Estudo revela novo ecossistema na Grande Porção de Lixo do Pacífico - Foto: Caroline Power Photography

A área conhecida como Grande Porção de Lixo do Pacífico, localizada entre a Califórnia e o Havaí, nos Estados Unidos, deixou de ser apenas um símbolo extremo da poluição nos mares. Pesquisadores descobriram que a área — antes vista como quase sem vida — passou a abrigar comunidades inteiras de animais que normalmente só sobrevivem perto da costa.

O local faz parte do giro subtropical do Pacífico Norte, um conjunto de correntes que retém objetos poluentes flutuantes por anos. Hoje, essa região concentra enormes quantidades de plástico. E é justamente esse material que tem servido como “base” para que diversas espécies — que antes não habitavam o mesmo ambiente — se instalem e se reproduzam.

Um “novo lar” para espécies costeiras

Em expedições recentes ao meio do Oceano Pacífico, pesquisadores recolheram mais de 100 peças de plástico com pelo menos 15 centímetros. Em praticamente todos eles havia animais presos às superfícies.

Entre os organismos mais comuns estavam cracas, caranguejos, anêmonas e hidroides — espécies típicas de costões rochosos e que, até pouco tempo atrás, acreditava-se que não conseguiriam viver no mar aberto.

No total, 46 espécies foram identificadas, e a grande maioria vinha de ambientes costeiros. A descoberta confirma que elas não estão apenas sendo carregadas pelas correntes: elas estão conseguindo se estabelecer ali, onde, em tese, não haveria como manter populações estáveis.

Pesquisadores encontraram indícios de ciclos de vida completos

No laboratório, a equipe encontrou fêmeas com ovos e grupos com indivíduos de tamanhos diferentes dividindo o mesmo objeto. Isso indica que os animais estão completando seus ciclos de vida no lixo plástico — ou seja, nascendo, crescendo e se reproduzindo diretamente no mar aberto — e não apenas sendo transportados até ali de forma acidental.

Redes, cordas e pedaços de plástico rígido estão funcionando como pequenas plataformas flutuantes, oferecendo abrigo e espaço para fixação. Esse ambiente favorece espécies que conseguem se reproduzir rapidamente..

Um novo ecossistema surge em pleno oceano

A presença constante de plásticos duráveis acabou transformando uma área pobre em locais de fixação para animais costeiros em um ambiente capaz de manter toda uma população da espécie.

Cientistas chamam esse cenário de um possível ecossistema no qual animais típicos do alto-mar convivem com espécies que deveriam estar restritas ao litoral.

Essa mudança preocupa os especialistas porque a presença de espécies costeiras tão longe de casa pode alterar cadeias alimentares inteiras, causar desequilíbrios ecológicos e facilitar o surgimento de espécies invasoras em regiões antes protegidas pelo isolamento natural.

Além da poluição: plástico está remodelando os ecossistemas

O estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution conclui que o impacto da poluição plástica vai muito além do acúmulo de resíduos ou do risco de ingestão por animais marinhos.

O material está criando estruturas artificiais que permitem a formação de novas comunidades em áreas remotas do oceano, que vêm se consolidando ano após ano.

*Com informações de IG