Foto: Victor Moriyama

A Amazônia teve recorde de alertas de desmatamento no mês passado. Foi o pior janeiro desde 2016, quando começou o monitoramento.

Geralmente, janeiro é um mês em que o desmatamento diminui por causa das chuvas constantes na Amazônia. Mas o gráfico no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra claramente como este ano foi diferente. Os alertas de desmatamento detectados somaram 430 quilômetros quadrados – quatro vezes maior do que em janeiro do 2021.

Imagens de satélite mostram que o desmatamento está acelerando também em partes da floresta antes preservadas, como o sul do estado do Amazonas, perto da divisa com Acre e Rondônia. Na região, a destruição da floresta tem um ritmo de 420 campos de futebol por dia.

“Pode estar se construindo um novo flanco de abertura da Amazônia que vai chegar no centro mesmo da Amazônia, que é a parte mais preservada dela. Esses números de janeiro são um alerta. A gente pode estar passando por um ano que vai ser muito dramático em termos de desmatamento”, afirma Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

Pesquisadores, servidores e fiscais de órgãos como o Ibama ouvidos pelo Jornal Nacional afirmam que o desmatamento registrado em janeiro é resultado da contínua falta de ação do governo federal para conter os crimes ambientais na Amazônia. Eles apontam o desmonte da fiscalização ambiental e a postura do presidente da República como incentivos à ação de criminosos.

Um estudo do Observatório do Clima mostra que, durante o governo Bolsonaro, o desmatamento aumentou, enquanto o número de multas aplicadas pelo Ibama caiu ao menor nível da série histórica. No ano passado, os embargos de propriedades rurais com dano ambiental caíram 70% em relação a 2018, último ano do governo Temer. As apreensões, 81%.

Em 2021, o Ibama gastou R$ 89 milhões em ações de fiscalização, o que representa 41% do orçamento previsto.

Em campo, as intimidações e agressões contra fiscais têm se repetido com frequência. Em dezembro de 2021, um escritório do órgão foi incendiado em Rondônia. Em janeiro de 2022, dois helicópteros foram depredados no Amazonas.

De acordo com a associação de servidores, em fevereiro de 2019, início do governo Bolsonaro, o Ibama tinha 543 fiscais aptos para operações de campo em todo o Brasil. Agora, são apenas 168.

“E isso eu estou falando para o Brasil inteiro. Para todos os biomas, incluindo todo o mar territorial. Então, de fato é um número que não é condizente com a realidade que a gente tem de enfrentar. A gente não tem como atender o que a sociedade espera com esse número tão pequeno de fiscais”, afirma Wallace Lopes, diretor-adjunto da Associação Nacional dos Servidores Ambientais (Ascema).

O Ibama afirmou que o valor empenhado para ações de fiscalização no ano passado pode ser usado em 2022.

*Com informações de G1