Plenária final presidida pela Presidência da COP30 neste sábado, 22 - Foto: Rafa Neddermeyer / COP30 Brasil Amazônia / PR

Publicada neste sábado, 22, a Decisão Mutirão da 30ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30) –que coloca fim à edição de Belém (PA)– foi classificada como ‘longe do ideal’ e “COP da Verdade. A não adesão formal dos países ao ‘mapa do caminho’ para o fim dos combustíveis fósseis foi bastante questionada, mas outros progressos foram reconhecidos.

A ex-enviada especial da Alemanha para o Clima, Jennifer Morgan, ressaltou que, apesar do texto final estabelecido em Belém não estar “perfeito”, o resultado representa progresso nas negociações.

“Embora longe do ideal, o resultado em Belém representa um progresso significativo. O Acordo de Paris está funcionando, a transição para longe dos combustíveis fósseis, acordada em Dubai, está se acelerando. Apesar dos esforços dos principais países produtores de petróleo para desacelerar a transição verde, o multilateralismo continua a apoiar os interesses de todo o mundo no combate à crise climática”, afirmou.

Marcelo Behar, Enviado Especial para a Bioeconomia da COP30, declarou que o documento final chamado de Decisão Mutirão retirou os povos originários da “marginalidade” e os colocou no centro das negociações climáticas.

“Acabamos de testemunhar os direitos florestais e indígenas sendo catapultados da marginalidade para o epicentro das negociações climáticas. Das três bacias florestais tropicais aos confins da Europa, líderes se uniram em torno de um novo centro de gravidade para o financiamento da natureza: o TFFF e o Earth Investment Engine”, disse.

De acordo com Behar, as delegações que possuem florestas tropicais foram finalmente ouvidas em Belém. “Os países florestais vêm reivindicando há anos uma compensação consistente pela proteção dos ecossistemas que garantem segurança climática, alimentar e hídrica para todos nós ao redor do mundo. Esta COP atendeu a essas reivindicações”, acrescentou.

Já o diretor-executivo da ClimaInfo, Delcio Rodrigues, exaltou a atuação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante as negociações da COP30.

“Marina Silva merece enorme crédito por garantir que a COP30 mantenha as ações para combater os combustíveis fósseis e o desmatamento – sem seus esforços, não teríamos chegado a um acordo aqui em Belém. Levar uma COP para a Amazônia se mostrou uma jogada inspirada do presidente Lula – o mundo viu a glória das florestas brasileiras e a rica herança de nossos povos indígenas”, elogiou.

Foto: Mayra Farias / Portal da Floresta

Charlotte Scaddan, a assessora sênior em Integridade da Informação das Nações Unidas, classificou a COP30 como a COP da Verdade, que reconheceu formalmente que o combate à crise climática é inseparável do combate à desinformação.

“A inclusão explícita da ‘integridade da informação’, ao lado da ‘COP da Verdade’, é um verdadeiro divisor de águas e uma grande vitória. Ela reconhece formalmente que o combate à crise climática é inseparável do combate à desinformação — um mandato que temos perseguido desde o lançamento da Declaração de Belém sobre Integridade da Informação em Mudanças Climáticas e por meio da dedicação da coalizão da Iniciativa Global sobre Integridade da Informação para Mudanças Climáticas (GIIICC). Essa codificação histórica não é apenas uma vitória; é o início de uma nova era para a defesa da integridade da informação e para garantir que a ação climática seja impulsionada por verdades verificáveis”.

Os especialistas do Pavilhão de Ciências Planetárias, incluindo o cientista Carlos Nobre, destacaram que apenas o fim dos combustíveis fósseis seria capaz de evitar um aumento perigoso da temperatura global.

“A verdade é que não há como evitar um perigoso aumento da temperatura global sem acabarmos com a dependência de combustíveis fósseis até 2040, ou no mais tardar até 2045. Não cumprir isso empurrará o mundo para uma perigosa mudança climática dentro de 5 a 10 anos, causando extremos climáticos cada vez mais intensos que afetarão bilhões de pessoas. Sistemas essenciais para a capacidade da Terra de sustentar nossa sociedade, como a Floresta Amazônica, os Recifes de Corais, as Calotas de Gelo, as Correntes Oceânicas podem atingir pontos de não retorno”.

Ana Luci Grizzi, especialista em governança climática e em mercados regulados, ressaltou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como um grande acerto do Brasil na conferência.

“A grande entrega brasileira desta COP foi o Fundo das Florestas Tropicais Para Sempre, que já mobiliza cerca de US$ 6,5 bilhões em compromissos internacionais e representa um mecanismo inovador de financiamento permanente para proteção das florestas tropicais. Ao contrário de modelos baseados em doações, o TFFF remunera investidores e direciona recursos para ações estruturais contra o desmatamento, fortalecendo comunidades locais e governos subnacionais. Com uma governança sólida, o fundo terá impacto direto sobre nossa NDC e consolida o Brasil como protagonista climático global”.

*Com informações de Terra