Imagine um barco que corre tanto, mas tanto, que não flutua na água. Ele chega a voar – só que bem baixinho, sem alcançar as nuvens. Esta espécie de nave saída de filmes de ficção científica já está em construção e promete revolucionar o transporte na região amazônica, onde as distâncias são longas e a principal via de acesso são os rios.
A inovação vem da startup Aeroriver, que criou o Volitan, primeiro veículo de efeito solo adaptado para o território amazônico. Inventado por engenheiros que se uniram no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o “barco voador”, por se locomover muito perto da água – cerca de 2 a 5 metros -, consegue um efeito aerodinâmico que o torna rápido e 40% mais eficiente em combustível se comparado a um avião comum. Ele chega a uma velocidade de 150 quilômetros por hora, sendo que um barco comum da região atinge no máximo 30 quilômetros por hora.
“Apesar de toda a importância da Amazônia, um problema nunca foi solucionado: a falta de logística adequada para o transporte de pessoas e mercadorias. Isso faz com que vários municípios no interior estejam isolados. Isso é um entrave para o desenvolvimento socioeconômico da região”, diz Lucas Guimarães, cofundador e CEO da Aeroriver, um dos criadores do Volitan.
O cenário dos transportes na Amazônia é, de fato, preocupante. Atualmente as viagens podem ser feitas de duas maneiras: barco ou avião. O barco costuma ir muito devagar – é possível demorar dias para chegar em determinadas cidades, o que dificulta diversos tipos de transporte, como o de alimentos perecíveis, por exemplo. E o avião, além de poucas rotas disponíveis, apresenta um alto custo. O barco voador pretende aliar a rapidez de um avião a valores mais acessíveis – além de menos emissão de carbono.
A empresa apresenta uma comparação interessante. Para fazer o trecho de Manaus a Parintins, duas importantes cidades do Amazonas, por via fluvial, um barco demora 18 horas para percorrer 437 km. A passagem custa cerca de R$ 140 e a emissão de carbono é de 42 kg por passageiro. De avião, o tempo é de 1 hora e 10 minutos; custa R$ 675, e são 58 kg de CO2 por passageiro. Agora vamos ao Volitan: o mesmo percurso duraria 3 horas, a um custo de R$ 300, e 36 kg de CO2 por passageiro.
O veículo terá a capacidade de transporte de 10 passageiros ou o equivalente a 1.200 quilos de carga. A decolagem e pouso serão feitos nos rios.
A Aeroriver foi destaque do Web Summit do ano passado, principal evento de tecnologia e inovação do mundo, e participa do Programa Inova Amazônia, do Sebrae, uma estratégia focada em fomentar, apoiar e desenvolver negócios inovadores alinhados à bioeconomia local. No total, o programa já investiu R$ 23 milhões em aceleração.
Em fase final de testes, o Volitan tem um custo aproximado de R$ 3 milhões e deve entrar em operação ainda neste ano. A Aeroriver já recebeu investimentos de grandes varejistas da região, além de outras 16 cartas de intenção de compra.
Com informações da coluna de Mariana Agarioni / Uol