Após receber em mãos, e com um beijo na bochecha, a carta que levou dois anos para ser elaborada em articulações da Cúpula dos Povos, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago falou à multidão que marcou presença no evento simbólico deste domingo, 16. Em discurso com menos de dois minutos, após ouvir cerca de 30 da leitura do documento, ele exaltou a mobilização social, mas também relembrou a dificuldade em torno das negociações.
“O presidente Lula queria que fosse uma COP especial, uma COP em que o mundo sentisse que a sociedade civil tinha espaço, que a sociedade civil ia ter influência”, começou, dando como exemplo o ato do dia que ” fortalece de maneira incrível a posição do Brasil nas negociações”.
Na sequência, ele alertou: “E vocês sabem que é feita uma grande negociação dentro das Nações Unidas, com 195 países que têm que estar de acordo, em consenso”.
“Então é uma negociação super difícil, mas saber que a sociedade mundial tem voz em Belém é absolutamente sensacional”, complementou André, agradecendo pelo momento.
Ana Toni, CEO da COP30, também estava no palco mas não falou. Marcaram presença no evento Marina Silva, ministra do Meio Ambiente; Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas; e Guilherme Boulos, agora Secretaria Geral da Presidência da República (SGPR).
A carta de reivindicações da Cúpula dos Povos conta com 15 propostas principais, com destaques ao “enfrentamento a falsas soluções do mercado” e “transição justa, soberana e popular”. A expectativa é que, agora, André Corrêa do Lago ecoe essas vozes dentro das salas de negociação a portas fechadas na última semana da Zona Azul.
O texto, que foi lido a várias vozes, é alinhado ao discurso histórico de movimentos de esquerda, e cita o “avançado da extrema direita, do fascismo e das guerras ao redor do mundo” como o que “exacerba a crise climática e a explosão da natureza e dos povos”.
O feminismo também é colocado como parte central da carta: “Não há vida sem natureza. Não há vida sem a ética e o trabalho de cuidados. Por isso, o feminismo é parte central do nosso projeto político. Colocamos o trabalho de reprodução da vida no centro, é isso que nos diferencia radicalmente dos que querem preservar a lógica e a dinâmica de um sistema econômico que prioriza o lucro e a acumulação privada de riquezas”.
A partir disso, ainda são feitas 7 afirmações iniciais tidas como alicerces da discussão, onde o capitalismo é apontado como a causa principal da crise climática, que é ressaltado que as comunidades periféricas são as mais afetadas pelos eventos extremos e dito que são contra qualquer falsa solução.
Mais sobre a Cúpula dos Povos
A entrega da carta acontece um dia após as ruas de Belém serem tomadas pela Marcha Global pelo Clima, também promovido pela Cúpula dos Povos, que reuniu cerca de 70 mil pessoas, segundo últimas atualizações da organização obtidas pelo Terra.
O evento começou por volta de 9 horas com público reunido balançando bandeiras de movimentos, entoando gritos e cânticos. O clima era de resistência e união, com pessoas de múltiplas frentes sociais e nacionalidades emocionadas por estarem em conjunto no momento simbólico.
A Cúpula dos Povos é uma das agendas paralelas da COP30 que teve início na última quarta-feira, 12, e tem seu encerramento neste domingo. Foram dias de articulações com mais de 65 países e 1100 organizações e movimentos que levaram à escrita da carta entregue neste domingo. Por mais que esteja tendo fim o grande encontro que ficou sediado na UFPA, representantes da Cúpula também se farão presente dentro dos espaços oficiais da COP30 na última semana da conferência– que tem fim na sexta-feira, dia 21.
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