Números do INPE indicam que trajetória de desaceleração é de 40% nos primeiros quatro meses deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. (Imagem: Divulgação / COP27)

O crescimento contínuo das queimadas em Boca do Acre (AM) foi de 66% em 2012, ano de aprovação do novo Código Florestal , para 88% em 2019. Os dados são do estudo realizado por cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) em parceria com outras instituições nacionais e internacionais, e divulgado nesta terça (20) na revista Fire.

O levantamento analisou, via imagens de satélite, as áreas queimadas entre os anos 2003 e 2019, em uma nova fronteira do desmatamento, no Sudoeste do Amazonas. Após o cruzamento dos dados, os cientistas ponderaram as informações acerca do clima, cobertura do solo, imóveis rurais e áreas protegidas.

“O objetivo do estudo foi fornecer uma avaliação abrangente da extensão espacial e padrões de áreas queimadas, analisando o que, onde e o quanto mudou, para poder entender o processo do fogo na região do estudo”, explica a pesquisadora Liana Anderson, uma das autoras do estudo. No período em que a pesquisa foi realizada, a área anual impactada pelo fogo variou a partir de 33 km² e atingiu pico 681 km² em 2019.

O levantamento também buscou compreender como e porquê as queimadas ocorrem.

“Observamos a importância das áreas de proteção, como as unidades de conservação e terras indígenas, pois estas servem como barreiras para que o incêndio não adentre as regiões mais preservadas da Amazônia”, disse a assistente de pesquisa Débora Dutra, que liderou o estudo, à revista Fire.

Por outro lado, as áreas de pastagens e agricultura próximo às rodovias, como a BR-317, e as rotas utilizadas para transporte de madeira do desmatamento mudam a estrutura dessas barreiras, contribuindo para que a floresta fique ainda mais vulnerável aos incêndios.

“O desmatamento tem uma relação com o fogo, pois a abertura de novas áreas expõe cada vez mais a floresta”, aponta Liana Anderson.

Segundo o estudo, a tendência de desmatamento na região teve um crescimento de 15% em 2012 para 91,60% em 2019. Houve também um avanço do desmatamento e do fogo nas áreas de florestas públicas ainda não designadas, o que aponta a necessidade de políticas públicas para garantir a conservação destas áreas.

As pesquisadoras afirmam que é possível prever um aumento significativo nos focos de fogo na região por conta do aumento do desmatamento e do processo de grilagem de terra, observado no estudo a partir do registro de imóveis rurais em áreas de florestas públicas em que ocorreram processos de desmatamento e incêndios florestais.

“Se não tivermos políticas públicas e ações de controle contra atividades ilegais, como a extração de madeira sem autorização e desmatamento, podemos esperar que esta área se torne crítica tanto pelo aumento de conflitos quanto pela perda de serviços ecossistêmicos”, ressalta Anderson.

*Com iG