que se preocupar com seu quadrado. Posso criticar no grupo do meu WhatsApp, porque não sou deputado o tempo todo. Mas esse debate não veio no bojo de um projeto, de uma discussão do Congresso”.
Contra a instrumentalização da fé
O presidente da Frente Parlamentar Católica criticou a polarização. “O que o Bolsonaro falou, o que o Lula falou, nós não estamos preocupados com isso”, disse o deputado federal Luiz Gastão (PSD-CE).
O parlamentar falou que o foco da frente é aprovar leis cristãs. Ele ressalta que o grupo é formado por deputados de diferentes partidos que defendem esse público no Congresso. O que une os deputados são as bandeiras, e não a filiação partidária.
Gastão se solidarizou com o Frei Gilson. O deputado declarou que ele não fez nada além de professar a palavra de Deus e vivenciá-la. “A palavra do frei Gilson é a palavra de Deus”, completou o presidente da frente.
Erro estratégico da esquerda
Parlamentares evangélicos consideram a situação benéfica para a direita. O senador Magno Malta (PL-ES) disse que a esquerda cria resistências entre os católicos ao criticar um frei, figura vinculada à virtude e à fé.
Ele aproveita o episódio para afirmar que ficou claro quem defende o cristianismo. Malta ponderou que as manifestações de apoio a um religioso ganham projeção quando um lado tenta destruir a reputação de um frei.
Integrante influente da bancada evangélica, Eli Borges afirmou que houve “igrejofobia”. O deputado aponta que os militantes de esquerda manifestaram falta de compatibilidade com as religiões e iniciaram uma campanha de cancelamento nas redes sociais, algo que aumenta o fosso entre cristãos e a esquerda.
Ele declarou que parlamentares religiosos não têm político de estimação. Mas acrescentou que, ao atacar um frei que prega valores cristãos, a esquerda reforça a posição de que defende o aborto e outras pautas reprovadas por evangélicos e católicos.
