Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante declaração conjunta à imprensa no Palácio de La Moneda, em Santiago, no Chile - Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista nesta quarta-feira, 6, que não vai se humilhar diante da crise comercial e diplomática com os Estados Unidos. O petista afirmou que o presidente norte-americano, Donald Trump, tem demonstrado resistência ao diálogo. “No dia em que a minha intuição disser que o Trump está disposto a conversar, eu vou ligar para ele. Mas ele não quer conversar, e eu não vou me humilhar”, afirmou, em entrevista à agência Reuters.

Lula disse que o Brasil está disposto a negociar as tarifas impostas, mas que falta disposição por parte dos EUA. O presidente também destacou as ações diplomáticas encabeçadas pelo Itamaraty e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para tentar tratativas diretas com a Casa Branca e, ao mesmo tempo, com o empresariado americano.

“Veja que eu estou fazendo tudo isso quando poderia anunciar uma taxação dos produtos americanos. Mas eu não vou fazer porque não quero ter o mesmo comportamento que ele. Quero mostrar que, se um não quer, dois não brigam. E eu não quero brigar com os EUA”, declarou.

Apesar dos esforços diplomáticos, o mandatário admite enfrentar dificuldades para prosseguir seu plano de remediação da crise. Para Lula, as declarações de Trump sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a falta de abertura ao diálogo impedem qualquer forma de negociação.

“Nós estamos com os melhores negociadores em contato com os interlocutores dos EUA. Então, eu não tenho por que ligar para o Trump. Nas cartas e nas decisões, ele nunca fala em negociação. Só em novas ameaças”, disse.

Movimentações

Lula também afirmou que não vai se acovardar diante das intromissões vindas do estrangeiro. Por isso, a solução é buscar novos mercados compradores para os produtos nacionais e estabelecer novos acordos comerciais. Além disso, parte da estratégia é focada em remediar os problemas que já são sentidos.

“Muitas vezes, as pessoas morrem afogadas porque esquecem que o corpo humano é mais leve que a água. E muitas vezes, a pessoa começa a dar braçadas desesperadas e se cansa logo. Vamos aprender a boiar”, afirma.

O presidente indicou que a Índia é um país com potencial para estreitamento das relações comerciais e vê a possibilidade de triplicar o fluxo entre o país asiático com o Brasil. O fluxo entre as nações pode chegar a R$ 100 bilhões, segundo os cálculos do petista. “Nós não temos comprador privilegiado. Nós vendemos para quem quiser comprar”, concluiu.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos – Foto: Casa Branca / Reprodução

Consequência do tarifaço

As barreiras tarifárias impostas ao Brasil pelos EUA começam a valer nesta quarta-feira, 6, e os efeitos já podem ser sentidos. Ainda que o presidente Donald Trump tenha assinado um decreto que isenta cerca de 700 produtos, os demais itens afetados devem repassar as sobretaxas para o câmbio e para a inflação, segundo os especialistas ouvidos pelo Terra.

Como um consumidor a menos está disputando a aquisição dessas mercadorias, o preço praticado pelos comerciantes brasileiros tende a cair, acompanhando a diminuição na demanda. Segundo Juliana Inhasz, coordenadora do curso de economia do Insper, os itens que sofrerem com as novas taxas de importação ficarão mais baratos para os brasileiros.

“Alguns produtos que deixarão de ser exportados serão absorvidos pelo mercado interno, o que deve derrubar seus preços. Mas os importados devem ver um aumento devido a inflação e a desvalorização da moeda”, afirma.

Ela explica que, para além do encarecimento de alguns produtos devido às novas taxas em si, o nível geral de preços deve se elevar em razão de uma possível alta do dólar.

Inhasz diz que o câmbio deve ser penalizado pela reconfiguração da balança comercial porque a quantidade de moeda a entrar e circular no Brasil será menor. Mas, além disso, também pesam fatores mais subjetivos, como as expectativas do mercado e as reações dos investidores estrangeiros às decisões do governo.

“Num primeiro momento, o tarifaço mexe com as expectativas das pessoas. Com os primeiros anúncios, o medo era de que o câmbio e a inflação subissem com o aumento das incertezas e dos riscos”, conta. Hoje, porém, a percepção comum é a de que o tarifaço possa trazer uma diminuição da competitividade brasileira. “Isso pode levar a uma escalada do desemprego, queda na produtividade e na eficiência das operações”, conclui a especialista.

*Com informações de Terra