
A extração ilegal de madeira na amazônia vêm ganhando novos contornos, revela mapeamento. No período de agosto de 2023 a julho de 2024, o estudo identificou um aumento de 44% na atividade fora da lei em áreas protegidas na comparação com o levantamento anterior.
Na contramão, a exploração em imóveis rurais, apesar de representar 53% do total registrado, teve uma queda de 39%.
Os dados da Rede Simex, iniciativa do ICV (Instituto Centro de Vida) com o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), sinalizam uma migração da atividade criminosa de exploração madeireira de propriedades privadas para áreas com status maior de proteção.
Nas terras indígenas, unidades de conservação e assentamentos rurais, a exploração ilegal aumentou, 24%, 184% e 66%, respectivamente.
De forma geral, foram 327.694 hectares de florestas nativas explorados para fins madeireiros na amazônia no período, o que representa uma redução de 10,5% em relação ao estudo anterior. Desses, 69% foram autorizados pelos órgãos competentes. Nessa fatia, a queda de atividade foi de 6%.
Já entre os cortes ilegais (31%), houve redução de 19% na área em comparação com o ciclo prévio.
O estado de Mato Grosso, que concentra 58% do total da atividade (entre legal e ilegal), segue na liderança com 6 dos 10 municípios e áreas protegidas onde foram encontradas as maiores áreas de extração não permitida. Entre esses locais, quatro são terras indígenas e duas são unidades de conservação, entre elas o Parque Estadual Tucumã, que é de proteção integral.
A pesquisadora do Imazon Camila Damasceno considera essa migração “significativa e preocupante”. “Nos chama atenção que essa madeira está sendo retirada de áreas protegidas em Mato Grosso, Amazonas e Pará, e 53% da exploração ilegal se dá em imoveis rurais, ou seja, a gente tem como chegar aos autores”, pondera.

A especialista considera que à medida que os recursos madeireiros vão se esgotando nos imóveis privados, os exploradores migram para áreas de conservação, onde há mais árvores.
Outra mudança que chamou a atenção dos pesquisadores foi a entrada do Amazonas na segunda posição dos estados com maior atividade, no lugar antes ocupado pelo Pará. Damasceno considera que a mudança envolve a “vulnerabilidade das florestas do estado”.
O Amazonas é o estado com a maior área, 118 milhões de hectares, de floresta sem nenhuma destinação. Essas florestas não constam em nenhum cadastro que atribua a elas uma finalidade, a exemplo de unidade de conservação ou local de turismo ecológico, por exemplo.
“Isso torna essas áreas vulneráveis à grilagem. Cada vez mais a gente quer que essa área tenha uma destinação, seja para turismo de base comunitária ou unidades de conservação”, justifica a pesquisadora.
Segundo Camila, a extração ilegal em áreas protegidas de uso sustentável tem reflexo socioambiental. Nessas áreas, é comum a prática de “esquentar” a madeira, ou seja, aproveitar o uso da autorização de manejo para dar uma aparência legal à madeira extraída de locais proibidos. “Aqueles madeireiros que estão fazendo a parte ilegal ameaçam as comunidades, os povos originários, suas as vidas e suas culturas”, afirma.
A jovem indígena Lawra Cinta Larga, 19, mora na aldeia Pasapkarééj, na TI (Terra Indígena) Aripuanã, que concentra a maior área de exploração ilegal. A aldeia fica no município de Aripuanã, região noroeste de Mato Grosso, a 999 km de Cuiabá. Ela conta que “a maioria dos madeireiros são da cidade e ficam escondidos na floresta tirando madeira”.
Ela é parte de uma das 250 famílias da aldeia que tem na mandioca, arroz, peixe e caças, como porco do mato e antam a base da alimentação, que considera já estar comprometida pela derrubada da floresta.
“O rio secou muito este ano, não teve peixe, e os animais sumiram. Até a castanha que a gente buscava para vender na feira, este ano, não produziu”, lamenta.
Membros do povo também integram a atividade ilegal, o que é motivo de conflito no território. “É muito triste isso. Já teve vários encontros para resolver isso na aldeia”, conta.













