A Amazônia teve em agosto de 2022 o terceiro pior mês de desmatamento em pelo menos dez anos, segundo os alertas emitidos pelo sistema Deter, do Inpe, que monitora a floresta em tempo real.
Com 1.661,5 km² desmatados no período, esta foi quarta vez no último decênio que a floresta perdeu uma área maior que o município de São Paulo (1.521 km²).
Os dados confirmam a expectativa que cientistas tinham baseada no número de focos de fogo observados no bioma, que também bateram recorde em agosto.
Os sistemas de satélites que capturam queimadas consolidam dados diariamente, enquanto o sistema para desmatamento divulga números semana a semana.
Desde que o desmatamento atingiu sua menor marca já medida, em 2012, poucas vezes a floresta viu uma combinação tão acentuada de fogo e desmate.
A ligação entre a derrubada de árvores e as queimadas é evidenciada pela localização onde esses dois fenômenos estão concentrados. Desde 2008 o Deter não registra dados anuais acima de 7.000 km²/ano de desmatamento, escala em que a floresta está atualmente.
As grandes áreas de desmate neste inverno amazônico estão concentradas sobretudo na região de Lábrea (AM) e no norte de Rondônia, no Alto Rio Madeira, juntamente com o leste do Acre.
A região conhecida como AMACRO (agrupamento das siglas dos três estados), está nos planos de expansão para um projeto de desenvolvimento regional ancorado no agronegócio. No Pará muitas áreas próximas a Santarém, também sofreram desmate.
O desmate acompanhou também os grandes focos de fogo detectados em agosto ao longo da rodovia Transamazônica, sobretudo no trecho em que ela corta o sudeste do estado do Amazonas e o leste do Pará.
Também no Pará, o fogo se combinou com bastante desmate nos arredores da rodovia BR-163 e da Terra do Meio, entre os municípios de Altamira (PA) e São Félix do Xingu (PA).
O Ministério do Meio Ambiente não emitiu ainda comentário público sobre o mês de agosto. Em comunicado na segunda-feira, o órgão destacou um recorte específico comparando outros meses.
“Em toda a Amazônia Legal, a redução no desmatamento foi de 2,16%, entre agosto de 2021 e julho de 2022, de acordo com dados do Sistema de Detecção de Desmatamentos e Tempo Real (Deter)”, afirmaram.
Apesar das pioras nas médias anuais de de desmate e fogo e de uma redução no empenho de orçamento para combater queimadas, o ministério diz que reforçou os órgãos de fiscalização.
“O Ministério do Meio Ambiente recebeu, em 2021, verba suplementar de R$ 270 milhões para reforçar a fiscalização ambiental. Além desse montante, a pasta terá um acréscimo anual de cerca de R$ 72 milhões ao seu orçamento para custear a contratação de 739 servidores para Ibama e ICMBio, representando um aumento de 18% sobre o efetivo. Além disso, 3.185 novos brigadistas atuam em atividades de prevenção e combate a incêndios florestais em todo o Brasil.”